
IESA RODRIGUES
Paris / O bom, o mau e o feio
Publicado em 06/10/2025 às 19:40
Alterado em 07/10/2025 às 06:45

Esta semana de moda parisiense que anuncia o que será vestido no verão de 2026 (meio do ano que vem) lembra este western spaghetti. O título é perfeito para classificar as coleções. A agenda bem equilibrada segura a plateia até o final, nesta segunda-feira, quando desfilou a coleção Chanel assinada por Matthieu Blazy. De qualquer maneira, deixo para o fim o resumo de tendências, mesmo que já estejam bastante óbvias.
Quanto às classificações, confiram possíveis marcas dignas dos personagens do Good, Bad and Ugly (sem o Clint Eastwood):
O feio: sinceramente, fico até triste por incluir a Valentino neste padrão. Alessandro Michele sempre nos contempla com referências inovadoras e divertidas, é um dos meus favoritos. O problema talvez seja ter visto os originais do Valentino Garavani, em desfiles de modelos lindas e exuberantes. Fica difícil gostar de um Valentino com UM - só UM! - vestido vermelho e um desfile sério, de modelos zumbis. Cadê você, Michelle?
Gaultier: um vestido de saia aramada, lembrando Marylin Monroe e bustiê de cones, lembrando Madonna Foto: reprodução
Outra decepção, o Gaultier. Volto à questão de ter visto Betty Lago de terno risca de giz, fumando na passarela, nos anos 1970, quando Jean-Paul Gaultier era considerado o enfant terrible da moda. Agora temos segunda-pele de nudez, golas avulsas com ombros, que só posso imaginar vestidas sobre camisetas ou outras bases. Tudo cavadão, inclusive os masculinos. E o vestido com saia aramada na frente? E o top com busto-cone, lembrando o figurino da Madonna? Quem assinou foi Duran Lantink, nunca tinha ouvido falar. Volta, Gaultier.
O mau
Comme des Garçons: difícil imaginar alguém vestido assim Foto: reprodução
O que pode ser mau, na moda? Algo que não favoreça a pessoa? Feito com materiais com altos índices de poluição? Ou utilizando mão-de-obra escrava? Difícil definir quem atende a estes problemas, só assistindo ao trabalho pronto, sem tocar no suposto couro, sem saber de onde são os ateliês. No quesito favorecer, pela apresentação, só posso lembrar da Comme des Garçons, a eterna conceitual que parece brincar com os tecidos. No varejo, ela leva camisas ótimas e calças perfeitas. Alguém tem que fazer este tipo de estilo, para sair do marasmo da vida real.
Balenciaga: recortes e a volta do cós baixo, risco de vulgaridade Foto: reprodução
O Balenciaga do Pierpaolo Piccioli foi além do que ele, normalmente elegante, costuma fazer. O cós muito baixo, passando do início do traseiro e as peças deixando a barriga à mostra, são sustos que vamos passar, vendo nos corpos das celebridades mais ousadinhas. Do Cristóbal, identifiquei as camisas com cauda.
E o bom
Matières Fécales: elegância rebelde, nos tailleurs desfiados e no desfile, com jeito dos anos 1950 Foto: reprodução
Neste páreo de grandes marcas lideradas pelo troca-troca de diretores artísticos, é preciso prestar atenção em gente nova, que nem se sabe de onde saiu, que se apresenta precariamente. Pois quem diria que uma grife que se intitula Matières Fécales (tradução: Cocô. Ou Merda, Matéria Fecal, como queiram). A performance viva dos modelos, nem todos profissionais, mas impecáveis nos gestos e expressões contribuiu para enfatizar a beleza dos tailleurs rosados, com mangas abertas a partir dos cotovelos, bainhas desfiadas, os tules franzidos sobre bases opacas, a saia com babado enviesado nas costas, os conceituais, com destaque para o vestido todo de flores desiguais. Pode ser considerado um dos destaques da semana. Quem assina: Hannah Rose e Steven Bhaskaran. Quem já veste: Lady Gaga.
McQueen: recortes bem proporcionais e os casacos estilo Sgt Pepper, prontos para vestir Foto: reprodução
Dos ingleses, esperava mais da Victoria Beckham, queria mais além dos ternos de bainha arrastando no chão e dos drapeados. Gostei do que o Sean McGirr, sucessor da Sarah Burton (que agora está na Givenchy) fez no McQueen. Proporções corretas, um toque militar, que Ines (fotógrafa e filha) lembrou da capa do Sgt Pepper, nos casaquetos com platinas e tiras aplicadas na frente. Vestidos com um recorte triangular desnudam um pedaço da cintura, grandes lapelas nos ternos e um trench reinterpretado em azul.
Esta semana de Paris mostra otimismo em um mundo onde as marcas chinesas, como a Shein, abrem espaços nas grandes lojas parisienses. Para quem acompanha profissionalmente, o maior desafio é descobrir quem assina o quê. Algumas mudanças deram certo, outras provocaram saudades de John Galliano, Michael Kors (que fazia Celine maravilhosamente nos anos 1980), Hedi Slimane (que revolucionou a moda masculina na Dior) e Alber Elbaz (em Lanvin, não em Saint Laurent).