
Por Coisas da Política
WILSON CID - [email protected]
COISAS DA POLÍTICA
Nas pegadas de Lupi
Publicado em 14/05/2025 às 08:37
Alterado em 14/05/2025 às 08:37

A política, dizem os experientes, não são apenas os fatos, mas também o que eles sinalizam. E adverte, como no recente episódio da destituição do ministro da Previdência, Carlos Lupi, forçado pelo parrudo escândalo do assalto à bolsa de aposentados e pensionistas, acabando por arrastar a solidariedade de seu partido, PDT, que saiu da base parlamentar de apoio ao governo. Na Câmara são 12 votos com os quais não se pode mais contar. O volume do problema com o INSS deu razões suficientes para o desembarque, mesmo com o ministro pretextando inocência, mas impondo à Presidência da República novo desafio nas tentativas de conter a onda de impopularidade. Das pegadas de Lupi restou a marca da nunca desmentida advertência de que ministros são amigos circunstanciais. Não ficam nem saem com a mesma animação com que chegam. Se retirantes, costumam aprofundar a crise de credibilidade do poder a que estiveram servindo. Convém o governo não considerar esse fenômeno como algo desimportante, isolado, nem tratá-lo como espetáculo de pirotecnia, como Lula tentou esvaziar a calamidade. Num país amalucado, podia ter perguntado quem vem depois de Lupi...
(Porque nada é impossível. A propósito, seja elogiado o IBGE, instituição que tem a grave responsabilidade de traçar o perfil correto do país, e agora decidiu nos mostrar no mapa-mundi como realmente somos e estamos: de cabeça pra baixo).
Essa nova crise deve ter levado o presidente a sentir, mais uma vez, que a estrutura de apoio nas bancadas do Congresso é sempre frágil, permanentemente sujeita a episódios imprevistos e desconcertantes, mesmo sem a gravidade do que se viu agora. Em primeiro lugar, cabe lembrar que os acordos no campo em que têm jogado Executivo e Legislativo sempre se inspiram em troca de favores, sem bolas na trave. Cessados, geram debandada. Como no adeus do PDT. Quando se perde ministério de grande importância, o que a base faz é arrumar as malas e esvaziar as gavetas.
Com tal modelo de apoiamentos, o presidente fica à mercê de novas surpresas, já que escândalos não faltam, e os partidos que o sustentam preferem retirar-se, ainda mais ligeiros quando os olhares estão atentos ao calendário eleitoral. Os circunstancialmente governistas evitam desgastes em uma quadra tão delicada, e não hesitam em desassistir o palácio. Viu-se agora com os trabalhistas brizolistas.
Se se trata de um risco concreto, cabe avaliar os instrumentos de defesa. É certo que, diante do que ainda pode acontecer, a Lula não basta fazer de conta que as coisas estão sob controle, e acusar explorações políticas de tomar carona no assalto, mas tem de matutar – e sem demora – sobre alternativas que lhe restam para salvar o mínimo de dignidade. Alternativas são complexas, porque todo o seu mandato é marcado por costuras e remendos na textura da política de relações com o Congresso. Se ela se romper, total ou parcialmente, o remédio é apelar para grande mobilização popular, estratégia em que ele soma alguma experiência. Na busca do agrado popular, talvez o caminho passe por uma corajosa varredura, em nome da moralidade no serviço público, atacando o foco dos crimes contra os interesses da nação. Se acidentes como esse do INSS podem derrubar o governo, o presidente tem de agir logo, hasteando uma nova bandeira: guerra, sem tréguas, aos corruptos, dentro ou fora do palácio, ainda que alguns deles tenham parte nas intimidades presidenciais. O povo se consola ao ver poderosos em maus lençóis.
Com três mandatos, chegando aos 80 anos, tendo como único direito a passar para a História da melhor maneira possível, Lula já não precisaria temer grandes lances heroicos. Doa em quem doer. É pagar pra ver.
Grupo de trabalho
Cada vez mais duvidoso que o Executivo consiga, sem grandes concessões, prosperar a pretendida PEC da nova política da segurança pública, que, além de estar despejada sobre ela a má vontade de governadores, tem, agora, para colocá-la à beira da cova, a criação de um grupo de trabalho, formado por senadores e deputados. A ideia é do presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, que promete incursões capazes de aperfeiçoar o texto original. Sabemos como são essas comissões, altamente competentes para jogar com o tempo e nada resolver.
Matéria de tamanha complexidade, eivada de dúvidas quanto às intenções, mais ainda sua real capacidade de encostar na parede o crime organizado, ela não terá como prosperar em clima de crises, como as que estamos vivendo. E, daqui a pouco, prejudicada também pela temporada eleitoral.
Bons apostadores não jogariam todas as fichas no futuro dessa PEC.
(É tamanha a evidência dos obstáculos e a promessa de infinitos expedientes de procrastinação, que se permite duvidar do sucesso do grupo de senadores e deputados, em fase de organização. O humorista americano Art Buchwald (1925-2007) tinha uma definição peculiar de grupo de trabalho. “É um batalhão de despreparados, convocado por um desinteressado para preparar projetos desnecessários”).