COISAS DA POLÍTICA

Depois de outubro, trocas no Ministério

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Publicado em 28/07/2024 às 07:58

Alterado em 28/07/2024 às 08:05

A presidente do PT, Gleisi Hoffman Foto: Mathilde Missioneiro/Folhapress

Quem andou circulando pelo Palácio do Planalto esta semana, a segunda de recesso do Legislativo e do Judiciário, saiu com a quase certeza de que o presidente Lula está só aguardando o resultado das eleições municipais em 6 de outubro para promover uma reciclagem na Esplanada dos Ministérios, o que também poderia atingir gabinetes no próprio Palácio presidencial. O resultado das eleições (mais no 1º que no 2º turno, limitado às grandes cidades) vai mostrar quais partidos aliados ao governo ganharam musculatura para serem considerados parceiros seguros para marchar juntos de 2025 a 2026.

De olho no pleito de 2026, o sarrafo do governo Lula será o desempenho dos atuais aliados contemplados com pastas ministeriais. Ao lado do desempenho de cada ministro, os partidos terão de mostrar comprometimento, ajudando o governo Lula (leia-se PT e os partidos coligados) a fazer recuar a onda bolsonarista no interior e nas periferias das grandes cidades. Um dos cuidados do governo Lula é posicionar a reciclagem ministerial de acordo com a provável composição da nova mesa da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Até aqui, o senador David Alcolumbre (União) é pule de dez. Mas o Planalto está de olho no desempenho de senadores que se licenciaram para concorrer a prefeituras. Se os bolsonaristas forem bem-sucedidos, pode indicar riscos de mudança de correlação de forças no Senado, uma casa que tanto aprova nomes para o Banco Central, agências reguladoras e novos embaixadores, quanto tem o poder de instaurar pedidos de “impeachment” de ministros – do Executivo e até do Supremo Tribunal Federal, um fetiche bolsonarista.

Na Câmara, cuida-se de que o sucessor de Arthur Lira (PP-AL) siga fazendo tabelinha com o governo. Um nome que ganhou peso na sucessão da câmara é o do deputado federal Acácio Favacho (MDB- AP). Presidente da Frente Parlamentar da Transparência, tem sido assediado por caciques de vários partidos para dar suas considerações sobre o rumo nas próximas eleições municipais. É tido como uma das balanças na escolha do próximo presidente da Câmara. Um dos objetivos do governo nessa eleição é desarmar os espíritos de beligerância entre a oposição e a base política do governo.

O PT, presidido por Gleisi Hoffmann, segue levando ao pé da letra a ideia de que o atual governo é do partido, e não de uma coligação. Na verdade, o presidente Lula foi eleito não por ser do PT, mas por sempre ter sido mais hábil em angariar aliados e transcender ao próprio partido que ajudou a fundar. A troca do comando do PT coincide com as trocas das mesas diretoras do Congresso em 1º de fevereiro, no retorno do recesso de 2024-25. Muita gente no Palácio considera que Gleisi tem atrapalhado ações do governo em atendimentos a pedidos de parlamentares, o que acaba deixando de saia justa o líder na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE). Gleisi filtra com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, qual pedido de parlamentar deve ser atendido. Muitos são engavetados, o que reabre uma das pontas dos acordos.

Um quadro do PT que estará liberado pós eleições é o atual prefeito (reeleito) de Araraquara (PT-SP), Edinho Silva, o homem providencial que costuma agir como bombeiro apagando incêndios dentro e fora do PT. Edinho Silva estava recebendo a visita de solidariedade do recém-empossado presidente Luís Inácio Lula da Silva pelas enchentes que arrasaram o município e o interior paulista no domingo 8 de janeiro de 2023, quando a horda bolsonarista invadiu a Esplanada dos Ministérios e depredou as sedes dos Três Poderes. No gabinete do prefeito, acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva, Lula contou com Edinho Silva para fazer várias ligações que levaram à reação do governo, a partir do ministro da Justiça, Flávio Dino, o que frustrou a tentativa bolsonarista de passar o poder às Forças Armadas pelo recurso da Garantia da Lei e Ordem (GLO). Seu figurino cabe no PT como no Palácio.

O rei do camarão

Por falar nos articuladores do frustrado golpe, dia desses o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, que controlava a Abin e acompanhava todas as ações de Bolsonaro, dividia mesa com antigos colegas de farda em seu restaurante preferido em Brasília, o Rei do Camarão. Reclamava a todo momento da forma como vem sendo tratado por setores da justiça. Acha que sua folha de serviços estava sendo desrespeitada. A justiça há de reconhecer sua culpa.

Covid, covid, eleições à parte...

O governador do Amazonas, Wilson Lima (União-AM), dias atrás, procurou o ex-presidente Jair Bolsonaro para tentar demovê-lo de apoiar o candidato líder nas pesquisas para a prefeitura de Manaus. Bolsonaro o colocou para correr e segue apoiando o capitão Alberto Neto (PL), contra o atual prefeito David Almeira (Avante). Manaus é a 7ª cidade do país, com 2,063 milhões de habitantes, atrás de Belo Horizonte e Salvador, segundo o Censo do IBGE. Alberto Neto terá como vice Maria do Carmo, empresária com prestígio no estado, dona do Hotel Tropical de Manaus e de instituição superior de ensino.

Paraense de Santarém (PA), Wilson Lima, um jornalista que se alçou à política como apresentador da TV A Crítica, é o protótipo do político populista do século 20, que tanto muda de estado quanto de partido. Desde 2012, já transitou pelo PV, pelo PR, pelo MDB, pelo PSC (pelo qual se elegeu governador em 2018) e em 2022 foi reeleito pelo União. Comungando com Jair Bolsonaro da tese da “imunidade do rebanho”, foi um dos responsáveis, junto com o então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, pela maior crise da saúde pública na pandemia da covid. Manaus e o estado sofreram colapsos na saúde pública (faltou oxigênio). E ainda rezou pela cartilha bolsonarista: o Amazonas liderou o desmatamento no 1º semestre de 2022, ficou em 3º lugar em queimadas no mesmo ano e facilitou a destruição do garimpo em terras indígenas.

Kamala deixa Wall Street em suspense

Em menos de uma semana na pista, é evidente que a substituição, pela dinâmica e jovem Kamala Harris, do velho e cansado Joe Biden, que, por ser presidente, não pode se expor tanto nos estados-chave do Colégio Eleitoral pelos encargos do comando da maior nação do planeta, causou uma reviravolta no quadro eleitoral dos Estados Unidos. Antes, quem estava livre para fazer comícios à vontade era Donald Trump. Agora, ele tem alguém para lhe roubar a atenção da mídia, o que pode seduzir o eleitorado democrata, sobretudo negros, imigrantes, idosos e jovens, a sair de casa para ir votar em 6 de novembro (nos EUA o voto não é obrigatório). Em 2020, a mobilização fez a diferença. Como França, onde o resultado entre o 1º e o 2º turnos da eleição legislativa tirou a ultradireita da liderança para o 3º lugar em uma semana.

O comentário sobre a reviravolta provocada pela renúncia da candidatura do presidente Joe Biden em favor da vice-presidente democrata Kamala Harris, que acaba de ganhar o apoio do casal Obama, que está abalando as convicções de Wall Street, que apostava em Trump, é da JP Morgan Research, o departamento de estudos e pesquisas do JP Morgan, cujo CEO, Jamie Dimon, é um forte apoiador de Donald Trump e está cotado para o cargo de Secretário do Tesouro, se o republicano for eleito. “A retirada de Joe Biden da corrida presidencial mudou significativamente a dinâmica da eleição dos EUA, abrindo caminho para uma disputa muito mais acirrada entre os democratas e os republicanos”. Em resumo, as novas visões do JP Morgan.

1. A política sob os democratas provavelmente será semelhante

“Kamala Harris e Joe Biden têm estado muito em sintonia durante o atual mandato, então é provável que haja pouca diferença entre suas abordagens políticas. Há uma possibilidade de que Harris possa assumir uma postura mais progressista em algumas questões, mas, em geral, uma administração Harris deve ser semelhante à de Biden de uma perspectiva política."

Algumas diferenças importantes a serem consideradas. "Se Biden permanecesse no poder, não estaria mais vinculado a importantes alas de interesse do partido Democrata, particularmente no que diz respeito a questões fiscais", disse Bruce Kasman, Economista Global Chefe do JP Morgan. "Com Harris candidata, sendo uma presidente de primeiro mandato dependente de sua base, uma vitória Democrata poderia levar a um conjunto de políticas um pouco mais à esquerda do centro, e isso se aplica a políticas fiscais, comerciais e regulatórias".


2. Vitória de Trump teria implicações significativas no mercado de ações

“Se tivermos um republicano no topo da chapa e um impasse no Congresso, questões como comércio, tarifas e imigração entrarão em foco. Empresas que são muito sensíveis a aumentos de tarifas, como aquelas que importam muito da China ou que são fortemente integradas na cadeia de suprimentos chinesa, podem estar em risco”, disse Kamal Tamboli, estrategista sênior de ações dos EUA no JP Morgan. Ao contrário, empresas em setores de "porto seguro" com menos exposição a tarifas, como "software" e defesa dos EUA, podem ser menos afetadas.

Uma vitória de Trump também teria impacto em empresas de energia. “Muitos dos planos que estão sendo promovidos pelos republicanos hoje parecem sugerir que eles desejam enfrentar a inflação bombeando mais barris de petróleo. Por outro lado, pode haver retrocessos na nova legislação de energia, e subsídios abertos para EV (energia verde) podem estar sob mais escrutínio”, acrescentou Tamboli.

3. O comércio e a imigração provavelmente terão um impacto mais imediato

Antes de Biden se retirar da próxima eleição, as expectativas de uma possível “varredura vermelha” (republicana) estavam crescendo. No entanto, com um Congresso dividido parecendo mais provável, pode haver atrasos legislativos, especialmente porque ambos os partidos têm agendas fiscais muito diferentes.

“Agora que podemos ter um resultado eleitoral apertado, achamos que a política fiscal será difícil de implementar e lenta para acontecer. Quaisquer mudanças fiscais provavelmente ocorrerão em 2026”, disse Kasman. “Em vez disso, a política regulatória e administrativa, o comércio e a imigração provavelmente serão as grandes peças móveis para os primeiros dias da nova administração.”

Uma vitória republicana poderia resultar no fechamento das fronteiras dos EUA para imigrantes e tarifas sobre produtos estrangeiros. “Esses são choques negativos de oferta e podem causar algum dano ao crescimento”, observou Kasman.

4. As reações nos mercados de juros

A retirada de Biden até agora teve impacto limitado nos mercados de taxas do Tesouro americano. “Parece que os mercados estão tratando isso como uma probabilidade maior de ser uma corrida mais acirrada”, observou Jay Barry, Co-Chefe de Estratégia de Taxas dos EUA no JP Morgan.

No geral, as expectativas de cortes do Fed foram, e continuam sendo, o principal impulsionador dos mercados de taxas. “No passado, vimos casos de hesitação em que as eleições impactaram a curva do Tesouro, mas isso foi passageiro por natureza”, acrescentou Barry. “Com a eleição ainda a três meses e meio de distância e sem saber como serão as disputas eleitorais, o mercado do Tesouro está negociando principalmente com base nas expectativas do Fed”.

O Federal Reserve se reúne nesta 4ª feira (31 de agosto) e pode indicar se virá mesmo uma redução de juros em setembro. Seria um alívio para o Comitê de Política Monetária do Banco Central. A alta do dólar pressiona a inflação e pode levar o Copom a elevar os juros, parados em 10,50% ao ano desde maio. Juros menores nos EUA reduzem a valorização do dólar e os preços das commodities, esfriando a inflação. Mas os últimos dados mostraram a economia americana forte no 2º trimestre, o que pode ser água na fervura.

As moedas e a guerra comercial

Não são só o real e moedas emergentes, como os pesos mexicano e colombiano e a lira turca, as mais atingidas pelas especulações nos mercados de câmbio e de commodities (cotadas em dólar). Na reunião dos ministros das Finanças do G-20, na 6ª feira, no Rio de Janeiro, o vice-ministro das Finanças para Assuntos Internacionais do Japão, Masato Kanda, pediu aos seus pares do G20 que fiquem cada vez mais atentos às flutuações excessivas das taxas de câmbio impulsionadas pela especulação. Ele disse que é preciso prestar atenção aos riscos de que as altas taxas de juros prolongadas em alguns países (leia-se EUA e União Europeia) desestabilizem (por seus efeitos colaterais) os mercados financeiros.

Quando os países não podem impor barreiras tarifárias às importações que estão inundando os portos, uma das armas utilizadas para desestimular as compras externas e “baratear” os produtos locais, tornando-os mais atrativos aos importadores, é desvalorizar a moeda nacional. Mas isso tem de ser feito com cuidado, pois o efeito imediato é uma explosão na inflação, como ocorreu na Argentina, enquanto os estímulos ao reequilíbrio das contas externas (importação x exportação) é mais demorado.

Uma das moedas mais estáveis do mundo, o iene foi alvo de especulação nos últimos três meses, com apostas contra a moeda japonesa por ter as mais baixas taxas de juros do mundo (negativas a maior parte do ano). Na visão do Goldman Sachs, o Japão tem mais condições do que a China para ter preferência dos fundos de investimento globais. As mudanças na moeda, nas curvas os juros dos títulos do Tesouro e na política estão atraindo os investidores para as ações japonesas. Ponderando as oportunidades em taxas, câmbio e ações, o Japão pode ser o mercado mais interessante do mundo no momento, segundo o Goldman Sachs. Isso explicaria por que o fluxo de recursos para o Japão, enfraqueceu as moedas de Brasil e México nos últimos meses. Isso ajuda as exportações no Brasil, mas a valorização do iene prejudica a competitividade do Japão.

Que triunfe a Democracia na Venezuela.

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