
IESA RODRIGUES
Otavio Meneses: aniversário no Rio
Publicado em 17/08/2025 às 11:14

Duas horas de voo na Europa são suficientes para mudar idioma, cultura, hábitos e…moda. É possível ter semanas de moda para lançar e divulgar autores e estilos diferentes em cidades tão próximas.
Neste grande país que é o Brasil, com duas horas de viagem aérea (talvez até por estrada), surgem marcas e designers dignos de fama e repercussão nacional, que podem ficar desconhecidos pela distância e pela falta de comunicação. Alguns tentam participar de eventos no Sudeste, uma ação cada vez mais cara e nem sempre com o resultado desejado, justamente pelas diferenças de cultura e expectativa da plateia.
Otavio Meneses, de Teresina para a Gávea Foto: Ines Rozario
Um bom exemplo
Há alguns anos fui convocada para uma apresentação de tendências em Teresina (capital do Piauí, para quem esqueceu as aulas de Geografia). Além de uma surpreendente exposição de design de objetos, encontrei Otavio Meneses, autor de bela coleção de modelos em linho e detalhes artesanais.
Não que fosse um isolado do restante do país: já havia estudado no Senai Cetiqt, no Rio de Janeiro, e participado do Dragão Fashion, em Fortaleza. Mas o ateliê ZStudio continua baseado em Teresina. E o designer veio celebrar o aniversário agora em agosto aqui no Rio, motivo para uma entrevista com capuccino na Gávea.
E vem a história:
“Minha mãe era modista, fazia vestidos de noiva, de festa. Eu já tinha esta vivência de ateliê, gostava de retalhos. Desde criança inventava minhas próprias roupas. Imagina, isto rompia com os valores da época. Acabei cursando Direito, estagiei como advogado. Mas não era o que eu queria. Nos anos 1990 vim para o Rio, estudei no Senai Cetiqt, onde tive a formação profissional. Cheguei a criar moda masculina para a marca U2, depois fiz uma experiência na C&A, o que me deu o conceito industrial da moda".
Três modelos da coleção de verão Foto: divulgação
Na volta para casa, há 20 anos, começou a trabalhar com artesãos locais, como as bordadeiras do Parque Alvorada e as artesãs do Morro da Mariana. "Até hoje tenho um olhar sem ser pejorativo para o artesanato", comenta e comprova esta visão pela jaqueta que veste, com entalhes vazados, de mangas compridas. "Não faço manga curta, só longa ou sem manga".
O Ateliê ZStudio - "Z”em homenagem à avó Zezé, Maria José - começou na pandemia, dirigido pela irmã Rosângela. "Como ninguém saía de casa, começamos fazendo pijamas! O meu lado espiritual acha que este período foi sinal de uma nova era, um movimento ruim que será bom.”
As coleções atuais rodam pelo mundo. Londres, Madri e Berlim já receberam a marca em salões. Claro que há momentos inesperados:
"Cheguei direto para a Feira de Madrid, levando as roupas. Entrei no estande e não havia cabides! Foi uma corrida até o Centro, para comprar onde pendurar as peças, quase na hora do evento abrir!".
Paris ainda não entrou na rota de viagens internacionais, por acaso. O plano era sair de Frankfurt e ir para um salão em Paris. Mas a saúde falhou por causa do frio, um resfriado forçou a volta para o Brasil.
“E podia ficar com minha sobrinha, que mora parte do ano em Paris, é a Sarah Meneses, medalhista olímpica no judô. Mas não deu, estava muito mal com a gripe”
E qual foi a roupa mais estranha que fez como pedido pessoal?
“Um look de debutante de uma menina dark, que quis um vestido preto e roxo. Até o All Star eu customizei com metais, para combinar!”
Como bom leonino, Otavio ri e diz que a idade é segredo. Mas não esconde que consegue viver da moda porque não precisa de muito. Faz meditação, é vegetariano, acha que o belo é a Natureza. As coleções têm alcançado admiradores graças às redes sociais, onde as fotos encantam pelas combinações de linhos e artesanatos. Ainda é difícil comprar um modelo irresistível, quem sabe, através de um direct, convencendo a enviar pelo correio. Quem tiver esta sorte, vai receber sua roupa dentro de uma sacola parda, com croqui assinado pelo autor. Alguém se desfaz desta sacola? Nããão: muitas são emolduradas, de tão bonitas.
Otavio está feliz assim, em Teresina. "Já superei a fase de agradar, de ter fama".
Croqui da sacola de compras dos modelos do Otavio Foto: Ines Rozario
Muito bom, que ele tenha vindo ao Rio, para que eu pudesse publicar suas histórias aqui no JORNAL DO BRASIL, onde desde garoto Otavio adorava ler nossas páginas de moda.