CULT, POP & ROCK
Discos, livros e uma casa no campo
Publicado em 11/09/2025 às 11:03

Décadas se passaram desde a primeira vez que ouvi "Casa no campo", canção mítica composta por Zé Rodrix que fez relativo sucesso na sua versão original e que, mais tarde, "estourou" de verdade na interpretação maravilhosa de Elis Regina. Certamente, essa minha primeira audição chegou aos meus ouvidos, no início dos anos de 1970, por um rádio portátil que ficava alternadamente na cozinha e no quarto dos meus pais. E, naqueles primeiros momentos em que a ouvia, ainda menino, o que mais me agradava era a sua sonoridade, tanto nas vozes de Elis como na de Rodrix. Só mais tarde, bem mais tarde, quando a pressão rotineira da vida urbana me fazia pensar em dar um tempo de tudo, foi que a letra, meio hippie, transformou-se em guia de um plano futuro para a minha vida.
Quando finalmente decidi morar no meio do mato, em um sítio, por volta de 2018, depois de uma longa e quase paciente espera, foi que esse projeto se tornou realidade e, aos poucos, mês após mês, realizei em partes alguns daqueles desejos realizáveis do compositor da canção, como o de "ficar do tamanho da paz" e ter, em uma boa parte destes quase 08 anos em que vivo aqui, "o silêncio das línguas cansadas". "A esperança de óculos" eu mantenho intacta desde sempre, já a um filho que tivesse uma "cuca legal" eu não tive coragem de dar a minha colaboração para que ele chegasse a esse mundo bélico, cheio de maldade, egoísmo e intolerância.
"Casa no campo" me veio à cabeça ao avistar, de uma das partes altas do sítio, o meu pequeno chalé envolvido por pinheiros, mangueiras, goiabeiras e um jovem jambeiro que começa a me oferecer os seus primeiros frutos rosados. E essa visão que tive na manhã quente da terça-feira, somada à parte da letra da canção, que em um dos seus versos fala dos "meus discos e livros e nada mais", não se esquecendo da parte "dos amigos do peito", ajudaram-me a pensar e a escrever essa coluna, compartilhando com os leitores o que tenho lido e ouvido nestes últimos dias.
Discos:
- 14 Bis – 14 Bis (1979): Todos os meus amigos do peito estão longe, espalhados por aí, como fala a letra de “Perdido em Abbey Road”, música maravilhosa que abre o primeiro álbum da banda mineira. "Os meus amigos, dispersos pelo mundo, a gente não se encontra mais para cantar aquelas canções que disparavam nosso coração". Além de outras preciosidades como “Canção da América”, “Ponta de Esperança”, “Pedra Menina”, “Meio dia” e “Natural”.
O voo inicial da banda 14 Bis Foto: reprodução
- Supertramp – Crime of the century (1974): No dia seguinte ao do anúncio da morte de Rick Davies, tecladista e vocalista do Supertramp, comecei a ouvir logo cedo alguns dos meus discos preferidos da banda inglesa. Principalmente o meu preferido de toda a sua discografia, “Crime of the century”. Destaque para “Hider in your shell” e para as incríveis “Bloody well right”, “Rudy”, “Asylum” e, claro, “Crime of the century”, a faixa-título.
Álbum clássico que consolidou o Supertramp Foto: reprodução
- Angela Ro Ro – Angela Ro Ro (1979): O mesmo ocorreu com o primeiro e maravilhoso álbum de Angela Ro Ro, que também partiu essa semana. A primeira vez que ouvi “Tola foi você”, em alguma rádio FM, assim que o primeiro disco dessa incrível cantora foi lançado, fui fisgado instantaneamente. Todas as 12 faixas, sem exceção, são irretocáveis. Obra-prima.
O primeiro e maravilhoso álbum de Angela Ro Ro Foto: reprodução
Uma amiga jornalista me enviou dicas de álbuns recém-lançados de três novos nomes do cenário do Pop/MPB, que tenho ouvido diariamente e gostado muito.
- Caike Souza – Entre flores e dores (2025): O álbum do jovem pernambucano de Arcoverde, elogiado por gigantes como Milton Nascimento, possui uma sonoridade leve e simples, bastante intimista. Estou me acostumando aos poucos com as faixas, mas destaco “Metrô” e “Nas coisas tão mais lindas”.
- Rodrigo Sha – Copenema (2025): Álbum de fácil "degustação" e de sonoridade bastante envolvente, cheio de grooves, melodioso na medida certa e com arranjos sofisticados. É apertar o play e deixar rolar.
- Nay Portella – Alvorada (2025): Disco do mais alto nível de qualidade. Tanto pelo requinte e beleza da voz de Nay Portela como pela sofisticação dos arranjos de todas as faixas. As minhas preferidas até agora são “Inverno sem verão”, “Seu dengo” e “Sempre vou te amar”.
Livros:
Comecei a ler na semana passada “A balada de Bob Dylan: um retrato musical”, de Daniel Mark Epstein, e entraram na fila a autobiografia “É tão fácil: e outras mentiras”, de Duff McKagan, baixista do Guns n’ Roses, e “Metallica: all that matters – A história definitiva’, escrito por Paul Stenning. Todos, presentes do Celso Jr., um dos queridos e imensos amigos que estão dispersos pelo Rio e por outras cidades não tão maravilhosas!