
Por Coisas da Política
WILSON CID
COISAS DA POLÍTICA
O que dizem as pesquisas
Publicado em 25/02/2025 às 10:38
Alterado em 25/02/2025 às 10:52

A melhor conduta em relação à profusão de pesquisas sobre os rumos da sucessão presidencial de 2026 é, sobretudo, tomar em conta que elas refletem pouco mais que o ânimo da sociedade sobre problemas da atualidade. Dezoito meses antes da eleição, não seria prudente achar que estão traçando perfis definitivos de vencedor e perdedores, principalmente quando a prudência adverte que somos um país em que a política e seus caminhos gostam de ceder a emoções e comoções, que, não raro, ditaram o futuro das candidaturas. Raul Soares, depois imitado por Magalhães Pinto, já sentia isso, dizendo que a política assemelha-se à nuvem no céu: de momento para outra é capaz de afigurar-se completamente diferente. Pesquisas têm o destino das nuvens.
No momento, diante dos debates em torno de dois problemas sensíveis - alto custo de vida e baixa qualidade na segurança pública - a busca de preferências dos eleitores há que se inspirar nessas questões; e nada mais que elas. Mitigadas as dificuldades em qualquer uma, as pesquisas podem tomar rumos diferentes e ganhar olhares mais confiáveis.
Afora os desafios na melhor interpretação dos números. É o caso, entre outros, da indicação de queda brusca do prestígio popular do presidente Lula, contrariando o fato de essas mesmas pesquisas conseguirem mantê-lo na liderança dos eleitores, ou muito próximo dela. Há aí um desencontro de fenômenos que dificulta interpretação racional. De fato, parecem fatos incompatíveis a queda de prestígio e a viabilidade eleitoral. Melhor, então, é considerar que os cenários tanto podem mudar como podem permanecer, já que há tempo suficiente para tudo, para tantas coisas que hoje não podemos enxergar. Os especialistas dos institutos averiguadores têm explicações técnicas, mas nem sempre coincidentes com as manhas da política.
Para 2026 talvez seja prudente considerar que o pleito, visto de tão grande distância, pode, no máximo, indicar possibilidades quanto a conhecidos perfis presidenciáveis, sem que isso seja bastante para traçar previsões quanto à conduta a ser adotada pelos eleitores, que, neste momento, andam mais preocupados sobre como se safar dos preços da mesa de todo dia, e da violência nas ruas. Quanto a esses problemas não há possíveis candidatos a que, desde já, o povo possa recorrer, o que se torna ainda mais claro se dermos entendimento ao fato de o Brasil não ser único e igual como ente social. Somos muitos Brasis, onde os destinos do Sul e do Norte, do Centro e do Nordeste só no mapa se alinham e têm intimidade. Fora disso, nossos eleitores são estrangeiros da mesma pátria em que moram, pouco se conhecem politicamente, quando encaram o voto.
Estamos especulando sobre dúvidas em relação às urnas do próximo ano, e o rol de fatos e fatores que reduzem a capacidade de elas, desde já, poderem esparramar reais possibilidades. Por sobre tudo, levemos em consideração que o quadro fica na dependência de como estarão e como serão Lula e Bolsonaro no grande jogo, atores de um festival de radicalização que ninguém supera. Se ambos se mantiverem fora, ausentes ou só como apoiadores, a disputa pela sucessão será totalmente diferente. Ou, ainda - vale indagar - como se situarão os governadores dos principais estados, que têm sinalizado disposição de interferir, queixosos das rupturas do federalismo que insiste em ficar longe do ideal.
Há, portanto, um conjunto de indagações sem respostas imediatas, muitas dúvidas e talvezes para mostrar que as pesquisas sabem pouco. Ou estão apenas mais ou menos informadas.