Por Coisas da Política

WILSON CID - [email protected]

COISAS DA POLÍTICA

Razões e contradições

Publicado em 14/10/2025 às 11:48

Alterado em 14/10/2025 às 11:48

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A construção de uma bancada governista no Congresso, aritmeticamente suficiente para facilitar tramitações, continua levando a implicações e complicações: a oferta de cargos em troca de votos, velho modelo de barganhas, não raro, resulta em desacertos. Costuma que, na contingência do desenlace, todos saiam chamuscados, como no recente episódio envolvendo os ministros Celso Sabino, do Turismo, e André Fufuca, dos Esportes, quando os partidos fizeram soar a campainha, dão por terminada a temporada de apoio ao governo Lula, exigem que os ministros renunciem, e os colocam sob ameaça de expulsão. Sob esse clima, a pasta confiada a Sabino ganhou maior expressão no presente momento, em que se ultimam preparativos para a Cop30, em novembro. O encontro terá enfoque nas políticas climáticas, traz ao Brasil centenas de autoridades e especialistas, que trabalhando ou não, serão ilustres visitantes e turistas, algo que guindou o titular a uma linha de responsabilidades no êxito do evento. Não é de hoje: afeiçoados aos cargos, neles projetando aspirações eleitorais imediatas, os que se hospedam no primeiro escalão resistem em cumprir ordem partidária para entregar cadeiras, gavetas e mordomias.

Quando o governo é parte de um presidencialismo de resultados, como o que temos hoje, se chegam os planos para a eleição que se avizinha, é natural que a base parlamentar se considere dispensada da coalizão. Se preciso, entra em colisão, para ter liberdade de adotar novas opções. Outro não seria o destino do União Brasil e do Progressistas, que exigiram a renúncia de seus ministros. Não há quem diga que são cobranças cobertas de razão, pois aproveitaram bem do poder, quando este lhes foi propício. Protagonizando opereta de conveniências, baixaram a cortina e saíram de cena, no aguardo de novo espetáculo em que tenham papel a desempenhar.

Diferente rota para refletir sobre o episódio sugere que os ministros tinham motivo para negar imediata desocupação do cargo, como exigiram seus partidos, porque, afinal, sob sua orientação pessoal, desenvolvem-se providências que podem estar associadas ao êxito da discussão climática; e aí eles e o Brasil têm imensa responsabilidade. Afora que na passagem pelo poder acabaram apaixonados pela cadeira e pelo momento. Mas alguma razão também não faltaria aos dois partidos, porque são deles os cargos no ministério, fruto da troca de interesses. Regras de um jogo que todos aceitaram jogar. Cria-se, então, o embaraço, porque a razão ficou dividida, em cotas iguais, entre os síndicos e o condomínio. Os ministros carregam o dever de lealdade ao governo, sobretudo num momento importante, mas se os partidos se retiram da base, não há mais como estar ali representados. Validade vencida. O que havia para se aproveitar já não é mais visível na prateleira. Preferível afirmar que ninguém sai absolvido nesse enredo.

Situações assim, com a marca da fragilidade, tendem a aumentar, se as peças de apoio circunstancial percebem insegurança e acenos no processo eleitoral que vai chegando. Os partidos, não apenas o União Brasil e o Progressistas se recolhem, porque ainda não sabem de onde virão os dias mais propícios. Nada de novo nos governos de alianças, que delas não escapam, porque não têm como escapar, se estão sem maioria parlamentar.

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