Por Coisas da Política

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COISAS DA POLÍTICA

Atuais e novos desafios

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Publicado em 22/07/2025 às 11:16

Alterado em 22/07/2025 às 11:31

Congresso tem peso para ajudar o Brasil a optar: ou reage, para se firmar na liderança, ou retroage, se não quiser comprar briga com os poderosos esquemas da Casa Branca Foto: Agência Brasil

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Em meio às turbulências da semana, fartas a ameaçadoras, o que parece inevitável é reconhecer que já se instalou uma relação mais que conflituosa com os Estados Unidos; e, assim reconhecido, as ações políticas e diplomáticas devem obedecer a certos critérios, cuja preocupação maior é não permitir o agravamento; evitar que mergulhemos num impasse, o que seria indesejável, tanto para a política como para os interesses no campo da economia. Há forças contrárias, em pleno vapor, aqui e no Exterior. Se todos percebem isso claramente, os presidentes Trump e Lula certamente sabem que não faltam, ao seu redor, espíritos catastrofistas, arautos do quanto pior melhor. É preciso removê-los, porque acham proveitoso que países com tal expressão vivam arranhados, longe das razões da harmonia.

Exatamente por estarmos nesse clima, num quadro verdadeiramente delicado, caberia cobrar atenção e cuidados de nossa chancelaria, acostumada a interesses em sua maioria distantes desse jogo pesado com Washington em que estamos metidos. O Itamaraty tem de saber que estamos abraçados com um urso poderoso, que não apenas nos ameaça com sobretaxas salgadas em nossas exportações, mas tem truculência suficiente para estender tentáculos, mundo afora, com o objetivo de nos complicar.

2 - Diante de tal realidade, passemos a cuidar, com a devida seriedade, de outros desafios iminentes que vão chegar, ainda que, em decisão de undécima hora, em 1º de agosto, o governo americano decida aliviar a ofensa tarifária, hoje em 50%, por reconhecer que, mantendo-a, estaria sacrificando o comércio bilateral. Quanto a novos riscos a cair sobre o Brasil, por obra e graça da Casa Branca, insinua-se animosidade com a Otan e países que são fornecedores em itens estratégicos, como fertilizantes e equipamentos de defesa. Trump tem prestígio suficiente para nos embaraçar com os europeus, sobretudo quando deles nos afastamos e abrimos braços amistosos para a Rússia, contra a Ucrânia. Convém estarmos atentos.

Afora a troca de desaforos entre os presidentes; acima da decisão do governo americano de assumir as dores do ex-presidente Jair Bolsonaro; além da recusa do Departamento de Estado em receber nossa embaixadora; acrescida da desafiadora revogação de vistos para que ministros do Supremo pisem em chão de Tio Sam, se não bastasse há algo ainda mais delicado, com tudo para potencializar tensões num capítulo seguinte das dificuldades. É a suspeita, cada semana mais visível, de que o Brasil está prestes a ser formalmente denunciado pela equipe de Trump como o país em que o Irã e o Hamas apostam para apoiar a criação de uma base do regime dos aiatolás na América do Sul, velha aspiração de Teerã, sempre sequiosa de urânio. Isso começou num namoro com a ditadura da Venezuela, mas ela não conseguiu dar conta do recado. Nada melhor que o Irã para complicar nossas relações com o Ocidente, outro motivo para nossa diplomacia não descuidar.

3 – Tem mais, e agora com atenções voltadas para o Congresso Nacional. Mesmo preocupado com seus crescentes desencontros com o Executivo, o parlamento podia dedicar atenções necessárias aos desafios que desabam sobre a política externa. Não faltam razões para um aprofundado e cuidadoso estudo da parte dos senadores e deputados. Porque também lhes compete avaliar e medir as graves dificuldades introduzidas nas relações internacionais, nunca se satisfazendo com discursos isolados e protestos patrióticos. Mas ir fundo nas questões.

Além das provocações já citadas, outra instigante é o futuro da liderança do Brasil no Brics, depois da aventura de partir para a resistência à dolarização como instrumento único a interferir nos quatro cantos do mundo. O presidente dos Estados Unidos já sentiu o desafio, faz claras ameaças, juntando-as às demais citadas. O Congresso precisa mostra a face, clara, sem maquiagem, ante a quadra temerária que estamos vivendo.

Sobre dificuldades possíveis, no grupo que é do desagrado de Trump, o Congresso tem peso para ajudar o Brasil a optar: ou reage, para se firmar na liderança, ou retroage, se não quiser comprar briga com os poderosos esquemas da Casa Branca. Qualquer que seja o caminho, avançando ou reduzindo o ímpeto no enfrentamento, não poderá prescindir do respaldo político da Câmara e do Senado. Sente-se a indigência da base parlamentar de apoio. Fala-se pouquíssimo sobre o Brics, que já corre risco de alguma desistência. Pior, sobre o assunto, nem contra nem a favor.

Raramente sobe às tribunas uma avaliação serena, competente e desapaixonada sobre os conflitos que nos cercam. Fosse diferente, as duas casas emprestariam real contribuição, para corrigir excessos e descuidos, como também, não menos importante, para ajudar a sociedade brasileira a compreender melhor o que, em seu nome, andam fazendo os governantes.

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