
IESA RODRIGUES
Paris / um verão neutro
Publicado em 04/10/2025 às 12:26
Alterado em 04/10/2025 às 12:36

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Mesmo que as previsões do Pantone, a bíblia das cores, anunciem laranjas e marrons para o ano que vem, parece que as roupas serão quase invisíveis, de tão neutras nos tons. O que demonstrará a não-nudez será o relevo dos drapeados e babados, presentes em todas as coleções, desde segunda-feira.
Revisões dos anos 1960/1980
A década de 1960 marcou o nascimento da turma de criadores que democratizou a moda. Era Saint Laurent, Pierre Cardin, Paco Rabanne, Emanuel Ungaro, Louis Féraud, Jean-Louis Scherrer, entre outros, que seguiram o pioneiro Christian Dior. Os 1980 trouxeram uma turma nova, que incluía Claude Montana, Thierry Mugler, Alaïa, Kenzo (este começou a ser copiado pelo mundo inteiro nos 1970).
A maioria destes nomes não está mais neste plano da vida. Mas as marcas sobrevivem, investindo principalmente em cosméticos e perfumaria. Só que é preciso manter a imagem das empresas, mostrar as coleções em desfiles e semanas de moda. Aí é que a estratégia complica: os novos diretores de criação devem continuar o trabalho original ou reinventam os estilos, com seus próprios focos atualizados?
Temos dois exemplos destas revisões, na agenda de quinta-feira: Paco Rabanne e Thierry Mugler. A primeira providência é reduzir as marcas, ficam apenas Rabanne e Mugler.
E vamos às revisões: primeiro, Mugler, com a assinatura do português Miguel Castro Freitas. As cores, nos tons neutros, cremosos, beges, acinzentados. As formas, ajustadas, nas linhas dos corpos, com saias em geral midi. Há longos e pantalonas também e os tradicionais pretos no final. Uma coleção muito bonita, feminina, sóbria na passarela. Qual a diferença em relação ao que Thierry fazia? É justamente esta sobriedade elegante, que no original era puro glamour, com cabelos longos, ondulados, lembrando as estrelas hollywoodianas. Thierry, ex-bailarino e figurinista, tinha esta paixão pela mulher linda, quase irreal. Atualmente, dedica-se a fazer plásticas e construir um corpão musculoso. Vejam só: se o próprio criador original se transformou, podemos considerar o trabalho do Miguel Castro muito coerente.
Rabanne: sutiã e calça aberta nas laterais / babados e faixa caída na lateral / lembrança dos metais originais / camiseta franzida e acessórios de metal Fotos reproduções
Outra revisão, esta bastante diferente do original, é na marca Rabanne. Julien Dossena assina a série de looks masculinos e femininos para um verão bem praiano. À primeira vista, confesso que não agrada a profusão de tops com círculos recortados, mostrando sutiãs de alcinhas em V. Ou uma espécie de cinturão com círculo em relevo na frente, no mesmo material das saias e calças. Alguns drapeados nos quadris, com faixa caída na lateral, Saiotes e vestidos com barras de babadinhos. Depois, ao longo da passagem do elenco, fui me conformando e vislumbrei que poderia ser uma pista para moda praia, quem sabe?
Ah, onde estão as roupas e bolsas feitas de placas de metal ou de acrílico, que valeram ao Paco Rabanne o título de Metalúrgico da moda? Dossena deve ter achado um tanto batido, pouco comercial. Minha impressão é que pegou alguns rolos de papel alumínio e fez alguns colares e bolsinhas, tudo bem amassadinho.
Carven: os brancos, em versão pregueada, com recortes e a saia com planejamentos laterais, retiráveis Foto: reprodução
Outra marca antiga, Carven. Passou um tempinho meio esquecida, visual madame demais. Mark Howard Thomas (por que não encurtam os nomes também?) deu um jeito de chamar a atenção de quem analisa as modas, sem perder o estilo elegante. Alguns truques simples renovam: há uma alça caída de um lado em um top, uma camisa desabotoada, também mostrando um ombro. Ou um top de verniz preto, com calça reta, capaz de sair para dançar à noite. Os comprimentos rondam o midi, com destaque para o vestido tomara-que-caia branco, todo pregueado, mas marcando o corpo. Preciso dizer as cores? Cinza, branco, areias, preto. Chique para as madames e suas herdeiras.
Owens: shorts, capa longa e veste, com botas na água Foto: reprodução
Owens: visão geral do desfile do Rick Owens no Museu do Homem Foto reprodução
E o diferente Rick Owens
Este é sempre imperdível, pela dramaticidade das apresentações. Desta vez, usou a parte dos fundos do Museu do Homem, montou uma escadaria larga que desembocava em um espaço de água, entre jatos de fumaça e chafarizes eventuais. Quem acha absurdo ver as modelos de cabelos lisos molhados, chafurdando na água com botas de salto blocado, arrastando as barras das roupas na água quase até os joelhos, talvez esqueça de reparar na beleza dos longos brancos, com caudas, na modelagem meio franzida das calças ajustadas, nos ombros rígidos, nos longos fluidos, de mangas longas, alguns com o recorte circular no peito. Rick Owens é estilo, criatividade e espetáculo.