O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Varejo mostra bússola do mercado perdida

Publicado em 11/04/2024 às 11:38

Alterado em 11/04/2024 às 11:38

Definitivamente, 2024 está servindo para indicar que a bússola do mercado financeiro anda meio desorientada sobre os rumos e tendências da economia brasileira. Ontem, o IBGE divulgou o IPCA de março em 0,16%, um tombo frente os 0,83% de fevereiro e bem abaixo dos 0,23% a 0,25% previstos pelo mercado. Nesta quinta-feira, o IBGE divulgou a Pesquisa Mensal do Comércio: em vez da queda de 0,8% prevista pela mediana do mercado, o volume de vendas do varejo restrito cresceu 1,0%. No varejo ampliado, que inclui motos, automóveis e material de construção, o avanço foi ainda maior: 1,2%.
Nos dois primeiros meses do ano as vendas foram positivas (desde meados de 2022 as vendas não engatavam dois meses seguidos de expansão) em 6,1% no volume de vendas do varejo restrito e de 8,2% no comércio ampliado, batendo recordes históricos.

A queda dos juros pode ter sido um elemento encorajador no aumento do consumo, mas ainda é um movimento tênue na ponta do crédito ao consumidor. O que parece estar fazendo mais sentido, na leitura dos segmentos que registraram crescimento fora da curva no volume de vendas é o impacto da liberação de R$ 94 bilhões dos precatórios entre o final do ano passado e fevereiro.

Muitas das condenações transitadas em julgado estão ligadas a demandas por indenizações por morte ou dados físicos. Os beneficiários ou suas famílias (alguns casos demoram tanto que os beneficiários já não estão aqui) tinham demandas reprimidas. O crescimento das vendas de produtos ortopédicos e medicamentos foi notável (9,9% em fevereiro). Mas há também forte crescimento nas vendas de eletrodomésticos e móveis (4,1% em janeiro e 1,2% em fevereiro).

De qualquer forma, parece que efeitos externos que não estão programados nos modelos de acompanhamento macroeconômicos dos agentes econômicos (como a liberação dos precatórios – fato único, sem parâmetros comparativos) estão trazendo surpresas positivas para o desempenho do PIB.

13º de aposentados dá impulso
Amanhã, com a divulgação da Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, será possível avaliar se o impacto positivo do primeiro bimestre está se espalhando. A pesquisa do IPCA de março mostrou que a expansão do comércio em fevereiro não resultou em escalada da inflação. Ao contrário. No setor se serviços houve alta de apenas 0,10% em março contra 1,06% em fevereiro.

Mercado e Copom têm desafio
Há algum tempo eu insisto que o parâmetro de reajuste de preços no segmento de serviços, no qual os profissionais autônomos fixam suas remunerações em negociações diretas com os fregueses ou pequenos empresários, está muito ligado ao preço da gasolina. Quando o combustível se comporta de modo razoável, estabiliza os preços dos serviços; que disparam quando há fortes reajustes da gasolina. Isto também não cabe em modelos econométricos.

Como se vê, o mercado e o Copom, que estão assustados com os soluços da inflação nos Estados Unidos, precisam examinar melhor a situação brasileira para não frear o crescimento econômico com a meia trava na baixa da Selic.