Por Coisas da Política

WILSON CID - [email protected]

COISAS DA POLÍTICA

A corda vai esticando

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Publicado em 19/08/2025 às 11:05

Alterado em 19/08/2025 às 11:05

Se, com todas as evidências de deterioração, as relações Brasil-Estados Unidos caminham mal, o problema se acentua por causa dos limitados caminhos disponíveis para que os dois países retomem o diálogo. Caminhos que vão se estreitando, com a contribuição de setores políticos ou ideológicos interessados no distanciamento. Em cada gesto, de onde quer que parta; as promessas de retaliação ao vento; as más vontades recíprocas, tudo estreitando espaços para futuras negociações produtivas. O que, neste momento, faz supor que nunca preocupou tanto uma convivência de dois séculos, algumas vezes com acidentes superáveis, outras nem tanto, como a ostensiva contribuição de Washington para o golpe de 64, que machucou nossa democracia e deixou sequelas.

(As grandes crises entre países, mesmo distantes das armas, guardam uma semelhança estratégica com as guerras: elas eclodem por causa de detalhes, mas é sempre muito difícil sair delas. Como dar um capítulo final nessa batalha que travamos com Trump?)

A Casa Branca encontrou na perseguição do Judiciário ao ex-presidente Jair Bolsonaro o mote para as desavenças, ao mesmo tempo em que concede ao filho dele, Eduardo, o papel de embaixador com credencial unilateral, direito a tomar parte em reuniões e decisões de Washington. Influi no alvo americano de dupla face: esvaziar a autoridade do Supremo Tribunal e demolir o governo Lula, o que, hoje, parece ser uma questão de honra para o chefe dos americanos do norte. A propósito já é conhecida a faceta de sua personalidade, confessamente vingativo com os desafetos, entre os quais o colega brasileiro passou a ocupar lugar de destaque. Já não é pouco.
Estamos diante em um cenário que se agrava com o calor dos discursos.

2 - Nem precisaria do concurso de outros componentes que vão chegando, com tudo para aprofundar as feridas, os dois digladiam com palavras, e aprofundam o fosso, que já vai fundo.
Setores competentes e hábeis, no lugar deles, poderiam contribuir para o restabelecimento do ânimo de convivência, mas estão afastados. De fato, nesse episódio, profissionais da diplomacia e do diálogo foram removidos. Ninguém explica isso, convincentemente, se a hora é grave.

Washington e Brasília passaram a admitir que melhor é apostar na corda bem esticada. Nesse particular, não deixam dúvidas. Da parte ianque, o primeiro sinal, exatamente o mais delicado, foi conferir à sua embaixada em Brasília o nível de encarregada de negócios. Sinal claro de desapreço diplomático, agravado, concomitantemente, ao condenar a embaixadora brasileira a flanar nos corredores do Departamento de Estado. Diferentemente do deputado Eduardo Bolsonaro, que fala pela oposição brasileira, dispõe de trânsito livre e acessos credenciados, tratamento diferenciado, sem prévios agendamentos.

3 - Quais outros sinais seriam necessários?, depois de ser desenterrado o Mais Médico, aquela experiência maluca com Cuba, agora pretexto para impedir visto de viagem a familiares de ministro.
Em atitude recente, com caráter desafiador, já arranhando princípios básicos da cortesia diplomática, Washington celebrou, com o governo do Paraguai, um acordo de combate ao terrorismo do Hesbollah, na tríplice fronteira, sem a gentileza de um comunicado formal, tratando-se de um território onde o Brasil é parte, tem um pedaço. Mais ainda, porque esse convênio prevê a presença de representação militar estrangeira. A estranheza brasileira, claro, não significa negar um direito legítimo da política externa guarani.

Corda cada vez mais esticada. Quase num tempo único, o secretário Marco Rubio anunciava que as forças militares dos Estados Unidos estão autorizadas, na América Latina, a abater aviões colocados a serviço do narcotráfico, já denunciando Maduro como um dos chefes desse crime. Vale dizer que o avião dele é um dos objetivos. O presidente vizinho passou a ser procurado como bandido do velho Oeste, cabeça a prêmio, supervalorizada em U$ 50 milhões, o que a coloca em risco, porque milhares de venezuelanos gostariam de se tornar milionários, e depois saltar a fronteira do Brasil… Uma eventual perseguição aérea pode se estender sobre o nosso território, o que levaria a um incidente ou indesejável constrangimento.
Nada mais cristalino. Os Estados Unidos vão apertando o cerco sobre o canto sul da América, com inevitável risco para maiores tensões. O xerife dá sinais de que é capaz de jogar tudo nesse projeto. Lula não é caçado, mas avisa que tem coragem para brigar. Coisa que diz ter trazido na mochila, quando foi exportado pelo Pernambuco…

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