
Por Coisas da Política
WILSON CID - [email protected]
COISAS DA POLÍTICA
Desafios da COP30
Publicado em 26/08/2025 às 10:40
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Ideal seria contar com a participação pessoal do presidente dos Estados Unidos na Cop30, em novembro, no Pará, centro e coração da Amazônia dilacerada e incendiada, onde avulta um dos maiores desafios ambientais dos últimos tempos. Participação indispensável, não apenas por ser o primeiro representante de um país que detém imensa capacidade de gerar influências; mas, também, por governar um território que figura entre os maiores causadores de agressões ao clima, indesejável peso que até há pouco dividia com a China. Não mais agora, porque Pequim vai assumindo sua cota de responsabilidade, avançando significativamente para energias alternativas. O presidente Trump, convidado, recusou-se estar presente, o que não causou surpresa, porque não é de hoje sua convicção de que os caprichos naturais são excessivos e românticos, não podem impor limites à produção industrial, sendo ela poluente ou não. Para sua ausência certamente contribui o desejo de não prestigiar o colega brasileiro, anfitrião do encontro, com quem vem divergindo sobre assuntos gerais. Constatar essa ausência é pena, porque a adesão americana a uma questão de inegável prioridade para o bem geral, ajudaria o mundo a refletir, dando-lhe devida prioridade.
Sem o presidente e sem funcionários credenciados a assumir compromissos e novos passos rumo à política ambiental, lamenta-se também o fato de, logo agora, a paisagem da Amazônia e vizinhanças estar contemplada com o aparato bélico dos Estados Unidos, na caça ao venezuelano Maduro e aos narcotraficantes, que operam com desenvoltura na região. Criou-se um clima tenso, ao contrário do clima ameno para acolher a conferência.
Há outras preocupações que vêm se alinhando para desafiar amplo êxito da Conference of the Parties. Por exemplo, as delegações que cancelaram inscrição, por causa do assalto que os hotéis paraenses tentam praticar contra os visitantes, cobrando valores exagerados para hospedagem. Mas esta não é razão de se ausentarem de evento de tal magnitude.
( Tentando uma explicação para tal volúpia, parece que os hoteleiros de Belém deixaram-se contaminar pela história de nababescas viagens oficiais do Brasil. Seguem o mau exemplo, e ficam com uma cota das culpas que comprometerem a Cop30).
Sem exageros e lamúrias, nem excessivo pessimismo, digamos apenas que, além dos desafios que são inevitáveis quando se tenta promover encontro internacional de políticos, cientistas e estudiosos, interessados em salvar o clima do mundo, há que se observar, igualmente, como particularidade sentida, certo desânimo da parte de lideranças nacionais. A começar por alguns governadores. Os estados integrantes da Federação, independentemente do que vai chegar de outras partes do mundo, têm razões próprias e de sobra para contribuir com propostas objetivas, colhidas em experiências climáticas acumuladas. Se há uma preocupação quanto ao que podemos respirar, a reavaliação da qualidade dos recursos ambientais no Brasil tem muito que debater. E fazer. Vem logo à memória a necessidade de o Congresso sanear dezenas de velhos projetos ambientais dispensáveis, a fim de que todos os esforços se concentrem no fundamental e de rápida tramitação.
Não precisamos importar tragédias, porque já sofremos bastante com desastres locais, resultantes do clima desordenado. Que o digam os gaúchos, afogados em temporais, ou nordestinos assolados pelas secas.
Exatamente pela importância do evento de novembro sente-se que não são poucos os entraves destinados a esvaziá-lo. Porque falar em meio ambiente assusta as engrenagens econômicas, mais poderosas e influentes nos lugares de grandes produções. Mas certo que chegará o dia em que o mundo, para não morrer asfixiado, terá de avançar em novas políticas ambientais. A par disso, não será ousaria ou romantismo vulgar afirmar que os cuidados com o clima, por terem parte comum com todos os povos, são também o melhor caminho para se construir a paz universal. Não de imediato, mas o dia chegará. Sem dúvida.