CULT, POP & ROCK
Viajantes & Progressistas
Publicado em 10/07/2025 às 11:07
Alterado em 10/07/2025 às 11:07

Dia desses, assisti no canal Discovery Science a um documentário superbacana sobre a sonda espacial Voyager, que foi lançada ao espaço em 1977 para pesquisar e fornecer dados e imagens dos planetas, de satélites e do nosso sistema solar. Ela continua na ativa até hoje, funcionando apenas parcialmente, e, agora, navega pelo ainda mais longínquo espaço interestelar. São 47 anos e 10 meses viajando e trabalhando ininterruptamente, para ser exato. É uma das histórias mais impressionantes da tecnologia humana, desenvolvida pelos gigantes da ciência que trabalham na NASA/EUA.
Umas das partes mais interessantes do documentário é a que mostra o disco de ouro criado pela imaginação fértil e pelo sonho idealista do astrônomo Carl Sagan, que sugeriu que fossem gravados nesse objeto dourado várias peculiaridades específicas sobre a Terra, o seu ambiente, a raça humana, seus aspectos e composições físicas, sociais e culturais. Tudo isso para o caso de a sonda, um dia, em alguma região ou planeta do vasto espaço sideral, ser encontrada por uma raça alienígena inteligente, que teria, assim, uma amostra de informações de como somos e onde está localizado o nosso planeta.
Assim que terminou o programa, bebericando uma bebida quente para aquecer uma das muitas noites geladas que têm feito aqui na região do sítio, fiquei imaginando que músicas e álbuns poderiam ser enviados em um outro disco, em uma próxima Voyager. Pensei em músicas e bandas do rock progressivo, que sempre utilizou o tema espacial para as suas composições em muitos dos seus álbuns conceituais.
E, nas noites frias seguintes, fui selecionando 10 dos meus preferidos, com algumas de suas músicas que sempre fizeram a minha cabeça. E resolvi dividir essa minha viagem com vocês. Aqui estão eles:
Yes – Closer to the edge (1972): “And you and I”. O Yes talvez seja a banda que mais representa o movimento musical do rock progressivo, que dominou boa parte dos anos de 1970. “Closer to the edge” é o meu álbum preferido da genial banda inglesa. E essa música, uma das três gravadas no álbum, certamente apresentaria aos alienígenas um pouco do que todos os seus membros foram e são musicalmente, principalmente o guitarrista Steve Howe, o tecladista Rick Wakeman e o baixista Chris Squire.
Pink Floyd – Wish you were here (1975): “Shine on you crazy Diamond”. O blues acústico que deu título a esse incrível álbum do Pink Floyd talvez seja a música que mais comoveu o público, graças à voz delicada de David Gilmour e à letra emocionante de Roger Waters, mostrando a melancolia dos membros da banda com a ausência forçada do amigo Syd Barrett de suas vidas, o líder e guitarrista original do Pink Floyd, que pirou pelo uso excessivo de drogas e foi o tema central de “Wish you were here”. Contudo, é “Shine on you crazy Diamond”, que abre e fecha o álbum, em um total de 26 minutos de beleza, é que possui um maior poder musical e instrumental, que simboliza a sonoridade típica do rock progressivo, principalmente por causa dos arranjos especiais para os teclados de Rick Wright e a guitarra espacial, cósmica, etérea, bluesy de Gilmour. Um voo lento por entre os anéis de Saturno e um mergulho rasante no azul piscina de Urano.
Rush – Permanent waves (1980): “Natural science”. Esse é o meu álbum preferido do grupo canadense. A letra sutil, que utiliza símbolos da natureza biológica da Terra, fruto das leituras e das pesquisas do saudoso baterista Neil Peart, com forte analogia, que compara o universo microscópico à sociedade urbana moderna, introduzida por uma abertura com sons de ondas do mar que retornam para finalizar a música portentosa do Rush.
Se “Natural Science” fosse incluída nesse disco, apresentaria um pouco da complexidade do planeta e dos seres humanos para possíveis habitantes de outras civilizações que o encontrassem. O teclado de Geddy Lee e os solos de guitarra inebriantes de Alex Lifeson apresentariam toda a exuberância musical da banda. E, talvez, depois de ouvi-la, eles se perguntariam se o instrumentista que executou todas aquelas viradas inacreditáveis na bateria possuía 8 braços.
Genesis – Selling England by the pound (1973): “Firth of fifth”. O meu álbum favorito do Genesis também traz a minha música preferida da banda. O solo de piano de Tony Banks na abertura dessa pequena obra-prima e os arranjos de teclados por todos os seus quase 10 minutos beiram a perfeição, e mais a guitarra espacial de Steve Hackett compõem, somados à voz de Peter Gabriel, um perfeito exemplo de uma das mais belas composições progressivas já gravadas. Os aliens que a ouvissem ficariam impressionados e, talvez, emocionados.
Emerson, Lake & Palmer – Trilogy (1972): “Trilogy”. Esse talvez seja o meu álbum preferido da banda e “Trilogy” tem uma das introduções mais fantásticas da incrível história musical da banda londrina. O piano de abertura de Keith Emerson conversando com a voz encantadora de Greg Lake, além do solo de Keith antes de iniciar uma longa viagem com seus teclados arrebatadores, e a letra que fala do fim de um romance, de uma das muitas tristes histórias tristes, talvez assustaria os ETs.
King Crimson – In the court of the Crimson King (1969): “Moonchild”. Se eu tivesse tido filhos, certamente, quando eles fossem bebês, colocaria os 6 primeiros minutos dos 12 de “Moonchild” como canções de ninar na hora de dormir. A voz delicada de Greg Lake, que foi membro da banda antes de se mudar, pouco tempo depois, para o Emerson, Lake & Palmer, acompanhada pelos suaves toques das baquetas do baterista Michael Giles nos pratos, cercada pelos acordes elegantes da guitarra mágica de Robert Fripp, completam a letra que lembra algum conto infantil de fadas. E após esse longo e delicado início, a música se transforma em um show de experimentações instrumentais, algo que se tornou marca registrada do King Crimson. “Moonchild” é uma das muitas composições encantadoras criadas pela banda inglesa nesses quase 60 anos de viagem musical.
Camel – Mirage (1974): “Lady fantasy”. Certamente essa é a minha música preferida do Camel, uma das bandas mais cultuadas no universo do rock progressivo. “Lady fantasy” tem 12 minutos que misturam um pouco de tudo: arranjos de teclados que lembram The Doors; o vocal de Andrew Latimer, que em muitos momentos mistura o timbre folk de Ian Anderson, do Jethro Tull, com o elegante Bryan Ferry, do Roxy Music. Andrew também é o responsável pelos belos solos de flauta e guitarra. Um músico espetacular.
Mirage - O ótimo álbum do Camel Foto: reprodução
Triumvirat – Spartacus (1975): “The march to the eternal city”. Das 10 músicas progressivas que escolhi nessa lista, essa é a de arranjo mais dramático. E uma das minhas preferidas desse incrível power trio progressivo que é chamado pelos críticos de "o Emerson, Lake & Palmer alemão". Uma aula de piano e de sintetizadores do mestre Jurgen Fritz e a voz maravilhosa do inesquecível Helmut Kollen, que partiu muito cedo e de forma trágica. Tenho certeza de que os ETs adorariam.
Spartacus, o álbum que consolidou o Triumvirat no mercado Foto: reprodução
Gentle Giant – Gentle Giant (1970): “Nothing at all”. De todas as escolhidas para essa lista, resolvi colocar “Nothing all”, do primeiro álbum do gigante gentil, por fugir das tradicionais músicas de rock progressivo, que envolvem muitos arranjos espaciais de teclados e guitarras. O início apresenta um belo arranjo de harmonia vocal de Derek Shulman, que lembra aqueles memoráveis de Crosby, Still, Nash & Young. Em seguida, surge um riff poderoso de guitarra de Gary Green, bem hard rock, que abre as portas para um longo solo de bateria de Martin Smith, misturado com acordes de piano clássico, até retornar, calmamente, aos vocais de Derek.
O Gigante Gentil do rock progressivo. Foto: reprodução
O som não é espacial, mas apresenta aos aliens uma composição baseada nas músicas medievais do continente terráqueo europeu.
Dream Theater – Systematic chaos (2007): “Repentance”. Deixei esse espetacular exemplo de rock progressivo por último por ser a única banda de grande impacto do gênero formada em uma época distante das outras clássicas e famosas das décadas de 1960 e 1970. Os membros do Dream Theater levam esse estilo muito a sério. São músicos do mais elevado padrão de qualidade. Perfeccionistas ao extremo, são imensamente habilidosos em seus instrumentos. “Repentance” é uma pequena amostra do poder musical dos caras e “Systematic chaos” é um dos meus álbuns preferidos da banda.
O rock progressivo ressurgiu nos anos de 1990 através do Dream Theater Foto: reprodução