O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

BC anuncia rolagem de ‘swaps’ até eleição

...

Publicado em 03/01/2022 às 15:29

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

Tão logo o calendário eleitoral, com regras fixadas pelo Superior Tribunal Eleitoral entrou em vigor - a eleição de 2022 está marcada para domingo, 2 de outubro, com eventual 2º turno para presidente da República e governadores, dia 30 de outubro -, o Banco Central anunciou hoje, 2ª feira, 3 de janeiro, um calendário mensal de rolagem de operações de “swaps” cambiais (troca de dólares por títulos do Tesouro de alta liquidez - LFTs).

Serão oito meses seguidos, sempre no 1º dia útil do mês, a começar de 2 de março, até 3 de outubro, no dia seguinte ao 1º turno, para a rolagem de US$ 98,9 bilhões em “swaps” cambiais que estão em poder do mercado, já considerados os contratos oferecidos para a redução do “over hedge” (US$ 17,5 bilhões). Este é o maior volume em poder do mercado desde abril de 2016, quando o país vivia a incerteza sobre o “impeachment”, da então presidente Dilma Roussef.

A rolagem a cada início de mês deriva do fato de que os contratos de dólar negociados na B3 têm vencimento a cada fim de mês. Assim, o Banco Central tenta furar especulações. Mas nem sempre a ação do BC dá certo. Em novembro último, comparado a novembro de 2020, o BC teve redução de ganhos de R$ 22,3 bilhões, o que impactou os juros da dívida pública.

Em março serão rolados US$ 14,1 bilhões. Os maiores vencimentos serão em 1º de julho, com rolagem de US$ 15,171 bilhões, seguido dos US$ 15,066 bilhões de 1º de setembro (reflexo do clima de pânico que tomou conta do país em setembro de 2021). Em 3 de outubro a rolagem será de apenas US$ 9,060 bilhões. O menor valor está reservado para 1º de agosto (US$ 3,131 bilhões).

 

Calendário concentra benesses no fim de 2021

Foi em função das determinações do TSE, que proíbem os governos (federal, estaduais e municipais) de aprovarem benesses em pleno ano eleitoral, que as últimas horas de 2021 foram marcadas pela frenética aprovação de medidas no Congresso (Câmara e Senado) e pela edição de atos no Diário Oficial da União (como a extensão da desoneração das folhas de pagamento até 2023), além de regulamentação do Auxílio Brasil (resultado da fusão dos extintos Auxílio Emergencial e Bolsa Família), só para 2022, do Vale Gás e dos novos valores do salário mínimo, que determina o valor de aposentadorias e do Benefício da Prestação Continuada (BPC).

Quem quiser abrir o caixa para beneficiar a população (e cacifar seu eleitorado) só poderá fazer em casos de calamidade pública, como as enchentes no sul da Bahia, nordeste de Minas Gerais, Goiás e sul do Piauí.

 

Mercado pessimista para 2022

O Banco Central divulgou hoje sua pesquisa semanal com os participantes do mercado, colhida até 6ª feira, 31 de dezembro. De acordo com a Focus, a mediana das expectativas de crescimento do PIB de 2021 caiu mais 1ponto base para 4,50, marcando a 12ª semana seguida de revisões em baixa. Enquanto isso, a expectativa para o PIB deste ano diminuiu 6 bps, para 0,36%, e permaneceu inalterado em 2023, em 1,80%, e em 2024 (em 2,00%).

Já a mediana das expectativas de inflação do IPCA para 2021 caiu 1 pb (para 10,01%), e ficou estável para 2022, em 5,03%, ou seja, com queda de 50% frente ao ano passado. Enquanto isso, para 2023, avançou ligeiramente para 3,41% (de 3,38%), acima da meta de 3,25% do ano. Para 2024, a mediana da inflação do IPCA manteve-se em 3,00%, meta do ano. Além disso, as medianas das expectativas de inflação do IGP-M não se alteraram para 2022 (em 5,49%), 2023 (4,0%) e 2024 (4,0%).

Na política monetária, a mediana da taxa Selic de final de ano manteve-se inalterada para 2022 (a 11,50%), 2023 (a 8,00%) e 2024 (a 7,00%). Por fim, as medianas das expectativas para a taxa de câmbio permaneceram estáveis para 2022 (R$ 5,60/US$), 2023 (a R$ 5,40/US$) e 2024 (a R$ 5).

 

O sobe e desce das águas

Enquanto o nível das águas desce nos rios que transbordaram no sul da Bahia e em vários estados do Brasil, depois de quase dois meses de chuvas quase ininterruptas, a boa notícia é que os níveis dos reservatórios de água das principais usinas hidroelétricas do país estão subindo. O que tende a afastar a ameaça de racionamento em 2022 e pode abrir espaço a uma redução das bandeiras tarifárias (com impacto favorável na inflação).

De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o nível total dos reservatórios de água atingiu 32,0% em 29 de dezembro, em comparação com 29,7% uma semana antes e acima da média dos últimos cinco anos de 26,7% para dezembro. O nível médio das barragens no sistema Sudeste/Centro-Oeste que responde por 70% da capacidade máxima instalada do país, atingiu 24,8% em 29 de dezembro, ante 23,3% na semana anterior.

O nível dos reservatórios do Sul, que vive temporada de seca, ficou em 43,0% (de 44,3% uma semana antes), enquanto o nível dos reservatórios do Norte subiu para 49,5% de 40,4% uma semana antes. Por fim, o nível dos reservatórios do Nordeste também subiu, atingindo 50,6% (de 46,4% na semana anterior). Vale lembrar que em 2001, o último ano de racionamento generalizado de energia (quando as fontes de energia térmica não estavam tão disponíveis quanto agora), os níveis variaram de 20,6% a 34,5% na região Sudeste/Centro-Oeste.

 

Ricúpero tem toda a razão

Cada vez mais lúcido, aos 84 anos, o ex-ministro do Meio Ambiente e da Fazenda, Rubens Ricúpero, que vai assumir a cátedra José Bonifácio (o patriarca da Independência), da USP, deu uma bela entrevista ao jornal “Valor Econômico”.

Ele se mostrou horrorizado pelo fato de que “não apenas Bolsonaro, mas também o Centrão promove o auge do patriarcalismo e do patrimonialismo, que nunca foi tão escancarado quanto agora. Nunca o uso do poder para benefício próprio esteve tão evidente. Isso tudo leva à constatação de que o país não está dando certo”, alertou o ex-secretário geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad).

O antídoto está ao alcance do cidadão/eleitor, nas urnas, em 2 de outubro.

Tags: