
Por Coisas da Política
WILSON CID - [email protected]
COISAS DA POLÍTICA
Um olhar na geopolítica
Publicado em 16/09/2025 às 12:37
Alterado em 16/09/2025 às 12:37
Faz sentido a curiosidade de setores diplomáticos vizinhos sobre a decisão dos Estados Unidos de fundear, no Caribe, algumas unidades de sua poderosa frota naval, sob o pretexto de inibir o avanço do narcotráfico e seu acesso à Flórida. Como percebem os entendidos no assunto, dois ou três barcos, bem mais modestos, seriam suficientes para desempenhar a contento a missão policial. Todos entendem que ao ostensivo deslocamento, envolvendo milhares de soldados, caberia pressionar a Venezuela a se ver livre do ditador Maduro, já antecipando prêmio de 50 milhões a quem entregá-lo.
Não há como negar. Mas seria conveniente tomar em conta que as intenções de Washington são mais ambiciosas, destinadas a ocupar espaços estratégicos na região, quando as grandes potências, e entre elas a terra dos ianques, percebem que o mundo vai provocando redefinições sobre a geopolítica, já que para a atualidade não bastam as territorialidades e influências tratadas, em parte, no pós-Guerra Mundial, ou, desde os anos 80, como resultado quase natural do fim da União Soviética. No confronto de prestígio com o outro lado do mundo, onde florescem e se aproximam China, Rússia e Índia, parece claro que os americanos procuram sinalizar um poderio militar; como se advertissem que na América Latina as ambições do Oriente não terão vez. Querem ser os donos deste pedaço do mundo. Não pode ser outra a intenção daquela frota caríssima e ostensiva surfando águas latinas, que banham povos nem sempre em boas pazes com os vizinhos do Norte, a despeito de o saldo da convivência envolver certas tradições culturais semelhantes, que também influem.
A se confirmar o que, para alguns, não vai além de especulações em campo livre, seria prudente admitir que a Casa Branca vem lançando mão de outros propósitos, além dos mais aparentes. No frigir dos ovos, para o presidente Trump e seus assessores, teriam importância menor a cabeça do ditador venezuelano e mesmo o insucesso, na Justiça, do amigo brasileiro Jair Bolsonaro, que eles tanto admiram. Trump não tolera Maduro e aprecia o ex-presidente, contra quem o Supremo Tribunal pesou a mão; mas isso não quer dizer que, sacrificando objetivos maiores, pretenda ir além do castigo das sobretaxas, sanções comerciais e diplomáticas. No Brasil, alguns parlamentares fantasiam a realidade dos fatos, acham que os Estados Unidos iriam a uma luta mais profunda em nome de nossas questões domésticas. Improvável que dessem mais do que o necessário.
Estas breves divagações levam à constatação de que a política brasileira ainda não deu devida atenção às novas complexidades da dinâmica geopolítica, embora de suas implicações certamente não teremos como escapar. Queiramos ou não, já estamos no centro das grandes disputas.
É tema que ainda não sensibilizou o Congresso Nacional, mesmo que as evidências recomendem atenção, até porque o governo federal antecipa alguns desafios, não apenas ao colocar em xeque as velhas relações com Washington, mas por apostar num mundo diferente daquele com que nos identificamos, como parte do mundo ocidental. O envolvimento com o Brics, a guerra ao dólar, o afago aos que são antipáticos a Tio San já deixaram bem claro como Brasília quer se situar no futuro.
Não seria desperdício de tempo se passássemos a oferecer maiores atenções à geopolítica, que vem se assanhando com incríveis desafios nos mais diversos campos nas relações entre os países, afetando comércio, indústria, espaços físicos, responsabilidades ambientais e criando guerras. Nesse emaranhado, antigos conceitos e compromissos vão sendo questionados à luz da evolução de um mundo de tantas inseguranças.