O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Ministério da Economia vê crescimento; da inflação

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Publicado em 16/09/2021 às 18:17

Alterado em 16/09/2021 às 18:17

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

A Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, comandada pelo economista Adolfo Sachsida, divulgou hoje, 16 de setembro, o Boletim Macrofiscal de setembro, com novas projeções da economia brasileira até 2025, com base nos dados disponíveis até 10 de setembro.

Em março, maio e julho, a SPE foi divulgando projeções mais otimistas para o crescimento do PIB (respectivamente, 3,20%; 3,50% e 5,30). Agora, infelizmente, as únicas projeções que aumentaram foram as de inflação.

A variação do PIB, reduzida em todas as previsões de bancos e consultorias, foi mantida em 5,3% pela SPE, que reduziu ligeiramente de 2,51% para 2,50% a projeção do PIB para 2022 (o Bradesco reduziu de 2,2% para 1,8%; e o Itaú para 0,5%). A SPE manteve a taxa de 2,50% para 2023, 2024 e 2025.

A questão é que a escalada da inflação (do IPCA) deste ano – de 4,42% em março, para 5,05% em maio, 5,90% em julho e 7,90% em setembro – força o Banco Central a elevar os juros da Selic a nível acima da chamada taxa neutra (juro real positivo, deduzida a inflação projetada). E isso trava a economia.

No mercado as apostas para a Selic de 2021/22 variam de 7,50% (Bradesco, para 2021 e 2022) a 8,25% e 8,50% este ano, com previsão de alta para 9% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária em 2 de fevereiro, nível que poderia ser mantido em 2022, o que tende a desacelerar a economia.

Para este 3º trimestre a SPE já está prevendo avanço de 0,6% no PIB, que chega a ser mais otimista que a previsão do Itaú (de + 0,7%). Vale lembrar que em apresentações anteriores a SPE previu que a recuperação do 2º semestre de 2022 garantia um “carry over” ou carregamento de 4,9% para 2021. Ou seja, a recuperação deste ano está sendo bem menos robusta do que se previa. Para 2022, caímos na dura realidade.

O ministério de Paulo Guedes prevê este ano 7,9%, pelo IPCA, e 8,4% pelo INPC, que mede a cesta de consumo das famílias mais pobres, com renda até cinco salários mínimos – R$ 5.500) e 3,75% para o IPCA de 2022. Já o Bradesco prevê 7,8% de inflação IPCA) em 2021 e de 3,3% em 2022.

Inflação dos mais pobres arromba orçamento

O maior problema nas revisões da SPE está na estimativa do INPC deste ano, que passou de 6,2% em julho, para 8,4%. O INPC mede as despesas das famílias com renda até cinco salários mínimos (R$ 5.500) e contempla os reajustes salariais de quem ganha até um salário mínimo (que inclui os dependentes do Funrural e do Benefício de Prestação Continuada, um dos itens amparados por despesas discricionárias no Orçamento Geral da União de 2022. A maior parte das pensões do INSS também está na faixa de 5 SM.

Portanto, essa nova previsão (claro que virá acompanhada do aumento da arrecadação este ano), mas joga para o próximo ano um forte aumento de despesas indexadas, quando as previsões de crescimento e de inflação são bem menores. Ou seja, força um aperto de cintos no ano eleitoral.

Dá para acreditar que o governo Bolsonaro vai se submeter à disciplina fiscal? Ao que consta, Paulo Guedes vai pedir a Temer para redigir uma nova carta para o presidente da República assinar.

A questão é que se Paulo Guedes estará ainda à frente do ministério em 2022.

O exemplo do Chile que interessa

Paulo Guedes tem uma admiração especial pela economia chilena. Recém pós-graduado em Chicago, onde teve aulas com Milton Friedman, integrou, nos anos 80, o grupo de jovens economistas que foi implementar as reformas radicais e ultraliberais impostas pelo ditador Augusto Pinochet.

Depois, para tentar melhorar sua biografia, passou a recorrer a outros pensadores. Perda de tempo. O ministro da Economia deveria se mirar no Chile atual, mais democrático e que vai rever a Constituição pinochetista.

Graças à liderança na vacinação na América Latina (90% dos chilenos foram vacinados), a economia está bombando, com robusta recuperação. Depois de queda de 5,8% no ano passado, o Chile deve crescer 10,3% este ano. Para 2022 a previsão é de que o PIB avance 3,5%.

A título de comparação, o PIB brasileiro encolheu 4,1% em 2020, deve crescer 5% este ano e menos de 1% em 2022 (o Itaú prevê apenas 0,5%; o Ministério da Economia previu hoje 5,3% para 2021 e 2,50% para 2022; e o Bradesco, que é dos mais otimistas, prevê 5,2% este ano e 1,8% em 2022).

A grande diferença está na inflação: lá o Itaú prevê 5%, com 3,5% em 2022; aqui, o Itaú prevê 8,4% de inflação em 2021 (pelo IPCA) e 4,2% em 2022.

Tamanho não é documento

Paulo Guedes, seus assessores e, sobretudo, os bolsonaristas podem argumentar que o Chile é um país pequeno. De fato, sua população de 19 milhões de habitantes fica entre as dos estados do Rio de Janeiro (17,4 milhões) e de Minas Gerais (21,4 milhões). Ou seja, menos de 10% dos 213,6 milhões de brasileiros segundo a projeção do IBGE.

Entretanto, se antes os experimentos ultraliberais do pequeno Chile eram o modelo, por que agora a relação de causa e efeito entre o avanço da vacinação e a aceleração da economia não é considerada?

Marcha à ré nos automóveis

Há muitos obstáculos na pista para a indústria automobilística brasileira recuperar a média de velocidade de vendas que atingira em 2017-2019: 1.283 mil unidades. Diante da pandemia, nem vale comparar com o recorde de 2019 com a média de 1.419 unidades, com o total vendido este ano: 894 mil.

Descontando janeiro e fevereiro de 2020, meses anteriores à declaração de pandemia, em meados de março, o Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco calculou que a quantidade de veículos novos que deixou de ser vendida neste ano (até agosto), pela escassez de oferta, está entre 370 mil e 520 mil unidades. A maior dificuldade atual é a escassez mundial de chips. Os componentes eletrônicos pesam cerca de 35% no valor de um carro.

O Bradesco usou a relação de usados/novos para simular qual seria o nível das vendas de novos. Para ficar igual à média de 2019 faltam 525 mil veículos: para ficar igual à média de 2020, seriam 373 mil veículos, ou 388 mil para voltarmos à média de 2017-2019.

Depois de cair 26,6% no ano passado, as vendas de veículos leves devem acelerar 6,6% este ano e aumentar para 7,5% em 2022.

Para o mercado de veículos pesados (caminhões e ônibus), que encolheu 16,7% no ano passado, mas está crescendo 32,6% este ano, com a recuperação da economia em geral e o grande crescimento da safra agrícola, o Bradesco estima crescimento mais lento em 2022, de apenas 3%.

Em motos, após a queda de 15%, em 2020, prevê alta de 21,9% este ano e de 7% no ano que vem. Se os combustíveis pararem de assustar o consumidor.

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