O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

BB, Safra e CEF não acertaram com Americanas

Publicado em 27/11/2023 às 14:07

Alterado em 27/11/2023 às 14:07

A Americanas divulgou, em fato relevante, na manhã de hoje, um acordo preliminar com quatro instituições financeiras que seriam credoras de 35% de suas dívidas de R$ 45 bilhões. São elas, Bradesco, Itaú, BTG-Pactual e Santander Brasil, que devem converter os créditos em debêntures ou ações. A proposta, protocolada na 4ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do RJ, será submetida a assembleias dias 19 de dezembro e 22 de janeiro.

Mas nada se diz sobre as dívidas pendentes com o Safra (R$ 2,5 bilhões), Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Votorantim, ABC e Daycoval. Muito menos sobre os débitos com os fornecedores, que eram liderados pelos R$ 1,2 bilhão devidos à coreana Samsung em 19 de janeiro de 2023, quando a Americanas entrou em recuperação judicial.

O BB tinha orginalmente R$ 1,3 bilhão em créditos e fez 100% de provisões para a varejista no balanço de 30 de setembro. O Votorantim (do qual o BB tem 49%) foi citado como credor de R$ 3,2 bilhões quando da RJ, em 19 de janeiro. O banco contestou. Disse que era credor em pouco mais de R$ 300 milhões. Entretanto, no balanço trimestral de setembro, constam R$ 2,8 bilhões de operações com “risco sacado”. Se não eram referentes à Americanas, o Votorantim voltou a correr riscos com outros varejistas.

Faca no peito

Na proposta do grupo controlador da Americanas, o trio bilionário Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcell Hermann Teles, que detém 30,5% do capital da empresa, vai aportar R$ 12 bilhões. Os recursos seriam usados para pagar credores de menor monta e R$ 8,7 bilhões seriam reservados ao pagamento de credores financeiros, através de leilão reverso (R$ 2 bilhões) ou pagamento antecipado de créditos com desconto (R$ 6,7 bilhões).

A proposta prevê ainda pagamento total a credores das classes I (trabalhistas) e IV (pequenos empreendedores), além do pagamento integral para credores com créditos de até R$ 12 mil. Acima deste valor há uma cota de R$ 40 milhões para acerto com quem aceitar os R$ 12 mil, e renunciar ao valor excedente.

Além da Samsung, as grandes dívidas em aparelhos eletrônicos (celulares e TVs) eram com a Sony, Google, Positivo e LG. Uma simples ida a uma loja Americanas dá para perceber os credores que não aceitaram as propostas de renegociação com perdas financeiras parciais. Os celulares da Samsung seguem liderando as ofertas da Black Friday. A Tramontina, que tinha pesados créditos de suas divisões de talheres e panelas, segue como fornecedora.

O mesmo acontece com a Bauducco (panetones e outros produtos), bem como as linhas de leite em pó, chocolates e biscoitos da Nestlé, que liderava a lista dos credores em alimentos. Os concorrentes Mondelez, Ferrero Rocher e Lacta mantiveram a parceria. Afinal, a Americanas é uma das maiores vitrines do Brasil e mesmo com baque nas vendas via internet, é “player” relevante.

Queda na 'Black Friday'

Não se sabe se é falta de dinheiro, receio contra os juros ainda altos, que podem baixar mais um ponto (na taxa Selic até janeiro, forçando queda maior das taxas bancárias), o fiasco das ofertas de celulares 5G no ano passado (que não entregaram as tecnologias prometidas) ou mesmo a percepção das” promoções enganosas da Black Friday” (geralmente os preços sobem em outubro para guardarem gordura para “as promoções de novembro).

O fato é que a Nielsen, uma das maiores empresas de pesquisa de varejo apontou forte queda no faturamento na casa de dois dígitos no movimento da 5ª e 6ª feira passada. A normalização dos trabalhos remotos em casa também esfriou a febre por eletrodomésticos e produtos de Informática.

Em compensação, o consumidor está aproveitando as promoções para antecipar a compra de produtos para o Natal (bacalhau, aves natalinas e bebidas, que tiveram aumento de 6% no período. A antecipação de compras também funcionou para Moda e Acessórios e Perfumaria e Cosméticos.

Focus: IPCA abaixo do teto

A última Pesquisa Focus divulgada nesta 2ª feira pelo Banco Central manteve a queda do IPCA previsto para fechar em dezembro em 4,53% (nas respostas dos últimos cinco dias úteis a taxa caia a 4,52%). O número está abaixo do teto da meta de inflação para 2023 (3,25% + 1,50% de tolerância=4,75%). Há um mês o mercado esperava 4,63% já dentro do teto.

Para 2024 o IPCA fica dentro do teto (3,0%+1,50%+4,50%) na expectativa do mercado, que foi mantida em 3,91% (3,92% nos últimos cinco dias úteis). A taxa Selic deve fechar o ano em 11,75%, com nova queda de 0,50% em 13 de dezembro. Mas a previsão que foi mantida em 9,25% na mediana do mercado para dezembro de 2024, subiu para 9,38% na mediana dos últimos cinco dias úteis, evidenciando reação do mercado quanto à piora dos indicadores fiscais.

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