Por Coisas da Política

WILSON CID - [email protected]

COISAS DA POLÍTICA

Relações deterioradas

Publicado em 15/07/2025 às 07:08

Alterado em 15/07/2025 às 15:16

Pelo que sabemos, mesmo sendo tão pouco, a relação entre governantes de estados organizados, como EUA e Brasil, baseia-se, antes de tudo, por normas diplomáticas minimamente respeitosas. Essa mensagem que Donald Trump acaba de enviar ao presidente Lula o que é? Um recado, ofício, notificação, admoestação, comunicado, aviso ou informe? O que é aquilo? Ou um pouco de cada coisa? Ninguém sabe definir com exatidão.

Obtido o indispensável esclarecimento, caberia elaborar a resposta devida ao dirigente de uma nação que guarda conosco antiga convivência. Em seguida, informar à Casa Branca que o presidente Trump equivocou-se ao endereçar sua queixa contra injustiças e perseguições que vê praticadas contra Jair Bolsonaro. Devia postar diretamente ao Supremo Tribunal Federal, pois é naquela corte que o amigo dileto está sendo julgado. Mas o governo brasileiro, ofuscado pelo ódio a quem o antecedeu, deixou passar a ocasião de recusar responsabilidade nesse caso, o mais polêmico dos últimos anos. Não se esquivou, permitindo que os adversários insistissem em que o ex-presidente padece, realmente, de julgamento político.

Não faltam vozes a reconhecer que o momento reclama a defesa dos interesses nacionais. Contudo, os passos que precisam ser dados não podem dispensar a prudência, que muitas vezes é desconhecida por políticos radicais mais influentes. Para estes, aquecidos pelo termômetro do momento, é hora da Lei do Talião, olho por olho, agressão recíproca. Se nos taxam, que os taxemos também, antes de buscar a virtude da negociação. O cuidado que se impõe é que, quando revidamos, implicitamente estamos reconhecendo e dando acolhida à ação agressiva. Melhor que a ignorássemos. Porque, como ensina a Física, a reação só existe porque reconhece a ação.
À mesa, para conversar, tão logo passe o estado febril, recomendam diplomatas experientes.

2 – Sobre a segunda parte da nota ameaçadora. Nas guerras que lhe interessa, o governo dos Estados Unidos continua disparando com sua arma de preferência, as sobretaxas sobre os agro, manufaturados e commodities. Muitas vezes elas têm curta duração, imediatamente recolhidas ou abrandadas, quando isso convier à estratégia do momento. Quanto ao Brasil, o castigo trumpetista foi de 50% sobre nossas exportações, mas - parece - sem fôlego para chegar a 1º de agosto, data prevista para o disparo. O estilo do xerife sugere aguardar que ele recolha o revólver tarifário ao coldre.
A previsão de rápida revisão da medida encontra eco no fato de que, desta vez, os norte-americanos conseguiram irritar a gregos e troianos. Sua iniciativa, se desagradou e colocou os gabinetes de Brasília em apuros, também pesou no colo da oposição; e mesmo o ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem Washington pretendeu agradar, procura escapar do presente incômodo, pede reconsideração. Porque, sob o olhar dos produtores, governo e oposicionistas, mesmo com acusações recíprocas, acabam entoando a mesma polifonia nas responsabilidades pelo impasse.

3 – Agora, um desafio que se sobrepõe às dificuldades deste mês tormentoso. Algo de geral inconveniência, a progressiva deterioração das relações entre Brasil e Estados Unidos, visível nas antipatias entre os presidentes, com lances de desrespeito mútuo. Como também ostensiva na nomeação de Assessor de Defesa na embaixada, sem consulta prévia. Ou na demora em nomear o novo embaixador acreditado, enquanto os interesses entre os dois países ficam confiados a um encarregado de negócios, que, por mais competente que seja, não tem envergadura diplomática para dar trato a situações mais delicadas, como a que se vive hoje. Muitos devem se lembrar: quando Juscelino, na década de 50, insurgiu-se contra a carga dos juros devidos ao Wall Street e aborreceu Washington, ou quando João Goulart aproximou-se da China e desconfiou das intromissões de Lincoln Gordon, nem por isso Washington sacrificou o nível diplomático nas relações.

A menos que sejam logo introduzidos instrumentos de negociação, com interlocutor credenciado a manejá-los com maestria, as relações estarão abertas a novos desencontros. E nisso sempre em jogo bilhões e bilhões de dólares, com prejuízo geral.

Não faltam estímulos para que o clima se agrave, pois os dois governos têm preferido caminhos separados: os países nossos amigos não são os que interessam a Trump, que quer defender o dólar a qualquer custo, e o governo brasileiro avança para a moeda alternativa do Brics, visto como clube de agressão aos vizinhos do Norte. Direita e esquerda, socialismo e capitalismo, as simpatias por ditadores ajudam a criar distâncias.

( Quando se está sob fogo cruzado, é conveniente não disparar contra o inimigo argumentos que ele pode transformar numa espécie de bumerangue. Devolvê-los do jeito como os recebeu. Convém o governo deixar para mais tarde a queixa de que estamos sendo vítimas do intervencionismo, ofendidos na soberania, se lembrarmos que, há pouco, Lula desembarcou feroz em Buenos Aires, desafiou a Justiça e o governo argentinos, festejando a ex-presidente Cristina Kirchner, humilhada com tornozeleira, condenada por corrupção deslavada. E abriu campanha internacional para inocentá-la. Antes, como se reinaugurasse, sem cerimônia, o sinédrio de Jerusalém, condenou e crucificou os judeus por culpa de genocídio, o que lhe valeu o desconforto de ser tratado como persona non grata em Israel. Para não se falar na mais nova chegada a Moscou, onde não teve como negar simpatia à Rússia invasora contra a Ucrânia invadida. Melhor não tratar desse assunto; por ora).

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