Moda e Estilo

Por Iesa Rodrigues

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IESA RODRIGUES

Tendências para depois do calor

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Publicado em 30/03/2025 às 12:03

Alterado em 30/03/2025 às 12:03

Coleção Playmobil, exemplo de parceria com artista plástico Foto: Ines Rozario / divulgação

Enquanto o inverno não faz as malas e vem do hemisfério norte - em Orlando chegou a nevar! - para amenizar o calor das nossas bandas, vamos nos distraindo, pensando no que vestiremos quando a temperatura enfim baixar. O assunto tendências ainda rende, porque, por mais que se negue, basta olhar para o guarda-roupa atual e ver que certas peças há muito não saem dos cabides. Porque perderam o momento.

As décadas comandam

Em vários setores dizem que não há mais o que inventar. Talvez na moda isso aconteça nos cortes, nas cores, nos comprimentos. O que vai evoluir é a roupa sem gênero. O aperfeiçoamento do trabalho manual. A descoberta de novas misturas nos tecidos, entre fios naturais e sintéticos - repararam como nossas blusas de linho dos anos 1980 amassam muito mais do que as atuais? O mínimo de fio elástico integrado nas texturas naturais garante o aspecto menos enrugado.

As parcerias com a Arte são inesgotáveis. Um exemplo foi a coleção da Sardina, marca da Gloria Marques com o artista plástico Heberth Sobral, com o tema do brinquedo Playmobil. Configura uma categoria interessante, a da roupa colecionável como uma obra de arte.

Quanto à influência das décadas, elas são sutis e ao mesmo tempo fortes.


Longo estampado da coleção Maria Filó Foto: Ines Rozario / divulgação




Cabelo estilo samurai, usado pelo Mestre Ye Foto: divulgação


Anos 1970: esta linha chamada Boho, um aspecto chic do Hippie, traz de volta os vestidos longos, estampados. Para os homens, há uma versão do conforto dos caftans e túnicas. É a vez das barbas e cabelos longos. Não os desgrenhados de Woodstock, mas os bem tratados, em rabichos de samurais.



Ombros marcados na coleção Stella Mc Cartney Foto: divulgação



Bermuda ou shorts com paletó, novo chic (foto divulgação .Bermuda ou shorts com paletó, novo chic (foto divulgação


Look preto de uma das coleções da Comme des Garçons (foto divulgação) Look preto de uma das coleções da Comme des Garçons (foto divulgação)


Anos 1980: esta é forte. Voltam os ombros marcantes. Vistos em desfiles internacionais, confirmam a alfaiataria como processo de modelagem. Acho que ninguém vai voltar a usar sutiãs de ombreiras, mas este estilo reforça as peças tipo blazers, 24 horas. Um novo chic, a bermuda com paletó. Em compensação, há espaço para as linhas justas, que são cobertas pelos abrigos derivados do esporte. Um casaco Adidas aquece um vestido de seda, por exemplo.


Camiseta da coleção do Felipe Neto Foto: reprodução catálogo


Anos 1990: uma década de notícias preocupantes ou tristes. Começou com a guerra do Golfe e acabou entrando 2001 com a queda das torres de Nova York. Neste meio tempo as grandes marcas européias foram absorvidas pelos grupos empresariais, principalmente o LVMH e o PPR (agora se chama Kering), para evitar que muitas Maisons fechassem as portas. O que se vestia? Foi a vitória do preto, anunciado pelos designers japoneses. O começo da ambição de ter algo de luxo, nem que fosse um perfume ou um batom. São as contradições do consumo, que acredita em marcas como símbolo de elegância e prosperidade. Basta ver o sucesso das camisetas básicas, apenas com a palavra Balenciaga impressa na frente. Por outro lado, agora esta mesma vontade compra camisetas com dizeres debochados impressos com exclusividade (ver na Reserva) ou temas da Internet...


Bordado em regata por Rita Moreno Foto: IG

 

Anos 2000: o despertar da consciência da sustentabilidade. Nem que seja por ouvir falar que uma roupa pode ajudar a proteger o planeta ou normalizar o clima. Em princípio eram peças caras, com tingimentos caros, mão de obra cara. Agora já há opções mais razoáveis, estimuladas pelo reconhecimento do setor. Você deveria comprar um sapato da Bibi com as palmilhas da Jomo, marca alemã baseada no Brasil há 30 anos, por saber que a marca recebeu certificação de ESG nível Ouro.


Conforto de moletons e casacos esportivos, estilo sem volta. Da Sporty and Rich Foto: divulgação



Second hand Peça Rara em Ipanema Foto: divulgação


Anos 2020: a pandemia mudou tudo. Ficar em casa provou que é possível sobreviver sem saltos altos, foi a glória das papetes e birkenstocks. Que o conforto de um moleton continua incomparável, muito melhor do que tricôs pesados. Que o tênis supera o uso na academia e as pantufas são calçadas ao entrar em casa, um costume oriental que preserva o piso da sujeira das ruas. Principalmente a pouca necessidade de trocar de look levou a investimentos em outros setores: em vez de mais uma bota, que terá pouco uso, que tal um novo celular? Assinar mais uma plataforma de streaming? Se sobrar algum, vamos dar uma olhada em um dos inúmeros endereços de second hand (atual nome de brechó).

À frente: Nem tudo será uma repetição de décadas. Há algo mais além do consumo de roupas e acessórios. Algo emocional, como definiu Walter Rodrigues na palestra de tendências no evento InspiraMais. Ele quase não citou formas, cores, texturas. Falou mais em esperança, tendência mais importante do que uma estampa florida, um casaco quentinho ou uma bolsa de grife (que em second hand pode custar mais de R$ 50 mil). Esperança como um olhar em volta, tentar melhorar o dia a dia, achar a diversão em coisas simples. O inverno é a estação ideal para isto, uma época em que a temperatura não nos tira do sério e nos permite pensar duas vezes na hora de escolher o que comprar para vestir.

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