Moda e Estilo

Por Iesa Rodrigues

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IESA RODRIGUES

Democracia sem vitrines

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Publicado em 08/01/2022 às 09:59

Iesa Rodrigues JB

O que seria isto? A expressão vem de uma conversa com Cristina Roberto Barbosa, designer de acessórios que me surpreendeu durante uma ida ao Barrashopping: um tapume indicava que Cris estava abrindo um segundo espaço no mesmo shopping. “Democracia porque acredito em moda viável, com preço justo e boa qualidade. Quem ainda faz questão de ter um sapato ou bolsa grifados com marcas caríssimas?”, comentou pelo WhatsApp, em meio à obra assinada pelo arquiteto Rodrigo Dinelli.

 

Macaque in the trees
Loja recém-inaugurada, maior e sem vitrines (Foto: Foto: Felipe Barbosa / divulgação)

 

Sem vitrines, porque este é o visual da nova loja, agora pronta, maior e com muito espaço para estoque. Considerada conceitual porque deverá ser mais uma experiência do que apenas uma compra - por enquanto, tem ambiente perfumado, cafezinho. Pela disposição dos produtos, lembra as sapatarias de Düsseldorf, capital dos acessórios de couro na Alemanha: parecem galerias de arte, sem vitrines externas. Só que na situação atual do mundo, abrir uma loja é também um ato de coragem, apostando no poder das coleções e da fidelidade do consumo.

 

Macaque in the trees
Alguns modelos de sucesso: a sandália prata de festa, o mocassim com gáspea decorada e a sandália de salto gráfico (Foto: divulgação)

 

Macaque in the trees
Para o alto-verão: chinelos neon ou com alegre estampa Vichy (Foto: divulgação)

 

Tem história

Como repito todos os dias, moda tem que contar histórias. Lá vai o bom currículo: Cris se formou como professora, mas nunca deu aula, porque aos 17 anos já trabalhava na Cantão, onde ficou por 15 anos. Ao mesmo tempo, em vez da faculdade de moda, cursou Administração. "Foi útil, porque vejo muitos talentos que não conseguem evoluir por não saberem administrar o trabalho”. Esta bagagem, mais a facilidade de entender o que as clientes queriam, levou o consultor Luiz Antonio Secco a convocá-la para o departamento de compras. Logo depois, Leila Simon, proprietária da Cantão, pediu que ela assumisse o estilo da Redley, marca surfwear da rede. “Fui para a Califórnia, voltei já como estilista de lá”. Neste meio tempo, o marido, Felipe, foi transferido para São Paulo, e lá se foi a designer para a Olympikus, ainda lidando só com a parte de roupas. De lá, mudou para a representação brasileira da Billabong, marca australiana de surfwear. O marido voltou para o Rio, e veio a vontade de criar algo prático, confortável e contemporâneo. “Peguei carona no nome da sogra, Carla Roberto, e abri a Cris Roberto, com o conceito de acessórios para a mulher que trabalha, leva filho no colégio, é executiva, ou a menina que faz 15 anos e quer um sapato de festa. A numeração vai do 33 ao 40.

 

Projetos no ar e em terra firme

Macaque in the trees
Bota tratorada chega em fevereiro, para antecipar o estilo de inverno (Foto: divulgação)

 

Atualmente são duas lojas físicas, no Barrashopping e na Tijuca, a terra firme. Mais o online, “somos omnichannel”, do site ao Instagram, indo muito bem. O grande sucesso é o tênis de couro, sem cadarço, em oito cores, com um preço ótimo R$ 189! A marca se inscreve em outros produtos, como bolsas, óculos e carteiras. Cintos são raros, já que segundo as análises (olha a Administração sendo útil), eles participam com menos de 1% das vendas. Para o inverno, a aposta será em botas, tanto as clássicas ankle boots, como as tratoradas, em lona de elástico e o tênis-bota.

 

Macaque in the trees
A maior novidade: Cris Roberto decidiu aparecer, sendo ela mesma, sem representações fakes (Foto: Felipe Barbosa / divulgação)

 

Nasce uma estrela

Mas a grande novidade não é a loja, a coleção ou o sucesso online. Discreta, quase tímida, Cristina Roberto decidiu aparecer! Ser a imagem da marca, sem pretensões de visual diferente do que é na vida real. “Quero que seja eu, despojada, alegre, colorida. Vendedora, mãe de família (fiz 25 anos de casada). Não sou Patricinha, nem invento representações”.
Com tanta história, mais uma marca carioca vai se definir pela autoria, estratégia empregada pelos designers e diretores de criação do mundo. Com uma vantagem: a Cris é bonita, simpática e realmente despojada com glamour.

 

Macaque in the trees
Giorgio Armani cancelou desfiles masculinos e Alta Costura (Foto: divulgação)


PS: muito bom ouvir tanto otimismo, não é? Enquanto as portas da Europa fecham de novo, desta vez atingindo mais ainda a moda, ameaçando a semana de Alta Costura, anima saber que por aqui há quem abra novos espaços / Giorgio Armani foi o primeiro criador a cancelar seus lançamentos (na semana masculina de 15 a 17 deste mês, em Milão e na Alta Costura de 24 a 27 deste mês, em Paris); / as consumidoras andam deixando de vestir preto, estão preferindo roupas mais coloridas. Só que existe um avesso desta preferência: muitas coleções são feitas com sobras de tecidos que encalharam nos meses de pandemia. Muitas estampas são reaproveitadas, peças são renovadas. Nada contra: esta reutilização é bem-vinda em tempos de horror ao desperdício.

 

De que se trata:

Vichy: padrão xadrez que lembra toalha de cantina italiana ou de piquenique. Origem francesa _ era tecido muito usado pela atriz Brigitte Bardot

Tratorado: modelo de calçado com solado que lembra rodas de trator

Omnichannel: diz-se das empresas, marcas ou pessoas presentes em todos os canais online

 

 

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