
Por Coisas da Política
WILSON CID - [email protected]
COISAS DA POLÍTICA
Tempo de ameaças e desafios
Publicado em 09/09/2025 às 09:08
Alterado em 09/09/2025 às 15:36
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Veio o Sete de Setembro, para mostrar que as lideranças políticas conseguiram construir um país realmente dividido. E, como nunca antes, a normalidade afetada por divergências agressivas, os discursos transformados em sinais de guerra, os grandes chefes arredios ao indispensável diálogo, que acabou reduzido a papel secundário na vida pública, quando, na verdade, devia ser o primeiro entre os valores da convivência em clima civilizado. Pois a comemoração, ironicamente cívica, aprofundou diferenças, dobrou o calendário sem sugerir luz para a retomada de uma convivência em que os grandes interesses nacionais se sobreponham aos problemas da hora. O que se sentiu nas manifestações foi o oposto ao ideal. Em sonho, desejou-se que o dia da pátria, depois de recolhidos canhões e bandeiras, de volta à casa os milhões de manifestantes, descobrisse nas ruas o caminho por onde podemos vencer o grande desafio e as tensões que vive o Brasil hoje.
Mais grave foi subir aos palanques o temor que progride na crise entre os três Poderes; tudo para preocupar a quem cuida, com sinceridade e devotamento, dos destinos do país.
Esbarramos, então, num ponto verdadeiramente crucial. Já não dispomos de líderes talentosos e sem rancores, na atual conjuntura, o que impede celebrar acordos, conversar seriamente e vencer animosidades. Por sobretudo, pairam desafios e ameaças. É o que temos entre os governantes e entre os poderes. Se não vejamos. O Congresso, por conta da maioria de votos, pressiona anistiar todos os envolvidos na suposta trama golpista de janeiro de 2023, porque o julgamento a que estão sendo submetido é de natureza política, então politicamente tem de ser tratado. O Supremo Tribunal, ofendido, reage a isso, promete responder feroz às emendas impositivas, algo destinado a sufocar os planos de reeleição de deputados e senadores. O Executivo, de sua parte, antecipa a campanha eleitoral, e reduz todos os desafios à bandeira da soberania. Tenta mostrar um Brasil à beira de ser invadido pelos ianques.
Quando as diferenças políticas tomam corpo, como está acontecendo agora, a ausência mais sentida é a do pacificador. Difícil encontrá-lo, porque quaisquer que sejam os horizontes, o que se vê é gente armada, punhos fechados, o azedume de dentes cerrados, os bombardeios pelas vias sociais transformadas em fábricas de agressões.
Tudo está ficando muito difícil.
Amanhã, para reflexão
Não foi apenas para ceder a mera curiosidade que quis saber como andam nossos cuidados legislativos ligados à saúde mental da população, já que a Organização das Nações Unidas recomenda especial atenção, amanhã, para o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. É um problema que ainda guarda mistérios e preconceitos, além de muitas sociedades tratarem disso como questão que deva ser limitada à tragédia dos distúrbios das pessoas, com elas conviver e com elas morrer. Vemos que, no Congresso Nacional, em uma década, deputados e senadores cuidaram vagamente da causa, resultando em 20 projetos, que acabaram não levando a grandes avanços. Como nem tudo está perdido, melhor foi saber que, no mês passado, lei federal passou a exigir que os Conselhos Profissionais de Saúde têm de cuidar diretamente desse problema. Já é um passo.
Em boa hora, porque ansiedades e frustrações acumulam-se sobre a mente de populações sensíveis nos grandes centros urbanos. Vale lembrar que não é exatamente correta a ideia de que os índices de suicídio afetam os países mais desenvolvidos, onde as populações sofrem o tédio de não terem problemas a solucionar. Engano. Os países menos contemplados também padecem, porque suas dificuldades são imensas; e estatísticas cuidam de aprofundar preocupações, por causa da alta incidência de jovens. É um detalhe para agravar e perturbar os cientistas. Albert Camus, falando a esses estudiosos, lembrava que o autoextermínio tem a ver com a natural atração pelo nada, mas o ex-ministro Saulo Ramos contribuía com a visão de jurista, para dizer que “o mal do suicida é não dar direito de defesa à sua vítima, ele próprio, quando está fora de si”. As indagações são enormes.
(Mesmo com visões as mais diversas, ninguém pode discordar: os governos e a sociedade precisam investir tudo nas campanhas de prevenção, evitar essa tragédia, tanto quanto possível. Já se disse que, na História, apenas dois suicídios são aceitáveis – Judas Escariotes e Adolph Hitler).