
IESA RODRIGUES
A terça-feira dos desfiles de Paris
Publicado em 01/10/2025 às 23:00
Alterado em 01/10/2025 às 23:09

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Ser assídua em eventos de moda provoca alguns problemas. Primeiro, lembrar como era o DNA da marca, com seu criador. Segundo, entrar em polêmicas com quem não conhece o estilo do atual designer. Terceiro, ser solidária com a atual conjuntura de vendas reduzidas. Ao vivo, no streaming ou nas mídias sociais das marcas, há acesso a tudo, porque o medo da cópia foi superado e é mais importante manter o nome vivo do que tentar vender. Daí, que muitas coleções parecem absurdamente esquisitas (exemplo: Gucci, em Milão): isto provoca comentários, mantém a marca no circuito. Tipo, "falem mal, mas falem de mim?"
Louis Vuitton
Local maravilhoso, uma sala no Louvre. Plateia elegante, como sempre, quase toda de preto - quem tem experiência sabe que assim atrapalha menos a coleção, nas fotos e videos. Uma felicidade: platéia com cadeiras, com encostos, em lugar dos terríveis banquinhos.
Vuitton: exageros Foto: reprodução
Nicolas Ghesquière, que agradeceu no final com simples jaqueta jeans e calça básica, deu toques conceituais na coleção. Como justificar tantos babados e folheados nos looks, por que debruns pretinhos em bases brancas? O melhor é a alfaiataria de cintura marcada, pode ser complementada por leggings e ter colarinho alto, branco. Um corpete com franzido no decote e na barra é interessante, desde que o manequim seja PP. Nos acessórios, o forte da marca, nota-se a diminuição do tamanho das bolsas: vai ver, é porque ninguém mais anda com dinheiro, cartões, vai só o celular para pagar sua Moet Chandon.
Sinceramente: que saudades do Marc Jacobs.
Vuitton: corpete Foto: reprodução
Vuitton: bolsinha Foto: reprodução
Courrèges
De novo, a comparação com o DNA da grife criada pelo arquiteto André Courrèges. O primeiro minimalista do prêt-à-porter, um dos primeiros a investir em saias mais curtas. A versão do atual criador, Nicolas di Felice, utilizou pouco destes parâmetros. Ainda não sei como definir, se a referência é a burka ou a prevenção de epidemias. Qual será a razão dos véus que saem pendurados de bonés e das placas que escondem os rostos? Em todo caso, há um belo tom de verde claro, drapeados interessantes e recortes laterais na altura da cintura. Mais uma vez, confirmado o corte de alcinhas e a atitude de mãos nos bolsos, quando eles existem. Gosto dos quadriculados em preto e branco.
Courreges: decote de alcinhas Foto: reprodução
Courreges: tirinhas Foto: reprodução
Dries van Noten
Este pelo menos se aposentou e passou o cargo para um assistente, o Julian Klausner. A linha clássica, que sempre foi discreta e parecia feita para mulheres altas e fortes, ganhou formas mais leves e sensuais. Há babadinhos, franzidos e paletozinhos cinturados, cheios de botões na abertura em diagonal. Transparências em vestes sobre sutiãs e calcinhas. Bolinhas e bolões (isto é, círculos pequenos e grandões) em vestidos simples, uma dupla lembrando a op-art e estampas de espirais jogadas nos corpos. Mas há sempre um detalhezinho que vale: um casaco preto, com uma lapela só, estampadinha.
Lanvin
Jeanne Lanvin, uma das pioneiras no prêt-à-porter, sempre gostou do azul. Tanto que, assim como existe o vermelho Valentino, existe o azul Lanvin. O atual diretor de criação, o inglês Peter Copping, ampliou a cartela dos azuis, usou o ultramarino, o cobalto, o celeste. Quanto à coleção, quem procura extravagâncias e aberrações nem perca tempo olhando. É roupa sensata, em sedas drapeadas, casacos com grandes palas, estampas tiradas dos arquivos da Maison, suéteres perfeitos. As mangas, detalhes importantes até agora nas coleções, são poderosas, sem exageros. Um trabalho bonito, próximo do que o Alber Elbaz fazia.
Lanvin: blusa azul Foto: reprodução
Lanvin: estampa de casa Foto: reprodução
Lanvin: sueter e saia Foto: reprodução
Stella McCartney
Espera-se tudo da Stella, nem a roupa importa muito. Como não se emocionar com o tema Come Together, as letras da música lidas ao longo do desfile? Como não virar a cabeça 360 graus buscando o papai Paul na platéia? Em todo caso, até que desta vez os modelos amplos foram substituídos por vestidos curtos, de saiotes rodados, um doce vestido com brilho e panejamentos naquele tom de rosa que as inglesas gostam, calças jeans duplas, como se fossem sobrepostas. E o destaque para o vestido branco com o corpo plissado, drapeado da cintura para baixo.
Ah, as bolsas, diminuíram de tamanho, são quase necéssaires. Vamos aposentar as Falabellas por um tempo.
Stella McCartney: jeans duplo Foto: reprodução
Stella McCartney: vestido curto Foto: reprodução
Stella McCartney: vestido rosa Foto: reprodução