O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Reajustes da Petrobras levam alta da Selic a 2,50%

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Publicado em 01/03/2021 às 16:06

Alterado em 01/03/2021 às 16:07

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A 20 dias do fim do seu mandato, em 20 de março – que poderá ser prorrogado até que o nome do seu sucesso indicado, o general Joaquim Silva e Luna, que estava no comando da Itaipu Binacional seja aprovado em assembleia –, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco promoveu o 5º reajuste da gasolina este ano. A partir de amanhã, 2 de março, o litro custa em média R$ 2,60 nas refinarias, com alta de 2,48% sobre a tabela anterior. No ano, a alta acumulada chegará a 41,6%. Desde dezembro, quando houve a última queda, no dia 3 de dezembro, a gasolina foi reajustada sete vezes. No período, o barril de petróleo do tipo Brent valorizou 38,77%, enquanto o dólar, que chegou a cair a R$ 5,07 em 12 de dezembro, e hoje está em R$ 5,58, subiu 10%.

Castello Branco ignorou a irritação do presidente Jair Bolsonaro com os reajustes da gasolina, diesel e GLP e cumpriu o que dizia sua camiseta na entrevista por vídeo conferência com a imprensa, na última 5ª feira, - o alerta do metrô de Londres “Mind the Gap”, advertência aos usuários para a diferença entre o metrô e a plataforma – numa alusão à necessidade de alinhamento dos preços dos combustíveis no mercado interno aos preços internacionais do petróleo e dos combustíveis, ajustados pelo câmbio.

Infelizmente, como o real está em baixa e o barril de petróleo do tipo Brent segue em alta, a paridade do barril do brent atualizada pela cotação do dólar em reais variou 43% desde dezembro. As críticas à Petrobras são de que a estatal poderia absorver essa alta temporária do barril de dezembro para cá, devido ao auge do inverno nos Estados Unidos e Hemisfério Norte, que paralisou a produção no Texas. É que as cotações dos contratos do brent para entrega em abril e maio já indicam queda dos atuais US$ 66,75 para a faixa de US$ 64, coincidindo com a queda da demanda por aquecimento no Hemisfério Norte, que já estará na primavera.

Assim, a Petrobras promovei o 4º reajuste do diesel este ano. O produto mais vendido no Brasil e cuja escalada irrita os caminhoneiros, que não conseguem programar os contratos de frete (sobretudo no distante escoamento das safras do Centro-Oeste), quando há mais de uma mudança por mês (e foram duas em fevereiro), subiu mais 5% nas refinarias, onde o litro custará, em média, R$ 2,71, acumulando alta de 33,9% em 2021.

Gás de bujão custará metade do Bolsa Família

Pior foi o reajuste de 5% para o gás de bujão (GLP), utilizado em quase 90% dos lares brasileiros. No ano, os três reajustes acumulam 17,1%. A Petrobras vai vender o bujão de 13 kg de GLP a R$ 39,69, em média, nas refinarias. Mas, com os impostos e as margens dos atravessadores, sem qualquer controle nos grandes centros, onde os milicianos e traficantes tomaram conta dos negócios nas comunidades carentes, o bujão vai passar de R$ 100 ao consumidor.

Isso equivale a mais de 50% do Bolsa Família, que ainda não foi reajustado e vale cerca de R$ 192. Os estudos sugerem a correção, pelo menos, com a aplicação dos 5,45% de variação do INPC em 2020. Com isso, o valor do Bolsa Família, iria para R$ 202,45. Mas os cálculos dependem da aprovação do valor a ser fixado para o novo Auxílio Emergencial (de R$ 250 a 300).

Mercado prevê alta da Selic a 2,50% em 17 de março

O efeito da nova escalada dos combustíveis foi forte nas mesas de operação do mercado financeiro. Embora a última pesquisa Focus, fechada 6ª feira, 26 de fevereiro, e divulgada hoje pelo Banco Central, apontasse a previsão de alta da taxa Selic com atuais 2,00% ao ano para 2,25% a.a., o mercado já está inclinado a concordar com o Departamento de Estudos Econômicos do Itaú, que já no dia 26 revisou de 0,25 pontos percentuais para 0,50% a previsão de alta da Selic na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, dias 16 e 17 de março. Assim, o Copom elevaria a Selic para 2,50% a.a.

O Itaú, que apostava na Selic em 3,50% este ano, elevou a projeção para 5%, nível mantido para o ano que vem. Mas isso era antes da última alta dos combustíveis, que pode elevar o IPCA em 12 meses para mais de 6% em maio. É que as taxas de abril e maio de 2020 foram negativas (respectivamente, -0,31% e -0,38%). E as expectativas são de mais de 0,40% em março (0,07% em março de 2020) e de mais de 0,32% em abril e maio.

IPCA acima da meta de inflação

O Itaú reviu a projeção do IPCA de 2021 de 3,5% para 3,9%, acima da meta de inflação do Banco Central para este ano, que é de 3,75%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. O Bradesco reviu, também no dia 26, a estimativa da inflação desde ano de 3,5% para 3,9%.

Entretanto, como a meta de 2022 é de 3,50% e a de 2023 é de 3,25% (com a mesma tolerância de 1,5 p.p. e o Banco Central, agora com mandato independente, tem esse compromisso com o Ministério da Economia, o horizonte da política monetária tem de mirar as consequências futuras da recuperação da economia e do emprego (com as naturais pressões de demanda) sobre os preços dos produtos e dos serviços.

Assim, seria prudente, desde já, o Copom pisar no freio para reduzir a velocidade da inflação no 2º semestre (isso será conseguido por efeito estatístico, pois as taxas foram elevadas no 2º semestre de 2020, quando o Auxílio Emergencial de R$ 600 gerou maior demanda por alimentos e os estoques estavam muito baixos ou zerados por excesso de exportações, estimuladas pela alta de até 42% no dólar até outubro) e em 2022 e 2023.

Como o ano de 2022 tende a ser complexo, pela campanha da reeleição, o Banco Central precisa preparar o terreno este ano para evitar o pior.

Nas suas novas previsões, o Bradesco ainda estava mais cauteloso, prevendo alta de 0,25 p.p. na Selic em março ou maio e taxa de 4% em dezembro. O aperto nos juros pode desacelerar a recuperação da economia. O Itaú espera que o PIB cresça 4% este ano.

Bradesco prevê PIB até 1% menor no 1% trimestre

O Bradesco é mais pessimista e espera alta de 3,6% no PIB de 2021, após queda tombo de 4,5% no ano passado (o Itaú espera queda de 4,1%).

O Departamento Econômico do Bradesco vê o cenário de recuperação dependente da marcha da vacinação: “Se não houver atraso no cronograma de vacinação, o grupo prioritário estará imunizado até o final do 2º trimestre, o que tende a reduzir a pressão sobre os sistemas de saúde, a julgar pelas experiências de outros países. O mercado de trabalho deve retomar o desempenho do final do ano passado, com forte geração de vagas e renda que, somado ao uso da poupança acumulada, compensará a redução do valor do auxílio emergencial”.

O Depec Bradesco assinala que “os níveis de emprego na economia estão abaixo daquele sugerido pelo PIB. Apesar dos ganhos de produtividade vindos com novas tecnologias, não nos parece razoável que o impacto tenha sido tão relevante”. E espera que “3 milhões de empregos sejam criados em 2021. Por fim, com estoques nos menores níveis em 15 anos e com forte recuperação da utilização da capacidade instalada, a indústria deve acelerar a produção ao longo do ano”.

Apesar do cenário mais favorável, o banco espera “queda de 0,5% a 1% do PIB no 1º trimestre, mas mantemos nosso cenário de recuperação ao longo do ano, chegando a 3,6% em 2021”.

Consumidor recupera ânimo com vacina

O impacto da vacinação contra a Covid-19 sobre o ânimo do consumidor foi detectato por pesquisa sobre a Confiança do Consumidor colhida pela Fundação Getúlio Vargas entre os dias 14 e 21 de fevereiro. A possibilidade de reedição do Auxílio Emergencial também caiu bem.

Mas a coordenadora das Sondagens da FGC, Viviane Seda Bittencourt, assinala que “os níveis de confiança, no entanto, continuam baixos e a sustentação de uma tendência de alta dependerá de fatores como a velocidade da vacinação, da evolução dos números da pandemia no Brasil e, principalmente, da recuperação do mercado de trabalho, algo difícil no 1º semestre de 2021 considerando-se a grande dificuldade que será novamente enfrentada pelas empresas do setor de serviços, segmento que mais emprega no país”.