Dicas do Aquiles

Por Aquiles Rique Reis

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DICAS DO AQUILES

Um é bom, dois é irresistível

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Publicado em 30/04/2022 às 09:13

Alterado em 30/04/2022 às 09:13

Aquiles Rique Reis JB

Hoje trataremos de uma joia do mundo do violão. Falaremos sobre Violonistico (independente – com apoio do ProAc). (Gostei do neologismo do título do álbum. Muito bem sacado, supre o desejo que a uruguaia Cecilia Siqueira e o brasileiro Fernando Lima tinham de encontrar um título que expandisse ainda mais o universo do violão – Duo Siqueira Lima).

Violão e violonista, não raro, costumam se ajuntar para tocar música clássica e/ou música popular, que assim ganham a primazia de ver ampliada a sonoridade das seis cordas do bom e apaixonado violão.
Instrumento e instrumentista vivem lado a lado, completam-se, juntam-se e separam-se até chegar à essência do som. Cada músico procura o seu instrumento de fé, para com ele se misturar até quase não ser mais possível separá-los. Aborrecem-se num segundo, amam-se noutro; beijam-se em uníssono; abraçam-se em ré; lamentam-se em si; criam em mi; choram em fá; pensam em dó e ouvem em sol maior.

 

Macaque in the trees
Capa do CD (Foto: reprodução)

 

Ao ouvi-los, preparem-se para serem envoltos pela onda avassaladora dos violões que, não poucas vezes, parecem em transe contínuo. Detalhista, Fernando cuida também do espaçamento entre as faixas, para um saudável respiro. Afinal, a música é como vinho, não convém entrechocá-los... Boa, Fernando!
O ecletismo e a beleza das treze faixas do trabalho permitem que o Duo demonstre seu profundo talento violonistico, tanto técnico quanto emocional. Guinga comparece com “Café Vinillo”, uma das poucas músicas não-inéditas do CD, um choro envolvente pelo talento de um mestre.

Outros grandes violonistas compuseram obras especialmente para dois violões. Por exemplo: “Chacona” (Paulo Bellinati); “Sonata Para Dois Violões” (João Luiz) e “Três Cenas Brasileiras Nº. 2” (Sérgio Assad); Marco Pereira trouxe três músicas, duas, “Pererê” e “Curupira”, fecham a tampa, e “Ekatê”, que abre.
A força rítmica e harmônica de “Ekatê” é arrebatadora. A intro tem um quê de nostalgia. As cordas soam dedilhadas em vigorosa progressão. Arritmo, o tema volta. Desenhos ascendentes valorizam ainda mais o arranjo, e a alegria ecoa.

São dinâmicas inesperadas, acentuadas nos tempos e/ou nos contratempos. Com desenhos melódicos ou acelerados, suaves ou agitados, Cecilia e Fernando brilham em solos e em cânones.

A gravação foi feita em casa – Cecilia e Fernando improvisam em solos e juntos recorrem aos cânones –, na intimidade acolhedora de uma sala, dedos ágeis percorrem os braços dos violões. Meu Deus!
Ora, dirão vocês, qual foi o maluco que presenciou cenas de amor ardente como esse? E eu retrucarei: ora, ninguém nunca viu tal cena; mas é assim, ó: muita gente sente, mas não se toca.

 

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

 

Ficha técnica:
Violões: Cecilia Siqueira e Fernando Lima; produção executiva: Alessandro Soares e Elcylene Leocádio; produção musical: João Luiz; engenharia de som: Pietro Carlo; gravação/edição: Duo Siqueira Lima; mixagem/masterização: Pietro Carlo; design gráfico; fotos: Lou Gaioto; informações à imprensa: Cristiane Batista.

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