Moda e Estilo

Por Iesa Rodrigues

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IESA RODRIGUES

Um fardão com emoção

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Publicado em 13/04/2025 às 10:53

Alterado em 13/04/2025 às 11:02

Julia Parker e seu cliente, Edgar Telles Ribeiro, de fardão da ABL Foto: divulgação

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No dia quatro de abril, um senhor intelectual vestiu uma roupagem especial, como um reconhecimento do valor do seu trabalho. É uma história interessante, desde a origem:

Um pouco antes do Natal, a estilista Julia Parker, dona de um ateliê de roupas de festa e noivas, recebeu o pedido do escritor Edgar Telles Ribeiro. Era encomenda do fardão dele, para ocupar seu lugar na Academia Brasileira de Letras.

“Não conhecia o Edgar pessoalmente, era relação entre famílias. Nem sabia como era um fardão, teria que ver um de perto. Isto foi antes do Natal. Depois do recesso de fim de ano, voltamos a falar e ele conseguiu o fardão do Secchin (Antonio Carlos Secchin, membro da ABL desde 2004) para que eu desse uma olhada”, conta Julia.

Seria a primeira roupa masculina da carreira da Julia, mas ela olhou, fotografou os detalhes e achou que podia encarar. “Queria muito bordar! Gosto muito de bordado - deu um pouco de medo, mas decidi aceitar o pedido.”

O que é um fardão

É um conjunto de calça e casaca, em geral de lã ou cambraia. Antigamente era bordado com fios de ouro, mas atualmente são linhas douradas. Havia um chapéu como complemento, com plumas brancas, que, segundo Julia, ninguém usou no dia da posse. A espada também era tradição do look, mas hoje em dia é apenas colocada em uma aleta da roupa, na posse. O bordado incluía desenhos de folhas de louro ou de café. “Mas nem fiz esta pesquisa, segui o desenho do fardão do Secchin, e o bordado foi executado à máquina, à mão e com brilho de paetês no final”, lembra a estilista, a segunda mulher a confeccionar este traje. A primeira foi a costureira do Ariano Suassuna.

Uma razão definitiva

Julia Parker viu o fardão-modelo, quis muito fazer o bordado, estrear na roupa masculina, seguindo os rígidos padrões da alfaiataria. E ainda houve uma razão a mais para aceitar o pedido do Edgar: era o autor favorito da avó dela, o livro "Criado Mudo" entre os preferidos. “Quando meu pai me contou isto, vi que tinha que fazer, era emocional, um pouco um pedido do além, minha avó pedindo”. Assim, em três meses, começando no ateliê no dia seis de janeiro, até o 27 de março, com o Carnaval no meio do caminho, Edgar Telles Ribeiro vestiu seu fardão de lã fria, tecido leve italiano, com paetês, folhinhas e flores bordadas, aleta para a espada e a competência da autora. Modesta, ela resume: “fiz tudo milimetricamente, com o maior cuidado. Gosto de criar para cada pessoa, sob medida, com exclusividade. Estou acostumada com trabalhos complicados…”

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