O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Desemprego cai, mas deve subir em 2022

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Publicado em 28/12/2021 às 17:09

Alterado em 28/12/2021 às 17:09

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua), divulgados nesta 3ª feira pelo IBGE, com taxa de 12,1% para o desemprego no período agosto-setembro-outubro, uma queda de 1,6 ponto percentual frente ao trimestre maio a julho (13,7%) e redução de 2,5 p.p. frente aos 14,6% de igual período do ano passado, mostraram o melhor resultado para o mercado de trabalho desde o início da pandemia da Covid-19. Em relação ao auge do desemprego (janeiro a março deste ano, quando a taxa de desemprego chegou a 14,9%, houve queda de 2,8 p.p.).

Mas há duas notícias ruins na recomposição do mercado de trabalho, que precisa consolidar os dados de dezembro (no Caged) e dos dois últimos meses do ano na PNAD Contínua, para a avaliação completa do quadro:

1 - o nível real do rendimento do trabalho caiu 11,1% em relação ao mesmo período do ano passado (agosto a outubro). Isso indica que o aumento de 8,7 milhões de pessoas na população ocupada (94 milhões) frente a trimestre agosto-outubro) está sendo feito com salários menores e a alta inflação no período (acima de 10,7%) agravou o cenário de perda.

2 - o 2º indicador ruim vem das projeções do mercado financeiro. Com as previsões de que a economia vai crescer bem menos em 2022. Após 4,4%/4,5% este ano, o Bradesco espera expansão de 0,75% no PIB, o Santander e a LCA Consultores projetam crescimento de 0,7% e o Itaú prevê o pior: recessão de 0,5% (passível de revisão, com a melhora do quadro hídrico que projetava mais restrições à indústria e às famílias em 2022).

Para 2021, o Bradesco previa taxa média de desemprego de 13,24% e 12,18% em 2022. Mas o Itaú, que previa taxa média de 13% este ano e 12,7% em 2022, com taxa de 12,2% em dezembro deste ano, espera que o índice feche mais alto em dezembro de 2022, a 13,3%. O Santander também prevê maior média de desemprego em 2022 (14%, contra 13,8% este ano).

 

A pressão da energia na inflação

Ainda bem que o Banco Central vem acompanhando, desde a metade deste ano, a chamada “inflação verde”, causada pelo impacto da transição energética - reforçada, em setembro, pelos compromissos da COP-26, em Glasgow (Escócia) - sobre os preços dos principais combustíveis, minérios e insumos energéticos envolvidos na transição do uso de combustíveis fósseis (carvão e petróleo, sobretudo) por fontes de energia renováveis (eólica, solar, hidroelétrica e as novas fontes como o hidrogénio.

O BC mira particularmente o impacto da troca dos carros movidos a motor a combustão (gasolina, diesel, etanol, gás natural, flex - gasolina e etanol) pelos veículos elétricos e híbridos, bem como na recomposição das atuais redes elétricas e sistemas de abastecimento para os novos veículos.

Há toda uma rearrumação de demanda, com crescimento exponencial no consumo (e preços) de metais como o lítio (a estimativa é de uma alta de 42%, em dólar, até 2040), do grafite (+25%), do cobalto (+21%), do níquel (+19%) e das terras raras (+7%). O Brasil tanto pode se beneficiar na exportação, como ser afetado pela inflação importada.

 

Na contramão, país compra mais carvão

Após a queda inédita dos preços do barril de petróleo em abril de 2020 (os estoques eram de tal ordem que, na hora de exercer os contratos nas bolsas de futuros, os compradores, sem ter como estocar, davam descontos zerando os preços aos vendedores), as cotações voltaram a subir tão logo foram anunciados avanços nas pesquisas de vacinas e aplicadas as primeiras doses em dezembro (Estados Unidos e Reino Unido, seguido de Israel, países europeus, Chile, Brasil e Japão). Assim, houve escalada dos preços do petróleo e gás desde dezembro do ano passado.

O impacto na balança comercial brasileira foi enorme. Enquanto as exportações de petróleo em dezembro (até o dia 27) somaram US$ 2,634 bilhões, num aumento de 29,58% sobre 2020, os gastos na importação de petróleo (forte exportador de óleo pesado, o Brasil compra óleos leves para refino e produção de gasolina e querosene de aviação, por exemplo) ficaram quase estáveis em US$ 144,7 milhões (US$ 145,2 milhões de dezembro de 2020).

As importações gás liquefeito de petróleo e gás natural (em boa parte para alimentar termoelétricas) saltaram 415%, de US$ 141,3 milhões em dezembro de 2020 para US$ 727,6 milhões. Na mesma urgência para uso em termoelétricas movidas a óleo combustíveis, estes derivados de petróleo tiveram importações de US$ 888,8 milhões em dezembro, com aumento de 58,18% frente a dezembro de 2020 (US$ 587,9 milhões).

Outro importante insumo dependente de petróleo (nitrogenados) e outros minerais, os adubos usados na produção das supersafras agrícolas do país, mais do que dobraram os gastos de importação: de US$ 674 milhões, em dezembro de 2020, para US$ 1,314 bilhão em dezembro, um acréscimo de 129%.

Mas o absurdo, que resulta dos incentivos dados pelo governo Bolsonaro, que contrariam todo o discurso de redução de fatores que aumentam o efeito estufa, foi o aumento de 197,59% nas importações de carvão mineral, que saltaram de US$ 109,1 milhões em dezembro de 2020 para US$ 348,1 milhões.

Talvez o Brasil seja, ao lado da Índia, o único grande país que ainda reluta em reduzir o uso de carvão fora do seu uso na siderurgia. Até a China (1,4 bilhão de habitantes) se comprometeu a reduzir o carvão como fonte de geração de energia. A Índia pediu mais tempo para ajustar a demanda de sua imensa população (1,380 bilhão de habitantes).

Mas o Brasil, que há décadas deixou de usar carvão como gerador de energia, voltou na roda da história no governo Bolsonaro, coroando mais um avanço da agenda do atraso (ou do avanço da “agenda conservadora”, como era mote da campanha do filho 02, vereador Carlos Bolsonaro, reeleito para a Câmara do Rio.

 

Enchentes na Bahia: alerta à FIOL

A tragédia das enchentes no Sul da Bahia e em parte de Minas Gerais, com mais de 20 mortos só na Bahia, deixou preocupados os executivos da Bamin (Bahia Mineração), que conseguiu autorização para construir a Ferrovia de Integração Oeste-Leste - FIOL. Numa fase inicial, a FIOL ligaria a cidade de Caetité (no sertão da Bahia, onde estão as jazidas de minério de ferro do Eurasian Resources Group, do Cazaquistão) ao porto de Ilhéus, no Sul da Bahia.

Se a ferrovia estivesse funcionando, os estragos teriam sido enormes nas cidades ao longo do trecho próximo ao litoral, em direção a Ilhéus, que entrou em estado de calamidade pública, assim como em Jequié, Aurelino Leal, Uruçuca e Manoel Vitorino. Ajustes terão de ser feitos, encarecendo o projeto.