O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Petrobras tem governança; governo, não

O líder da Minoria no Senado, Jean Paul Prates (PT-RN), lembra ter advertido várias vezes sobre o risco de um aumento pela Petrobras (diante da defasagem que anularia todo o esforço). Com efeito, foi o que ocorreu

Publicado em 17/06/2022 às 14:21

Alterado em 17/06/2022 às 14:21

Gilberto Menezes Côrtes JB

De olho no calendário eleitoral, o governo usou sua maioria de votos na Câmara e no Senado para reduzir impostos federais (PIS/Cofins) dos combustíveis (gasolina e etanol) e o ICMS (estadual) sobre energia elétrica, telecomunicações, combustíveis (gasolina, diesel, etanol e GLP) para tentar derrubar a inflação e reforçar as chances de Jair Bolsonaro nas urnas.

Mas a conjuntura internacional ainda muito instável (em termos de preços do petróleo e derivados e o recente aumento de juros nos Estados Unidos) poderia valorizar o dólar e aumentar a defasagem dos preços internacionais dos combustíveis em relação aos preços cobrados pela Petrobras nas refinarias. O líder da Minoria no Senado, Jean Paul Prates (PT-RN), lembra ter advertido várias vezes sobre o risco de um aumento pela Petrobras (diante da defasagem que anularia todo o esforço). Com efeito, foi o que ocorreu.

Após 99 dias congelado, o preço da gasolina será reajustado, sábado, em 5,2% pela Petrobras, passando a custar R$ 4,06 o litro nas refinarias da estatal. Já o diesel, há 39 dias sem aumento, passará a custar R$ 5,61 o litro, alta de 14,2%, conforme anunciado hoje, 6ª feira. Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), para alinhar o preço interno ao praticado no Golfo do México, de onde vem a maior parte dos combustíveis, o aumento deveria ser de R$ 0,57 para a gasolina e R$ 1,37 para o diesel, diante de defasagens de 13% e 21%, respectivamente, em relação ao sistema de paridade de preços internacionais (PPI), em vigor desde 2016.

O aumento segue a escalada de preços do petróleo no mercado internacional. Nesta 6ª feira, os contratos da commodity para agosto eram comercializados a US$ 119,5 o barril no período da manhã (horário de Brasília). No mercado futuro, os contratos para entrega em agosto, porém, apresentaram queda de 4,43%. Mas o dólar subia 2,21% até às 13 horas, revelando o desconforto dos investidores com o descompasso entre o ritmo mais forte de alta dos juros nos Estados Unidos (+0,75 ponto percentual) com o prescrito pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (0,50 p.p.).

 

Bolsonaro e Lira, gritam, Petrobras não atende

Em mensagem nesta manhã, no Twitter, quando já eram fortes os rumores de que a Petrobras, após a reunião de ontem (feriado), por videoconferência convocada pelo Conselho de Administração da Petrobras (onde o governo tem maioria) na tentativa de forçar a diretoria executiva a analisar a proposta de não reajustar os preços até que as medidas de redução de impostos estejam em vigor, o presidente Jair Bolsonaro lembrou o locutor Romulo Mendonça, da ESPN, que cria bordões especiais para as finais do basquete nos EUA. Quando um jogador destrói a defesa adversário e marca ponto de bandeja, ou numa finta, Rômulo brada: “É o caos!”.

Em mensagem no Twitter, Bolsonaro afirmou que a Petrobras pode "mergulhar o Brasil num caos" e reforçou a posição do governo contrária a qualquer reajuste dos combustíveis. "A Petrobras pode mergulhar o Brasil num caos. Seus presidente, diretores e conselheiros bem sabem do que aconteceu com a greve dos caminhoneiros em 2018, e as consequências nefastas para a economia do Brasil e a vida do nosso povo", escreveu o chefe do Executivo no Twitter, pouco antes de a Petrobras anunciar o novo reajuste do diesel e da gasolina. A diretoria da Petrobras seguiu os princípios de sua governança, da qual o PPI é a pedra de toque; já o governo age de olho nas pesquisas.

Resta saber se o “caos” a que se refere Bolsonaro é a anulação precoce do pacote de redução de impostos (que frustra os esforços de baixar a inflação a canetadas), com o reforço das chances de Lula ganhar no 1º turno, ou ele vislumbra nova greve dos caminhoneiros. O novo aumento do diesel pode pressionar fortemente o reajuste de passagens de ônibus urbanos e interurbanos. Antes deste último reajuste de 14,2% no diesel, os donos de frotas apontavam defasagem superior a 15%. Agora fica entre 20% e 25%.

A dupla que dá o apoio político do Centrão ao presidente Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e o senador licenciado Ciro Nogueira (PP-PI), que comanda a Casa Civil, reagiu pesadamente contra a diretoria da Petrobras. Lira afirmou que a nova alta é uma retaliação do presidente da estatal, Mauro Coelho, pela sua demissão. Coelho foi demitido no mês passado (com 40 dias no cargo) e o chefe da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Caio Mario Paes de Andrade, foi indicado para o posto. Paes depende da aprovação de suas qualificações pelo Comitê de Pessoas da Petrobras, que faz parte da governança.

"Estamos perplexos desde ontem: num feriado, presidente da Petrobras fez retaliação, não tenho dúvida disso, pela sua demissão. Está demitido pelo acionista majoritário, que é o Brasil. Ele já poderia ter entregue seu cargo. Está postergando sua saída como forma de talvez massacrar, pela sua demissão", disse Lira em entrevista à GloboNews. "Isso está fazendo mal não só a ele, mas ao Brasil. Está fazendo mal à economia brasileira", continuou. Já Ciro Nogueira acrescentou que a Petrobras "não é de seus diretores. É do Brasil".

 

O câmbio manda sinais de fumaça

Se não bastassem as turbulências dos combustíveis (que vão pressionar a inflação, medida pelo IPCA, em junho e julho, a menos que o pacote tributário entre em vigor na semana que vem) - estatisticamente, só haveria tempo de atenuar o IPCA de julho e agosto (a ser conhecido em 9 de setembro) -, o mercado de câmbio reagiu mal à decisão do Comitê de Política Monetária de não acompanhar a possível aceleração para 0,75 p.p. nos fundos federais pelo Federal Reserve.

Em junho, as reuniões do Fed e do Copom foram coincidentes (dias 14 e 15). Em julho, o Fed terá reuniões dias 26 e 27. Mas o Copom só se reunirá uma semana depois, dia 1 e 2 de agosto). O mercado teme que um descompasso possa afetar a curva de juros no Brasil, com maior pressão no câmbio. De qualquer forma, tanto o Bradesco como o Itaú convergem na previsão de que o Copom aumentará os juros pela última vez este ano para 13,75% ao ano (nova alta de 0,50 p.p.).

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