Por Coisas da Política

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COISAS DA POLÍTICA

Tensões que crescem

Publicado em 08/04/2025 às 10:35

Alterado em 08/04/2025 às 10:35

Lula e Bolsonaro: dois litigantes em destaque na mídia Foto: reprodução de vídeo

Nem é necessário dizer que fatos e conjunturas vão se associando, muitas vezes entrelaçados, para elaborar a expectativa de que temos caminhado, a passos largos, para um ano eleitoral infestado de tensões, muitas das quais já visíveis no cotidiano. Por exemplo, fato mais recente, o debate que se trava em relação à anistia aos que tiveram participação, direta ou indireta, nos acontecimentos de janeiro de 23, é uma das sinalizações a preocupar, com agravante de ser conduto para acentuar desacordos entre Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, que divergem quanto a alguns limites definidos pela Constituição, para não se falar na caça togada aos maus caminhos das emendas parlamentares. Também nesse particular ministros e deputados não se banham nas mesmas águas. Conflitam.

Todo dia o país anoitece e amanhece com diálogos exacerbados, desconfianças generalizadas, condenações precipitadas. E, em quase tudo, forte conteúdo ideológico, que tem servido para que esquerdistas definam como nazistas seus adversários, e os direitistas opondo-se aos que identificam como comunistas de ocasião. A esse figurino simplório, mais ativo nos últimos dois anos, alimentado por divergências crescentes, soma-se o duelo entre os grupos de Lula e Bolsonaro, o que até serve para manter os dois litigantes em destaque na mídia, mas acaba entorpecendo a nação, que se embebeda nos conflitos, vive em cabeçadas e escorregões. E o Brasil vai tropeçando. Parece claro que as questões entre o atual presidente e o ex agravam-se com o prestimoso auxílio de setores políticos que se beneficiam disso, nada preocupados em esfriar os ânimos, mas manter aceso o calor que sopra das velhas brasas eleitorais.

E a temperatura subindo, para infelicidade geral. Tudo se somando, por acréscimo, para pintar novas nuvens neste céu nublado que a gente está sentindo.

Não menos expressivo e instigante é o protagonismo político que o Supremo Tribunal Federal decidiu instalar entre suas responsabilidades constitucionais, além do pêndulo de suas nítidas simpatias em relação ao Executivo; e nisso às vezes até excede. Rigorosa, com razão, frente às malandragens acobertadas pelas emendas parlamentares, a mais alta corte finge não ver estripulias de alguns de seus membros, como também prefere adotar olhares de paisagem quanto aos deslizes de ministérios e da Presidência da República. Seja como for, a toga tem algo a ver com essas tensões.

Vem, então, a indagação pertinente. Se a superação do atual estado de coisas fala diretamente aos interesse da nação, fazer o quê?

Pois, se cada qual tem sua parcela nas responsabilidades, parece lógico admitir que devem ser comuns e solidários os esforços para a superação desse mal; o mal das tensões crescentes. De fato, se não há como discordar que os conflitos procedem de terrenos vários, a pacificação haverá de ser obra de competência geral e irrestrita. Começando pelo Executivo, onde está o presidente, em quem o declínio de popularidade é mais que advertência, mas uma convocação a cuidar do que anda torto em seu governo. Tornou-se necessário que, além de promessas, ele explique, num jogo de puras verdades, por que não consegue a redução drástica nos gastos oficiais. E, tanto como na economia nos gastos, também precisa economizar nas palavras, que ele emprega sem temer repercussões. Microfones e câmeras de televisão, que ele não despreza, geralmente aquecem as crises.

( O velho deputado Elías Murad ( 1924-2013) preocupava-se com duas coisas: a escassez de medidas contra as drogas, e os excessos verbais dos políticos, sobretudo quando saíam da boca dos presidentes. Dizia que palavra de presidente só faz sentido quando segue o modelo da minissaia: suficientemente curta para manter o interesse, suficientemente longa para cobrir o assunto…)

Voltamos a outro polo, o Supremo Tribunal, que seguramente ajudaria, e muito, se promovesse filtragem no polêmico processo da tentativa de golpe de estado, onde faltaram tanques e soldados, mas sobraram mais de 1.500 depredadores das instalações do Congresso. Estamos diante de um processo político, e como tal deve ser tratado. Invertida a ordem das instâncias, abusado das medidas cautelares, limitado o direito de defesa dos acusados, que os depredadores, confirmada a culpa, sejam condenados pelo delito praticado, mas sob os critérios da dosimetria. O que pouparia a corte do desgaste de mandar pra casa uma costureira, depois de condená-la a 14 anos de prisão, cujo crime foi pichar o bem público, com batom, a arma de que dispunha na bolsa.

Nada mais propício ao clima de inquietações da atualidade que as baralhadas suspeitas que o ministro Alexandre impôs ao Supremo.

Por fim, traçado o roteiro das tensões, que prometem crescer na vizinhança da eleição, não se concebe atuação menos grave no poder Legislativo. Subjugado demais a interesses muitas vezes distantes das aspirações da população, avança com desenvoltura sobre fundos eleitorais, verbas e emendas parlamentares, que se tornam instrumento criminoso quando condenadas à missão de cabos eleitorais pelo interior. Se cede aos propósitos do governo, não o faz sem farta distribuição de favores. O Congresso tem sabido como exacerbar. A opinião pública não gosta, trata deputados e senadores como gente inútil e cara aos cofres. O descrédito também é parte do desassossego em que vivemos.

O quadro é preocupante, na medida em que não se dá conta de inciativas verdadeiramente empenhadas em pacificar o país, desejoso de sair desse enredo confuso, mas sem saber por onde começar, e sob que lideranças para acudi-lo.

 

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