O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Antes do dólar, IPCA cai mais de 50%

Publicado em 10/07/2024 às 15:23

Alterado em 10/07/2024 às 18:26

Antes de a escalada do dólar forçar a Petrobras a reajustar em 7,11% a gasolina e em 9,8% 0 botijão de GLP, a inflação de junho, medida pelo IBGE, foi de 0,21%, com queda de mais de 50% (54,34%) em relação aos 0,46% de maio. A inflação ficou abaixo da mediana das expectativas do mercado (0,30%) e dos 0,27% esperados pelo Itaú. Como em junho de 2023 o IPCA foi negativo em 0,08%, a taxa acumulada em 12 meses subiu de 3,93% em maio para 4,23%. O índice de preços em alta caiu de 57% em maio para 52%, a menor taxa do ano, entre os produtos alimentícios só 49% subiram.

Ao analisar o resultado, o Itaú chamou a atenção para as surpresas baixistas na alimentação em domicílio (leite e carne) e em bens industriais (automóvel novo e calçados). A gasolina, no entanto, antes mesmo do reajuste, válido a partir de hoje, teve alta de 0,64% (acima das expectativas), por pressão da alta do etanol anidro, que entra em 27% na mistura com a gasolina comum. Nos núcleos, serviços subjacentes (puxados por conserto de automóvel), e bens industriais subjacentes (influenciados por vestuário) vieram abaixo do esperado.

Na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, os serviços subjacentes desaceleraram de 5,0% para 4,4%, enquanto o núcleo de industriais subjacentes acelerou de 0,6% para 1,7% (já com impacto do dólar na cadeia industrial). Na métrica trimestral, a média dos núcleos acelerou de 3,3% a 3,4%.

Para o Itaú, “o IPCA de junho veio abaixo da nossa expectativa e com abertura benigna, especialmente em função da desaceleração dos serviços subjacentes (para o menor patamar registrado esse ano) e dos serviços ligados à mão e obra”. O banco espera “alguma reaceleração dos serviços refletindo a conjuntura de mercado de trabalho apertado, bem como aceleração de industriais em meio ao câmbio mais depreciado”.

Os desafios do 2º semestre

A pressão do dólar na virada do semestre pode contaminar preços que ajudaram a frear a especulação com preços de alimentos no 1º semestre, sobretudo após a tragédia climática do Rio Grande do Sul, a começar pelos combustíveis e os transportes urbanos.

Mas o governo deveria ter aproveitado o anúncio em dois capítulos do Plano Safra 2024-25 para reiterar a necessidade de mais apoio à agricultura familiar para conter os preços que mais sobem na mesa dos brasileiros: tubérculos (batata-inglesa) e legumes (cenoura), hortaliças e verduras e frutas.

Salvo as produções para exportação nas terras irrigadas às margens do São Francisco, é a agricultura familiar que cuida dessas lavouras, bem como as de arroz, feijão, mandioca e criações integradas de aves e ovos, e suínos (que dependem, na ração, de dois alimentos da grande lavoura já empresarial - a soja e o milho). É preciso apoio técnico e máquinas que aumentem a produtividade de lavouras que ainda dependem muito de mão de obra. Os alimentos só não subiram mais porque a baixa da carne compensou as altas.

Um exame dos produtos abaixo mostra a influência do dólar nos preços das joias e bijuterias. Outro impacto é o calendário de reajustes anuais, que influencia aluguéis e taxas de condomínio, educação, de medicamentos e planos de saúde e pode impactar o 2º semestre, com reajuste de passagens urbanas após as eleições.


OLM

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