O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Itaú: Selic supera IPCA a partir de junho

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Publicado em 03/05/2021 às 15:41

Alterado em 03/05/2021 às 15:41

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

As atenções dos investidores e do mercado financeiro estão voltadas esta semana para a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central. O Copom inicia amanhã as análises dos dados da economia doméstica e internacional e decide na 4ª feira. A previsão unânime é de nova alta de 0,75 ponto percentual, o que elevaria taxa Selic para 3,50% ao ano.

Como na mediana da Pesquisa Focus, fechada semana passada pelo Banco Central e divulgada hoje, 118 instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa, a taxa para dezembro deste ano foi mantida em 5,50% e a de 2022 subiu de 6,25% para 6,50% ao ano, nível que permaneceria até 2024, o mercado está interessado em saber as indicações para as próximas reuniões.

O Itaú, que cravou a taxa de 5,50% para este ano e 2022 (o Bradesco espera 5,25% este ano e 6,25% em 2022), divulgou na semana passada suas projeções: espera que a Selic suba para 4,25% ao ano na reunião de 16 de junho, com a repetição da dose de 0,50 p.p. nas reuniões de 4 de agosto e de 22 de setembro. Em 27 de outubro, o Copom usaria um ajuste residual de 0,25 p.p. para 5,50% ao ano.

Quem vai acertar: Bradesco ou Itaú?

Além de divergirem quando à taxa Selic, Bradesco e Itaú têm visões diferentes sobre inflação e PIB. O Itaú está mais otimista que o mercado quanto ao IPCA no fim do ano (4,7%, contra 5,04% da mediana da Focus – idêntica à previsão do Bradesco - e os 5,10% nos últimos cinco dias úteis da Focus).

No PIB, enquanto o mercado indicou, na Focus, alta de 2,31% e 2,50% em 2022 e 23, o Departamento de Estudos Econômicos do Itaú espera que o PIB suba 3,8% este ano, mas a taxa caia a 1,8% em 2022. O Departamento Econômico do Bradesco prevê PIB de 3,30% este ano e 2% em 2022.

Só em junho Selic mensal bate IPCA

Depois de dois anos de perdas para a inflação mensal (medida pelo IPCA), as projeções do Depec Itaú apontam que a partir de junho, quando a Selic estiver em 4,25% ao ano, a taxa mensal dos fundos de DIs poderá superar a taxa mensal de inflação.

Nos primeiros três meses do ano a inflação deu uma goleada. O rendimento bruto mensal dos fundos DIs (sem descontar a taxa de administração) foi de 0,16% em janeiro e fevereiro e subiu para 0,18% em março, na primeira alta da Selic para 2,75% ao ano. Ou seja, acumulou em três meses só 0,50% brutos.

Mas o IPC foi de 0,25% em janeiro, de 0,86% em fevereiro e de 0,93% em março, acumulando 2,05%. Uma perda considerável.

Entretanto, o Itaú espera IPCA de 0,36% em abril, de 0,55% em maio (devido à bandeira vermelha nas contas de luz, que anula parte da queda dos combustíveis) e o,18% em junho. Isso daria taxa trimestral de 1,09%.

Mas com a escalada da taxa Selic para 3,75% em maio e 4,25% ao ano em junho, os fundos DIs dariam rendimento bruto (sem considerar a taxa de administração) de 0,22% em abril, 0,27% em maio, ainda perdendo para a inflação) e 0,34% em junho, quando teria a primeira vitória desde maio de 2020. Mas o rendimento acumulado de 0,84% ainda perderia para a inflação esperada de 1,09%.

No 2º semestre, se as previsões do Itaú estiverem certas, os rentistas poderiam ganhar. O banco prevê inflação acumulada de 0,6% de julho a setembro e de 0,9% de outubro a dezembro, somando 1,50%. Mas o rendimento acumulado da Selic seria de 2,42% no período (1,10% no 3º trimestre e 1,30% no 4º trimestre.

Ao fim do ano, apesar das perdas no 1º semestre, a Selic marcaria 5,50% contra 4,7% de inflação, na visão do Itaú, ou 5,10% na visão recente do mercado. Isso só mostra como o investidor (pelo menos os de grandes quantias) precisa estar sempre atento às mudanças na economia.

Dados da economia

Além do Copom, o mercado vai ficar atento a fatos importantes desta semana, seja em termos de decisões ou de novos dados econômicos. Na 4ª feira o IBGE publica os dados da produção industrial de março. Na 6ª feira, são os dados das vendas no varejo do mesmo mês. Neste mesmo dia a Anfavea divulga números da produção de veículos em abril. Ao longo da semana, a Fenabrave apresenta número de licenciamentos de veículos no mês passado.

Uma decisão importante poderá ser tomada pelo Supremo Tribunal Federal nesta 4ª feira. Deve entrar na pauta a validade de aplicação de sua decisão proferida em 2017 que declarou inconstitucional a inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS/Cofins. Ainda na área fiscal, espera-se o parecer do relator da reforma tributária no Congresso ainda hoje.

A água e o esgoto na Cedae

Depois da euforia pela arrecadação de R$ 22,6 bilhões na privatização de três das quatro áreas de concessão da Cedae, leiloadas na semana passada (o lote 3 referente à Zona Oeste e municípios do entorno não foi arrematado porque a Aegea, que era pretendente, só podia ficar com duas áreas e abriu mão, o que deverá implicar nova licitação, com preço possivelmente até menor), quando as águas baixarem na Cedae, será preciso depurar este mês, as impurezas das águas, das estações de tratamento de esgoto e do enorme passível trabalhista e previdenciário referente aos quase 4 mil funcionários, que ficou com a Cedae.

Para o ex-presidente da companhia, Wagner Victer (2007 a 2014), a Cedae vai ficar com um enorme passivo trabalhista – nas provisões do balanço de 2020 o total soma R$ 3.6 bilhões, sendo 2,5 bilhões nos planos de saúde e o restante para o fundo de pensão (o Prece, vítima de golpes no passado) e os moradores da baixada e áreas concedidas à iniciativa privada vão sentir um choque quando as contas de água e esgotos começarem a chegar com reajustes. Em São Gonçalo, 2º maior município do estado, com mais de 1,90 milhão de habitantes, a Cedae não cobrava tarifa de esgoto (inexistente na maior parte dos bairros de baixa renda), ele prevê aumento de 100%.

Para ele, o mês de maio será duro para os funcionários, já que nem todos os demitidos serão aproveitados pelos novos operadores, sobretudo os que estavam próximo das aposentadorias. E ainda mais para a companhia, depois de receber algo sobre as outorgas (concedidas pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, parte sob a forma de créditos de ICMS ao estado e parte pelo BNDES), haverá perda brutal de receitas.

Ele critica a “lógica” da privatização, que terá dinheiro público (do ICMS do estado e do BNDES) subsidiando a iniciativa privada.