O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Itaú vê melhora no surto de Covid, mas teme Delta

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Publicado em 22/07/2021 às 17:52

Alterado em 22/07/2021 às 18:07

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

O Departamento de Estudos Econômicos do Itaú emitiu nesta 5ª feira (22 de julho) análise mais otimista com “a melhora contínua” (redução) dos casos de novos contágios e mortes causados pela Covid-19, diante do avanço da vacinação no país. Mas adverte para os riscos com “a variante Delta em âmbito global”.

No Brasil, o Itaú assinala que “ indicadores seguem mostrando melhora contínua”. Na média semanal, o número de novos casos diários desceu abaixo da barreira das 40 mil novas infecções, encerrando abaixo desta marca (38 mil) pela 1ª vez desde o início do ano e significativamente abaixo do pico da pandemia, em 77 mil, em meados de junho. Uma queda de 50,64%.

Os óbitos também registram tendência semelhante, com a média semanal atingindo patamares pré-segunda onda (cerca de 1.200 novas mortes por dia), comparado com um pico em 3.200 entre final de março e abril. Com o avanço da vacinação da 2ª dose – a que realmente imuniza, duas semanas após a aplicação – os casos de óbitos e doenças graves cederam acentuadamente.

Mas o Itaú adverte que “eventuais novas ondas relacionadas à variante Delta ainda não podem ser descartadas”, lembrando, que, segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem 110 casos identificados da nova cepa, “mas o número real pode ser muito maior, já que nem todos os casos são sequenciados”. Dentre esse número, cinco casos evoluíram para versões mais severas da doença, mas não há informações sobre se a vacinação [das vítimas] já estaria concluída no momento da infecção.

São Paulo, o estado mais populoso do Brasil, com 46,6 milhões, liderava até ontem (21 de julho), segundo os dados do Ministério de Saúde os casos de contágios (3,966 milhões) e de mortes (135.993), entre as dez unidades da Federação mais afetadas. Minas Gerais, o 2º mais populoso, ocupa o 2º posto em contágios e o 3º em mortes. Embora seja o 3º em população (17,4 milhões), o Rio de Janeiro era o 2º em mortes (57.856). Preocupa o fato de ser apenas o 7º estado em número de identificação da doença por testes. Mesmo com baixa testagem, já há quase três dezenas de casos da variante Delta.

Sem rastreamento, os números de contágios são irreais e facilita a propagação e mutação do vírus. Considerando a população, o Rio de Janeiro está com o pior índice de cobertura de testagem. Santa Catarina, com apenas 7,341 mil habitantes (mais de 10 milhões a menos que o RJ), fez testes que acusaram contágios em 1,096 milhão de habitantes. O total de óbitos ficou em 17.698. Pernambuco, com 9,6 milhões de habitantes fez testes que identificaram 581,6 mil contágios (proporcionalmente mais que o RJ), e teve 18.444 mortes.

O Paraná, que tem 11,6 milhões de habitantes, teve mais de 1 mil mortes a mais em relação aos 11,4 milhões de habitantes do Rio Grande do Sul. A Bahia, 4º estado mais populoso do país, com 14,986 milhões (até setembro passará dos 15 milhões), acusou 1,178 de contágios e ocupa o 6º lugar em mortes. Goiás, estado mais populoso do Planalto Central, com 7,2 milhões de habitantes, registrou 20.263 mortes (8} do ranking). Se somarmos as 9.509 mortes de habitantes do Distrito Federal, que está encravado no território goiano, passaria à frente da Bahia, com 29.772 vidas perdidas.

Recuperação da Economia depende da 2ª dose

O Depec do Itaú lembra que na Europa e nos Estados Unidos a economia vai se recuperando à medida em que a vacinação com a 2ª dose alcança mais de 50% da população (no Brasil não chegamos a 18%).

Por isso e para evitar que a falta de cobertura facilite a propagação de novas cepas e frustre o zelo de quem se vacinou e segue usando máscaras e mantendo distanciamento e práticas de higienização das mãos, é fundamental que a população seja convencida por campanhas maciças. Só a vacinação em massa deixará a imensa maioria protegida abrirá caminho para a volta da normalidade na economia e nas atividades de lazer, melhorando as ofertas de emprego. E não basta a uma cidade, um estado ou um país cumprir sua obrigação. Se o vizinho de rua ou um país populoso não fizer o dever de casa, a humanidade continuará com a vida em suspenso pelas novas cepas.

Macaque in the trees
. (Foto: .)

O raio X da arrecadação recorde

Ganhos de arrecadação costumam refletir a retomada da atividade econômica. A Receita Federal apurou arrecadação de R$ 137,2 bilhões em junho, um crescimento real (descontada a inflação) de 46,8% na comparação com o mesmo período do ano passado. Além da base de comparação mais fraca, o forte avanço das receitas reflete, principalmente, o crescimento nominal dos valores negociados (e tributados), impulsionado pela recuperação da atividade econômica e a alta dos preços das commodities agrícolas e minerais ligadas à exportação, determinadas pela escalada do dólar ante o real.

O aumento do valor arrecadado com impostos sobre o comércio exterior, compensou largamente a perda de R$ 7 bilhões com os diferimentos de IRPF e do Simples Nacional em junho. Em abril de 2020 os diferimentos foram quase cinco vezes maiores (R$ 33 bilhões).

Ao deduzir fatores extraordinários (IRPJ/CSLL atípico, compensações tributárias, diferimentos de tributos e mudanças na legislação), a LCA Consultores observa que “a arrecadação total teria apresentado alta real de 21,5% em 12 meses, semelhante ao crescimento da atividade econômica no período”. E destaca que os principais índices de atividade de maio, que pesaram na arrecadação de junho, cresceram em 12 meses: produção industrial (PIM: 25,8%), varejo (PMC: 26,2%Y) e serviços (PMS: 23,0%).

No acumulado do semestre, o crescimento foi de 24,5% em relação a 2020. Na margem, a arrecadação total ajustada pela sazonalidade, entretanto, mostrou queda de 5,9% em junho, aponta a LCA, que considera “uma queda considerável, após vultosos resultados nos últimos meses” ainda que o nível permaneça acima do observado pré-pandemia, em fevereiro de 2020.

Déficit primário de R$ 60,7 bilhões em junho

Para o Bradesco e a LCA, o 2º segundo semestre deve continuar com resultados positivos. No entanto, serão mais modestos quando comparados ao mesmo período de 2020, quando houve o recolhimento de tributos diferidos.

Com esse resultado, a LCA está estimando um déficit primário do governo central de R$ 60,7 bilhões em junho. Para os próximos meses, a economia deve manter a trajetória de recuperação, diante de avanços na imunização da população e dos consequentes ganhos de mobilidade, que devem ter impactos positivos sobre a arrecadação de tributos.

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