Moda e Estilo

Por Iesa Rodrigues

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IESA RODRIGUES

Moda é arte? Ou arte é moda?

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Publicado em 20/09/2025 às 12:53

Alterado em 21/09/2025 às 21:35

Vitrine da Dona Coisa com look pintado por Patrícia Secco. E a Vespa da Roberta Damasceno Foto: Ines Rozario

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Que considero moda uma forma de Arte, já é mais do que dito e escrito. Pode ter sido pela formação em Belas Artes, com professores que ultrapassavam a frieza do curso de Design e Artes Gráficas. O fato é que associo os drapeados às esculturas clássicas, o colorido às maravilhas dos abstracionistas e as texturas aos painéis do Galvão.

Nesta semana admirei obras de Arte, mais do que vestimentas. Senti o privilégio de conversar com criadoras apaixonadas pelo que fazem, muito mais interessadas em contar de seus processos artísticos do que vender peças de tecido.

Pollock na vitrine

Um dos meus favoritos nos museus, aquele que muita gente comenta "meu filho faz igual", o Pollock, que me recebe no MoMA. Pois Patrícia Secco me lembrou dele, com seus traços, borrões e pinceladas em calças, camisas e vestidos de linho da coleção Je m’emerveille (eu me maravilho), que celebra 10 anos da marca Número 10 e 20 da multimarcas Dona Coisa.

"Foi um projeto pensado em um almoço, à noite já havia protótipos! Patrícia é conhecida como uma locomotiva de trabalho!", contou Roberta Damasceno, da Dona Coisa.

“O mérito do projeto é da Roberta! Ela pediu que fossem intervenções abstratas, em azul ou preto. Mas fiz uma em rosa pra mim!", acrescentou Patrícia, rindo.

E como foi o processo, qual foi a peça mais difícil?

“As camisas são rápidas. Demoradas são as calças, porque tem que abrir no chão, sobre plástico, Demorei duas horas para fazer 14 calças!", contou, como se fosse um feito comum 14 calças em duas horas..


Patricia Secco (esq.) e Roberta Damasceno Foto: Ines Rozario


Trio de looks pintados na coleção Je m’emmerveille, da Número Dez Foto: divulgação

Segundo Roberta, Patricia por isto é conhecida no circuito da Arte como a Locomotiva. Além da rapidez, seu olhar da Arte se estende ao bordado, ao crochê, tudo a jato.

Sabem aquela entrevista que surpreende? Pois estou de boca aberta até agora. Que bom que a Roberta faz da Dona Coisa um ponto de venda de lindas camisas de linho, calças de seda amassada, vestidos de seda capazes de frequentar eventos no mundo, sempre com conceitos além-roupa. Uma camisa da dupla autoria custa R$ 1.860, e no lançamento era alvo de disputa, apesar de, pela confecção, só ficarem prontas em 40 dias.

De coração


Um quimono bordado e a dupla Evelyn Branco e Leticia Costa Foto: divulgação

Nem Salvador Dali criaria formas tão expressivas quanto as vistas na exposição Fios do Afeto, na Casa da Antonia, na rua dos Oitis (Gávea). Fui ver, com a expectativa de uma galeria de quadros pendurados. E me deparei com uma série de quimonos feitos de linho, sedas de soja, de banana, de bambu ou de eucalipto. Primeiro susto: nunca ouvi falar de seda de banana ou de soja! Cada quimono com um coração bordado e um fio pendurado no cabide. “É o DNA", explicou Evelyn Branco dona de um currículo de 33 anos como figurinista (Video Show, Vai que cola, Se eu fosse você 2) e começou a produzir os quimonos em 2021 "para as pessoas se sentirem bonitas e confortáveis em casa durante a pandemia”

 


O coração enrolado, obra da Evelyn Branco na exposição Fios do Afeto Foto: divulgação

 

Evelyn se juntou com a artista plástica Letícia Costa que fez do tema Fios do Afeto uma série de obras ao mesmo tempo agressivas e comoventes - como os afetos, na verdade.

“Comecei montando os corações com cacos de louças chinesas da minha avó. Depois, quando acabei com os caquinhos de família, passei a buscar em antiquários. As peças parecem se encaixar sozinhas, como um quebra-cabeças", lembrou Letícia, mostrando as várias versões dos corações. São os transparentes, os enrolados, os em pedaços ou partidos. Mais os Sagrados Corações, pompons vermelhos com fios espetados. Todos, com colares correspondentes, obras de Arte e de Moda. Um colar custa R$ 890; um coração, R$ 1.690, o Sagrado Coração, R$ 1.490.


Colares e corações de cacos de cerâmica, porcelana, acrílico, quebra-cabeças em forma de Arte Foto: divulgação

 

E mais: Evelyn explicou que a exposição homenageia seu professor, Claudio Ulpiano. E a Leticia é mãe do Toz, um dos maiores artistas de paredes urbanas (não consigo chamar de grafiteiro ou pichador) e da Rita Viana, garota que mistura vestido de brechó com colete onde as costas são versos do Caetano Veloso.



Exemplo de estilo original e individual, pesquisado em brechós e trabalhado pela Rita Viana Foto: divulgação


Ainda não superei tanta Arte a pretexto de tanta Moda.

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