
IESA RODRIGUES
O Inhotim da Lenny Niemeyer
Publicado em 24/08/2025 às 09:13
Alterado em 24/08/2025 às 09:20

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Desde os anos 1970, quando os biquínis de jeans e crochê começaram a usar a praia de Ipanema como passarela, o estilo brasileiro desencadeou de Saint Tropez a Venice Beach uma busca pelos nossos asas deltas e fios dentais. Mas não bastava desnudar os corpos.
Em 1991, uma sala no Forum de Ipanema era um segredo entre as cariocas: maiôs e leggings de Lycra de lá atraíam as então chamadas patricinhas, as garotas descoladas da zona sul. Assim começou a carreira da Lenny Niemeyer, que instaurou novo conceito de moda praia: o luxo.
As estampas refletem a Natureza em volta do Museu Foto: Ines Rozario
Inhotim, um desfile de Arte
Agora, depois de abrir este caminho, de ser considerada criadora de maiôs e biquínis só para quem curtia a praia de iate, Lenny continua surpreendendo com suas coleções. O verão de 2026 é inspirado em uma visita a Inhotim, o maravilhoso museu mineiro a céu aberto, que combina natureza e galerias de arte. Os modelos trazem referências que parecem básicas - cortininhas, lenços, bojos. Parecem apenas, porque há detalhes de bordados, alças entremeadas com sementes, preciosidades em estampas florais, Tudo com a originalidade da Arte transformada em roupa.
Detalhes da coleção, adereços em latão e sementes Foto: Ines Rozario
Detalhes da coleção, adereços em latão e sementes
Mesmo nesta época de crises econômicas, Lenny tem patrocínios importantes como o Ministério da Cultura, conta com fornecedores como a Arezzo. E revela trabalhos de látex do Acre, peles de salmão e pirarucu da Nova Kaeru, os acessórios de latão da Ruby Yallouz e as sedas do Casulo Feliz.
O colorido vai do branco e preto aos luminosos Foto: Ines Rozario
Uma coleção inspirada na Arte teria que ser desfilada em um lugar de acordo. A escolha: o Palácio Gustavo Capanema, ex-prédio do Ministério da Educação, com os peixinhos nos azulejos azuis de Portinari em uma das fachadas, no Centro da cidade do Rio. Em lugar da passarela comum, o piso se dividia em tapetes de formas orgânicas da By Kamy.
Ainda não acabou. Falta falar da sustentabilidade, fator importante no mundo atual. O destaque do próximo verão é a Pele Verde, tipo de couro curtido com processos vegetais.
O sinal de sabedoria: interpretar obras de museu com maiôs e biquínis conceituais. Grandes formas de flores, costas com grades de latão, estampas inspiradas nas paisagens de Inhotim. E a variedade de looks para fora da praia, uma alfaiataria impecável, em tecidos leves, longos em cores que costumo chamar de anticolisão - rosa, amarelo, verde, tons que poderiam estar em telas de obras em tintas acrílicas, luminosas. São conceituais? Quem sabe, uma adepta da marca se apaixona pelo longo rosa-fosforescente e confirma que Lenny Niemeyer domina a praia e a vida 24 horas.
Quem ainda engatinha nos princípios do mundo da moda tem que entender que, fora do desfile, há maiôs e biquínis de cortes perfeitos. Ninguém vai para a praia com uma flor gigante na alça do maiô, nem com adereços de latão queimando a pele das costas. Isto é Arte, muito próxima da Alta Costura, uma pesquisa de ateliê.
Lembrei da obra do João Carlos Galvão, colega de turma de Belas Artes, quando vi o look da foto de abertura.