
DICAS DO AQUILES
Tão erudito, tão popular... tão lindo!
Publicado em 26/07/2025 às 09:28
Alterado em 26/07/2025 às 09:28

Hoje vamos de Brazilian Suíte No.1 for Piano and Viola (Azul Music), álbum do paulistano, compositor e educador musical João Marcondes. Em seu terceiro álbum, ele solidifica um dos projetos camerísticos mais consistentes e autorais da música brasileira contemporânea.
A suíte foi composta especialmente por Marcondes para o violista Silvio Catto (spalla das violas da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo). E foi justamente o som de sua viola que reavivou no compositor o entusiasmo para escrever as partituras hoje registradas.
A pianista Ariã Yamanaka (instrumentista com atuação em formações como a Orquestra Jovem do Estado) foi a escolhida para o duo com Catto. E eles esmeraram-se para refletir o que veio da verve de Marcondes: amplas variações harmônicas, melódicas e rítmicas, reveladas por uma linguagem instrumental que buscou na tradição popular a sinopse com a erudição, presente nos cinco temas da Suíte No.1. Modernidade e ancestralidade ajuntadas para regozijo de quem não teme descobrimentos. Vamos a eles.
Toada: uma nota grave do piano em pedal inicia. A viola vem encontrá-la e sola a melodia. O pedal segue intercalado com breves movimentos da viola. A toada soa embalada pela repetição do tema principal, matutando a naturalidade do gênero, predicado da quietude interiorana. A erudição na toada se mostra apta à parceria com o movimento popular característico de um ser(tão) simples.
Samba: novamente, o pedal grave de uma nota do piano antecede o tema que vem com a viola. Na sequência, o piano improvisa, para logo vir à toma um desenho, meio aflitivo, que atrai um samba profundo em seu ritmo.
Song: um acorde como intro antecipa o que resta lúdico em meio às notas graves do piano, amparadas pela viola em aparecido encanto – lindo encontro com o dedilhado do piano. E ambos se revelam íntimos na tradução do anseio composicional de Marcondes, aqui revelado com maestria.
Frevo: o piano vem numa levada que sugere o passo estilizado do frevo, mas nem por isso menos pernambucano. A viola se esmera em erudição absolutamente compatível com o fervor do passo.
Choro: um acorde repetido do piano convida o tema. Sempre tendo a viola como cúmplice dessa histórica parceria, o choro vem cadenciado. O acorde inicial retoma o tema, assim fechando a tampa do trabalho de João Marcondes e seus parceiros Ariã Yamanaka e Silvio Catto.
Penso ter-lhes trazido uma amostra do quanto o erudito não é antagônico ao popular. Ao contrário, são complementares em seus requintes; contrastantes em seus acordes; plurais em suas harmonias. Só grandes compositores e grandes instrumentistas são capazes de levar a cabo a sintonia que trazem em si, em sol... em mi(m).
Aquiles Rique Reis
Nossos protetores nunca desistem de nós.
Ficha Técnica: composições e direção artística: João Marcondes; gravação, mixagem e masterização: Adonias Souza Jr. (Estúdio Arsis)