
IESA RODRIGUES
Paris: dia de surpresas
Publicado em 02/10/2025 às 23:18
Alterado em 02/10/2025 às 23:24

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Uma das vantagens de uma boa semana de moda é o imprevisível. Certos desfiles provocam arrependimento de ter enfrentado um voo de 11 horas. Outros surpreendem, porque no passado eram descartáveis, de tão fracos. A quarta-feira foi assim. Uma apresentação mostrou o lado de impacto da performance, outra chegou a irritar, de tão decepcionante.
Acne Studios: texturas de couro, grandes bolsas franjadas e o tingimento envelhecido na regata Foto: reprodução
Acne Studios, pouco
A marca sueca era uma novidade no jeans, quando começou a se apresentar como show room em um prédio antigo de Paris,. Agora que a Acne participa da agenda oficial precisou mostrar algo mais. Só que foi pouco. Maioria das peças, calças e paletós, em aspecto couro. Ternos verdes, paletós com escurecido em alguns pontos, como se fossem envelhecidos (isto, interessante). O jeans fica entre os rasgados (ainda!) e uma lavagem drástica, que praticamente elimina o índigo do tecido. Nos acessórios, brincos para todos, homens e mulheres, botas longas com traços western e bolsas de todos os tamanhos, com franjas arrastando pelo chão. A beleza tem personalidade, mas deu um pouco de pena de ver os modelos com parte da cabeça raspada, uma trança nas costas e uma franja picotada. Se não foi peruca, esta turma não faz nenhum outro desfile.
Pintinho branco no leotard preto, com chapéu estilo origami, em Dior Foto: reprodução
Entre as pregas na frente da veste e o look coberto, um mero jeans com blusa de laço Foto: reprodução
Dior, o que dizer?
Proporções estranhas, vestidos e saias com volume na frente, parecendo um traseiro ao contrário, micro tudo: vestidos, tailleur, saias; balonês curtos, embolados. Um vestido com a saia toda montada em retângulos, como pilhas de cartões, leotards ou segundas-peles com peitilhos brancos, uma veste com um pregueado triangular na frente. Nas cabeças, chapéus parecendo feitos como origamis. Quando passou uma mísera camisa polo com calça, deu até um alívio. Tudo estranho, desde a espera, com velozes projeções em uma pirâmide invertida no centro da sala - há comentários que um fotógrafo entrou em síndrome do pânico -, a beleza sem glamour e a plateia também iluminada, integrando o desfile aos convidados. Foi a estreia do Jonathan Anderson, americano respeitado pelo espírito inovador. Sei não: nem no tempo do querido Marc Bohan vi um Dior tão esquisito. Desculpem, tenho que repetir: saudades do John Galliano.
Em Balmain, modelos drapeados com calças bufantes, o salto invertido e a bolsa de franjas Foto: reprodução
Olivier Rousteing: ele merece a foto! Foto: reprodução
Balmain, que bom!
A graça começou nas fotos das convidadas, antes de entrarem na sala do belo hotel. Foi um desfile espontâneo, uma confirmação de estações passadas. Quanto à coleção, que surpresa! Balmain costuma ser sinônimo de brilho, extravagâncias na fronteira do cafona, tecidos metalizados. Pois desta vez, ao som de um concerto para violinos de Bach, Olivier Rousteing surpreendeu com uma linda série de drapeados em todos os sentidos dos corpos, atravessados, pregueados e franzidos. A base foi uma calça bufante, que podemos denominar bombacha e tops desde blusas de alcinhas até vestes de lapelas largas. Alguns macramês reforçando o foco artesanal, repetido nos muito colares e nos cintos de corda. Além dos cintos, escarpins de salto invertido e óculos de lentes rosadas. Muito bom, o Rousteing!
O lado sexy nos longos pretos Foto: reprodução
A lapela levantada no blazer, longos ousados com fendas e decotes e a força do look de couro Foto: reprodução
Tom Ford, vale o gasto!
O desfile Saint Laurent foi perfeito, como coleção, como espetáculo. Mas Tom Ford…arrasou. À primeira vista, parecia que ia dar ruim (desculpem o coloquial, gosto desta expressão) porque quem esperava na transmissão ao vivo só recebia imagens de fumaças e um som de túnel, tudo preto. Quando a luz acendeu, tudo deu certo. Desde a coleção de muitos ternos sedosos, em verdes, azuis, rosas, com cós elástico, os blusões secos, só com fechos. O texano sempre propõe sensualidade, desta vez nos longos com fendas altas ou decotes abaixo dos umbigos. Ou longos com a frente montada aramada, acompanhando o movimento do corpo. A simplicidade, talvez dentro do conceito quiet luxury foi realçada pela performance: no grande espaço quadrado homens e mulheres andavam devagar, se olhavam, interagiam, todos lindos. Tipo de evento que vale sair de casa e ter o privilégio de dizer que estava lá.