CULT, POP & ROCK
Alive!
Publicado em 12/06/2025 às 10:02
Alterado em 12/06/2025 às 10:09

Como muitos apaixonados por música, eu também gosto de listas e vivo, muitas das vezes apenas mentalmente, em um exercício pessoal solitário, tentando criá-las e recriá-las. Agora, porém, que possuo esse espaço aqui no querido Jornal do Brasil, tenho me permitido vez ou outra dividir algumas das minhas preferências com os leitores.
Vários amantes da música – seja pop, rock, MPB ou qualquer outro gênero – com espaço na mídia também vivem criando e divulgando as suas por ordens aleatórias de preferência. Eu sigo e acompanho regularmente vários deles, que apresentam seus ótimos e precisos comentários e muitas informações, sempre atuais, sobre cultura em geral.
Os que mais acompanho são os incríveis Gastão Moreira, Bruno Ascari, Ricardo Seelig e André Barcinski, em seus perfis nas redes sociais e canais no Youtube. E foi através de um vídeo recente do Barcinski, em que o jornalista listou os seus 10 álbuns internacionais preferidos, gravados ao vivo, que resolvi fazer a minha lista também – só de rock – e dividi-la com vocês, sem ordem cronológica ou de preferência.
Está tudo aqui embaixo. Junto e misturado.
Wings – Wings over America (1976): álbum triplo da banda de Paul McCartney, formada assim que ele saiu dos Beatles, composta por sua mulher Linda nos teclados, Denny Laine e Jimmy McCulloch nas guitarras e Joe English na bateria.
Paul resolveu, na metade dos anos de 1970, percorrer os EUA em uma turnê de enorme sucesso de crítica e público. O resultado foi esse álbum espetacular, com 28 canções divididas entre as da época dos Beatles e as de sua carreira solo, iniciada em 1970.
A edição do álbum em vinil é uma obra de arte: com capa dura de alto padrão gráfico, posters e encartes cheios de fotos lindas dos músicos.
As minhas preferidas são: “Maybe I'm amazed”, “The long and winding road”, “Let me roll it”, “Live and let die”, “My love”, “Blackbird” e “Bluebird”.
Wings Over América - Wings. Lançado em 1976 Foto: reprodução
Ozzy Osbourne – Tribute (1987): Ozzy precisou de 05 anos para que a imensa dor pela perda do seu amigo e guitarrista Randy Rhoads em um trágico acidente aéreo fosse um pouco amenizada para que ele pudesse ter cabeça para selecionar as músicas que fazem parte desse álbum incrível, gravado entre 1981 e 1982, na turnê do álbum “Diary of madman”, apresentando alguns dos grandes sucessos de sua carreira solo e do Black Sabbath.
“Tribute” mostra o vocalista inglês em grande fase e todo o gigantismo de Randy na guitarra, não deixando nenhuma dúvida sobre ele ter sido, no curto período de sua vida musical com Ozzy, ao lado de Eddie Van Halen, o grande expoente daquela geração de jovens e brilhantes guitarristas surgida no final dos anos de 1970.
Além de Ozzy e Randy, a banda incluía o baixista Rudy Sarzo e o mostruoso baterista Tommy Aldridge.
As minhas preferidas são: “Crazy train”, “Mr. Crowley”, “Suicide solution” com o solo portentoso de Randy, “Iron man” e “Children of the grave”.
Cheap Trick – At Budokan (1978): gravado no mitológico teatro Budokan, em Tóquio, no Japão, o álbum alavancou a carreira da banda americana que, antes desse ótimo trabalho ao vivo, tinha uma carreira discreta nos EUA.
Formado por Robin Zander no vocal, Rick Nielsen na guitarra, Tom Peterson no baixo e Bun. E. Carlos na bateria, o Cheap Trick conseguiu nas 10 canções do álbum um resumo do seu perfil musical, que envolve rock de arena e pop juvenil de bom gosto.
As que mais curto são: “Come on, come on”, “Need your love”, “I want you to want me” e a deliciosa “Surrender”.
Kiss – Alive II (1977): álbum duplo da banda americana, com três lados ao vivo e um apresentando músicas de estúdio até então inéditas.
Gravado durante a turnê do álbum “Love gun”, esse é o meu “Alive” preferido do KISS com sua formação original – Paul Stanley, Gene Simmons, Ace Frehley e Peter Criss –, mesmo sabendo que a crítica elegeu o primeiro ao vivo da banda como o melhor, de maior venda e que praticamente a salvou da falência junto com a gravadora, a Casablanca.
Minha ligação afetiva com esse disco é grande porque me conduz de volta a um período de descobertas sonoras que, ainda adolescente, desconhecia do rock and roll. O solo mitológico do guitarrista Ace Frehley na pesadíssima “Shock me”, é o responsável por ter esse disco sempre na mente, coração e ouvidos.
As minhas preferidas do álbum produzido pelo mago Eddie Kramer: “Detroit rock city”, “Love gun”, “God of thunder”, “Ladies room” e, claro, “Shock me”.
Scorpions - Tokyo tapes (1978): como o título deixa evidente, esse espetacular álbum duplo da banda alemã foi gravado no Japão. São 18 pauladas que apresentam um Scorpions bem diferente daquela banda meio adocicada e comercial dos anos 1980, que, para conquistar o mercado americano e bajular os executivos da gravadora, resolveu percorrer um caminho menos pesado que o iniciado nos anos de 1970, os do hard rock genuíno.
“Tokyo tapes” é um desfile dos clássicos setentistas dos alemães, espalhados nos palcos dessa turnê que se transformou em um disco cultuado de uma banda pesada, liderada pelo eterno vocalista Klaus Meine e pelo guitarrista base Rudolf Schenker. Também foram responsáveis pelo enorme sucesso do “Tokyo takes” o baixista Francis Buchholz, o baterista Herman Rarebell e o incrível guitarrista principal Uli Jon Roth.
Minhas preferidas: “Polar nights”, “Suspender love”, “In search of the peace of mind”, “He's a woman, she's a man”, “Dark lady” e “Robot man”.
UFO – Strangers in the Night (1979): este álbum duplo da espetacular banda inglesa é uma obra prima do hard rock. Gravado durante a turnê pelos EUA no mês de outubro de 1978, “Strangers in the night”, com sua imensa qualidade musical e de repertório, fez com que uma incontável legião de roqueiros idolatrasse esse disco e o colocasse entre os seus preferidos. E eu sou um desses apaixonados.
São 11 músicas que apresentam a banda em sua melhor formação e na sua fase mais brilhante, destacando o vocal melódico e poderoso de Phil Mogg e a guitarra indescritível do alemão Michael Schenker, que, aliás, está entre os meus guitarristas preferidos na história do rock.
Minhas preferidas: “Doctor doctor”, “Love to love”, “Lights out”, “I'm a loser” e a estupenda “Rock bottom”, clássico pesadíssimo que fez com que Schenker protagonizasse um dos solos de guitarra mais incríveis já executados em um show.
Neil Young & Crazy Horse – Live rust (1979): durante a sua longa carreira, o canadense Neil Young lançou ótimos álbuns ao vivo, mas nenhum se igualou à qualidade de repertório e performance desse duplo em que, ao lado da sua banda Crazy Horse, formada por seus velhos camaradas de estrada, apresentou 16 das suas mais incríveis e clássicas canções compostas até a metade dos anos de 1970.
Neil, com a sua voz cheia de personalidade e sotaque caipira, típico do interior canadense, exibe a sua imensa potência musical dominando com maestria guitarras com acordes que se equilibram entre harmonias delicadas e riffs e solos pesados, alternando com arranjos dominados por violão folk, harmônica e piano melodiosos e cheios de melancolia. Neil Young é um gênio.
Minhas preferidas são: “Comes a time”, “I’m a child”, “After the gold rush”, “Hey, hey, my, my”, “Lotta love”, “Powderfinger” e “Like a hurricane”.
Rush – Exit stage... left (1981): para ter a certeza definitiva do quanto esse power trio canadense durante toda a sua longa carreira foi formado por músicos do mais alto padrão de qualidade, não é preciso ouvir sua vasta discografia, iniciada lá pela metade dos anos de 1970. Coloque esse maravilhoso álbum duplo ao vivo para tocar e será suficiente para não ter mais qualquer dúvida.
O que o saudoso e inigualável baterista Neil Peart, o guitarrista Alex Lifeson e o baixista, tecladista e vocalista Geddy Lee fazem durante quase 90 minutos de show, em 13 das suas mais incríveis composições gravadas até 1980, é inebriante, impressionante, inigualável, portentoso, magistral, magnífico, mágico.
Minhas preferidas: “Red barchetta”, “YYZ”, “Closer to the heart”, “Jacob 's ladder”, “The trees”, “Xanadu”, “Tom Sawyer” e “La villa strangiato”.
Exit Stage…Left - Rush. Lançado em 1981 Foto: reprodução
Glenn Hughes – Burning Japan live (1994): quase no período final da sua luta contra as drogas, o vocalista e baixista inglês Glenn Hughes, ex-Deep Purple e Trapeze, ao retomar sua carreira solo, reuniu uma nova banda, formada por ótimos músicos suecos e gravou esse incrível – e quase desconhecido – álbum ao vivo, captado em dois shows em Tóquio.
Preferindo apenas utilizar a sua voz assombrosa nessa turnê, Glenn deixou o baixo nas mãos de John Leven e apresentou 15 músicas em uma performance assustadora, interpretando composições próprias, de alguns dos seus trabalhos solos e grandes sucessos da sua época do Trapeze e do Deep Purple.
Minhas preferidas: “Burn”, “Coast to coast”, “Let my body down”, “This time Around”, “You keep on Moving” e “Stormbringer”.
Thin Lizzy – One Night Only (2000): uma pequena amostra de quanto a morte do guitarrista e vocalista inglês John Sykes, no início deste ano, foi uma tragédia para o rock está registrada nesse ótimo álbum gravado em Londres. Sykes, enquanto esteve na ativa, foi considerado um dos melhores guitarristas formados na geração iniciada no final dos anos de 1970 e que brilhou durante todos os anos de 1980-1990.
Além de uma curta e inconstante carreira solo, cheia de hiatos, o cara foi membro importante, fundamental, das bandas Tygers of Pan Tang, Whitesnake, Blue Murder e Thin Lizzy, a qual homenageou com esse único show em um teatro inglês, performando suas principais composições em uma apresentação exuberante, mostrando o seu vocal semelhante ao do baixista e vocalista Phil Lynott, morto em 1986 e que era sempre lembrado por Sykes.
As minhas preferidas são: “Cold sweat”, “The sun goes down”, “The boys are back in town”, “Bad reputation”, “Rosalie” e “Still in love with you”.
One Night Only - Thin Lizzy. Lançado em 2000 Foto: reprodução
Peter Frampton – Frampton Comes Alive (1976): o álbum duplo do guitarrista inglês, lançado no início da segunda metade da década de 1970, é o meu preferido entre todos da história da música, não só do rock. E por isso deixei para citá-lo no fim, como o décimo primeiro. Como hors concours.
Produzido por Eddie Kramer e gravado em shows superconcorridos em São Francisco, EUA, o disco, de sucesso estrondoso, tirou Frampton do quase anonimato e o colocou entre os artistas mais cultuados no meio musical até o fim daquela década.
Além de um exímio guitarrista, Frampton possui uma bela voz e, na época, com seu rosto delicado e vasta cabeleira loura, conquistou a juventude daqueles ensolarados e coloridos anos de 1970.
As minhas preferidas dentre as 12 lançadas no álbum: “Show me the way”, “Baby I love your way”, “Wind of change”, “Lines on my face”, “Shine on” e “Do you feel like we do”.