Por Coisas da Política

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COISAS DA POLÍTICA

A gente não desce do palanque

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Publicado em 29/04/2025 às 13:00

Alterado em 29/04/2025 às 13:54

Lula: viril e animado pela reeleição Foto: reprodução

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Coisa igual não é fácil encontrar em outros países, por mais fervorosos que encenem os embates políticos. Pois, aqui, quando estamos a 18 meses das eleições, e tantas coisas ainda faltando para acontecer, as candidaturas vão se precipitando, notadamente com os sonhos de postulantes à governadoria dos estados de maior expressão. Até o presidente Lula, que vinha se revelando comedido nesse campo, acaba de dizer-se viril e animado para enfrentar nova jornada. Três eleições já não lhe bastam.

Mas ainda não é chegada a hora de considerar pretensões pessoais. Valeria debater, desde já, sobre a desejada unificação das datas de eleições, tema de um sem-número de projetos guardados no Congresso Nacional. Entre deputados e senadores pode-se perceber o escasso ânimo para fazer a matéria avançar. Arriscando um dado, diria que em dez anos foram quase duas dezenas de inciativas frustradas, entre as mais recentes o projeto do então deputado Eduardo Azeredo, que pretendeu a unificação.

Às muitas razões para o enxugamento do calendário eleitoral soma-se a constatação de que o Brasil continua condenado a não descansar das campanhas, não tem direito de descer dos palanques eletrônicos, porque, quando se encerra um processo eleitoral, já se sabe que outro ocorrerá em dois anos. Desde então as atenções e os interesses convergem para a montagem de novos esquemas. Não é outra coisa o que se tem visto. A gente não desce dos palanques, e os prejuízos para o país são enormes.

(Há um argumento, fragilíssimo, insistentemente repetido pelos defensores da prática de eleições de dois em dois anos. Dizem que, sendo assim, o brasileiro exercita a democracia e permite o aperfeiçoamento do voto. Convém sair à procura de outra razão. A realidade mostra que, quanto mais vamos à urna, mais temos deteriorado a grandeza do voto. Veja-se o nível e a qualidade dos políticos eleitos, sem que para isso tenhamos de sair das divisas do Rio de Janeiro, onde os eleitos têm frequentado, alternadamente, palácios e prisões).

Sabemos que as consequências proporcionadas por tão curto tempo entre uma eleição e outra agravaram-se com um fenômeno ao mesmo tempo benéfico e nefasto. Trata-se das redes sociais, que, bem avaliadas, prestam grandes serviços, mas tornaram-se milhões de palanques eleitorais permanentemente montados. Não dão tréguas ao debate político, porque são multidões os debatedores que querem antecipar ideias e preferências.

2 - Essa nova dolorosa quadra de corrupção que grassa Brasil afora, como febre incontrolável, faz lembrar a veia irônica de Stanislaw Ponte Preta. Se é cada vez mais difícil a restauração da moralidade, então que nos locupletemos todos, como forma de democratizar os frutos do enriquecimento ilícito. Adquire-se o direito de roubar, se antes todos chegaram com o mesmo propósito criminoso. Generalizaram-se os assaltos, o que nos arrasta a um singular estado cleptocrático. Nada mais apropriado para a falência da sociedade.

Esse recente caso doloroso do INSS, onde foram desviados 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas, em forma de descontos não autorizados, trouxe uma nova e cruel versão do lendário Robin Hood. Na Idade Média, ele roubava dos ricos para dar aos pobres. No Brasil, os donos da Previdência roubavam dos pobres para dar aos ricos…

Então, chegamos a outra realidade, totalmente sem graça. A quem recorrer para que se espere alguma justiça em meio ao caos febril? Em que portas vão bater os fracos e deserdados? O que se diz é que as esperanças deviam caminhar naturalmente para a Justiça, mas ela, desgastada, perdeu totalmente o ânimo para prestar socorro; e muita gente que opera em nome dela está comprometida.

Na verdade, olhando para esses tribunais, quem, com altivez e saem culpas, pode lançar a primeira pedra nos corruptos?

Se fosse possível tomar de Diógenes emprestada a velha lanterna com que procurava o homem honrado nas ruas de Atenas, com ela andaríamos hoje pela praça dos Três Poderes. Noite e dia.

Pobres Diógenes e brasileiros.

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