O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

O OUTRO LADO DA MOEDA

Brasil deixa de ser o maior lucro do Santander

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Publicado em 28/04/2021 às 18:10

Alterado em 29/04/2021 às 08:09

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

Apesar das ondas gigantes de mais de cinco metros na semana passada na entrada da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, a maré não está boa mesmo para o Brasil na economia. Que o digam os resultados do espanhol Santander no 1º trimestre divulgados hoje, 28 de abril. Em anos anteriores, a filial brasileira era a grande fonte de lucros do banco de Ana Botin. Nunca menos de 25% dos ganhos globais vinham do Brasil. Em 2020, com as provisões em vários países para cobrir perdas com a Covid-19, sobretudo na Espanha, os ganhos do 3º banco privado brasileiro chegaram a 30% do lucro global.

Mas a maré e a página viraram. O banco espanhol anunciou hoje ganhos de 1.608 milhões de euros no 1º trimestre de 2021, um resultado 4,8 vezes superior aos 331 milhões de janeiro a março de 2020, quando foram feitas pesadas provisões (1.600 milhões de euros) que reduziram em 82% o resultado do banco.

Mas, apesar de a Espanha ainda estar às voltas com a Covid-19, que privou o país de 91,3 mil vidas e da vinda de turistas, sobretudo europeus, a economia melhorou. Houve reação no valor dos imóveis dados em hipoteca e o banco fez uma reversão de 1.300 milhões de euros nas provisões, melhorando o resultado global a despeito de perdas de margens financeiras e de ganhos brutos nas moedas dos países em que atua frente ao Euro.

Inversão de papéis

A filial espanhola de banco corporativo, o Santander Corporate & Investment Banking, aumentou em 64% os lucros, para 704 milhões de euros, superando o Brasil. Por sinal, a surpresa fora da Espanha é que, desta vez a maior contribuição para os lucros veio da filial dos Estados Unidos, que ganhou 616 milhões de euros, com forte redução das provisões para devedores duvidosos.

O resultado foi melhor do que o lucro de 562 milhões de euros registrados no Brasil. Em moeda brasileira, o Real, o Santander lucrou R$ 4,011 bilhões no primeiro trimestre. Mas parte do ganho veio de uma reversão de 100% de ágio (descontado do Imposto de Renda) na compra de instituição financeira em anos anteriores), no valor de R$ 1,032 bilhão. Sem o benefício, o lucro seria de R$ 2,86 bilhões. No ano de 2020, o Brasil respondeu por 30% do lucro global, contra 15% dos Estados Unidos,

Mas, ao contrário dos EUA e da Espanha, o banco teve de fazer mais provisões para devedores duvidosos no Brasil. O saldo total, que era de R$ 21,703 bilhões em março de 2020, subiu para R$ 25,067 bilhões em dezembro último e chegou a R$ 25,728 bilhões. Um reforço de R$ 661 milhões no trimestre e de R$ 4,025 bilhões frente a março de 2020.

O banco aproveitou a divulgação para anunciar o novo presidente da instituição na Espanha: será o português Antônio Simões, que terá como missão dar prosseguimento ao forte enxugamento de custos na matriz espanhola, que inclui fechamento de agências e corte de pessoal. O que também ocorreu no Reino Unido, afetado ainda pelo Brexit.

Guedes copia o chefe e troca 6 por meia dúzia

Se o “Posto Ipiranga”, o ministro da Economia, Paulo Guedes, queria demonstrar afinidade com o chefe, o presidente Jair Bolsonaro, que em abril trocou seis peças no tabuleiro ministerial, a partir da demissão do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pelo Senado, conseguiu, ontem, ao anunciar seis trocas em postos importantes do ministério.

Bolsonaro usou o fato para trocar o ministro da Defesa e os comandantes militares e ainda trouxe uma 2ª mulher para o seu ministério, a deputada Flávia Arruda (PP-DF), que saiu para Comissão Mista do Orçamento para comandar a Secretaria de Governo, que cuida da articulação política com o Congresso. O ex-chefe da secretaria, general Eduardo Ramos, foi para a Casa Civil, e o ex-chefe da Casa Civil, general também aposentado, Braga Neto assumiu o Ministério da Defesa. Aparentemente, buscou maior coesão do Palácio com o Congresso e as Forças Armadas.

Paulo Guedes, quando perdeu três importantes nomes em julho do ano passado – primeiro Mansueto de Almeida da Secretaria do Tesouro, que foi para o Banco BTG-Pactual, e os secretários especiais de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, que votou para a sua empresa, a Localiza, e Paulo Uebel, da Desburocratização, Gestão e Governo Digital – classificou o movimento como uma “debandada”.

Não vou nem me fixar nas perdas anteriores da equipe original de Guedes, como Marcos Cintra, na Receita Federal, Joaquim Levy, do BNDES, e Rubem Novais do Banco do Brasil (em agosto) e seu sucessor, André Brandão, em março. Brandão entregou o cargo depois que o presidente Bolsonaro anunciou, que não indicaria a recondução de Roberto Castello Branco para mais dois anos de mandato na Petrobras. Há uma semana, Castello Branco passou o cargo ao general Joaquim Luna e Silva, que veio de Itaipu Binacional.

Mas neste mês de abril a equipe de Guedes veio se liquefazendo: no IBGE saiu a presidente Suzana Cordeiro Guerra (amiga da filha do ministro), por falta de verba, no Orçamento Geral da União para o país fazer o Censo (adiado de 2020 pela pandemia) e agora saem o secretário de Fazenda, Waldery Rodrigues (a quem foram atribuídas trapalhadas na negociação do OGU com o Congresso). Waldery será substituído por Bruno Funchal, que foi para o Tesouro na saída de Mansueto de Almeida.

E as duas últimas das 8 secretarias especiais criadas por Guedes quando fundiu no Ministério da Economia as pastas da Fazenda, Planejamento, Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Comércio Exterior, Trabalho e Previdência Social, também serão trocadas. Devem deixar o governo os secretários Carlos da Costa, Carlos Da Costa, de Produtividade, Emprego e Competitividade, e Martha Seillier, do Programa de Parcerias de Investimentos (que vai trabalhar no Banco Mundial). Também sairá do ministério a assessora especial Vanessa Canado.

Será por isso que Paulo Guedes fez a asneira de criticar pesadamente o maior parceiro comercial do Brasil, a China, que responde por dois terços do saldo comercial do país e nos entrega 84% dos Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs), seja para a CoronaVac do Butantan ou a AztraZeneca da Fiocruz? Até quando Paulo Guedes resistirá.

Somos 213 milhões sem ação

Por falar em Censo e IBGE, não sei se foi a acefalia do órgão, mas não foi noticiado que neste fim de semana o Brasil mudou de patamar. Somos agora uma nação de 213 milhões de habitantes. Segundo o sistema do IBGE, que acompanha online as projeções da população do país e de seus estados, nasce um brasileiro a cada 20 segundos.

Com as mortes pela Covid-19 estamos correndo o risco de termos pela primeira vez, em abril dias ou semanas com mais óbitos que nascimentos no Brasil, um fato inédito em 521 anos. Mas sem Censo, nada disso é esmiuçado e as autoridades dos diversos ministérios ficam tateando no escuro sem informações precisas sobre a realidade e a tendência da população. Idem, nos estados e municípios.