Cidades Inteligentes

Por Ricardo Salles

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CIDADES INTELIGENTES

Distritos de energia, solução para edifícios próximos

Distritos de energia podem gerar economia em escala e uma vantagem competitiva importante nos centros urbanos, além da evidente redução da pegada de carbono

Publicado em 25/02/2021 às 12:36

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A criação de distritos de energia, onde há equipamento de geração de frio (ar-condicionado), geração de água quente com reaproveitamento do calor gerado pelos equipamentos, e a compra de energia elétrica na GD (geração distribuída, de renováveis) traz um conjunto de economias que inclui até mesmo o custo de operação, manutenção e o de espaço físico nos prédios, principalmente naqueles históricos.

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Arco do Teles, centro histórico do Rio de Janeiro (Foto: Foto: Ricardo Salles)

Estendendo um pouco mais a respeito do que falei na matéria sobre a recuperação das cidades e a necessária reurbanização, o poder público em harmonia com a sociedade civil organizada apresenta projetos de reurbanização para discussão, e estes devem contemplar a respectiva infraestrutura. Uma parte importante desta infraestrutura são as instalações prediais, que são o conjunto de sistemas que incorporam as edificações, tais como: sistemas de distribuição/geração de energia elétrica, de distribuição de gás, de água, de ar-condicionado, de elevadores, de iluminação, dentre outros.

Considerando que 70% do custo de energia elétrica de uma edificação correspondem ao sistema de ar-condicionado, e analisando que caso esta edificação possua elevadores o ar-condicionado continua com uma grande participação no consumo de energia, passando de 70% para 50%, a otimização deste sistema gera uma grande economia, ainda mais potencializada se juntarmos alguns prédios; temos então a definição de distrito de energia.

A Abrava - Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento, membro fundadora do CNCR – Conselho Nacional de Condicionamento de Ar e Refrigeração, através de seu presidente executivo, nos traz um importante depoimento:

Arnaldo Basile lembra que Brasília, embora tenha sido uma cidade planejada por grandes arquitetos, pecou em não integrar melhor as tecnologias de engenharia de climatização e refrigeração de sistemas eletromecânicos já conhecidas à época. Esta falha provocou custo de operação muito grande. Basile interpreta que “deveria ter sido incluído no projeto um district cooling, onde um único sistema integrado atenderia vários prédios.

Hoje os sistemas inicialmente projetados para atender a um prédio foram “canibalizados” em grande parte, e passaram a atender salas (splits). Não há necessidade de discorrer que sempre que integramos sistemas há economia de escala. Não há como sustentar que sistemas tipo split possam ser mais eficientes e que podem consumir 70% a menos (propaganda que corre de forma contestável por não apresentar evidências desta conclusão).

Outra contribuição importante nesta matéria foi do presidente do CNCR, Arivan Sampaio Zanluca que afirma que “quando uma informação é trazida à mídia e conversa com o cidadão comum, deve ser sustentada com consistente embasamento técnico, e as argumentações comercias nunca devem se distanciar da técnica.”

Basile exemplifica um district cooling com um case da década de 90, o da Volkswagen, em Resende-RJ, hoje fábrica de caminhões MAN. Em uma indústria, há planejamento e controle efetivo de gastos, pois isso influencia diretamente nos resultados operacionais, tanto de eficiência da operação propriamente dita quanto dos resultados financeiros. “Em geral, em uma cidade não são levados em conta o custo de manutenção e operação, somente o impacto que pode gerar na opinião pública”, afirma Basile.

Precisamos sair deste lugar e para isso, em outra fala, afirma também Arivan que “o CNCR, durante a pandemia, se organizou e está pronto para atender as demandas técnicas de todas as prefeituras brasileiras através das organizações que o compõe, e que estão presentes em todas as regiões do país.” Arivan disse ainda que entende a carência de informações confiáveis que viabilizem a divulgação de matérias que ajudem a nossa nação a sair desta crise: social, econômica e sanitária. Nesta direção, o CNCR, em conjunto com as entidades que o integram, criou seis guias de referência em biossegurança dos ambientes internos, um para cada tipo de local, lançado aqui nesta coluna e disponível para download no fim de nossa matéria de 24 de dezembro, para acessar clique aqui.

Embasando esta transformação dos centros urbanos, a ABCOMM informa que houve um aumento de 68% nos pedidos no e-commerce brasileiro em 2020 e que ainda deve crescer mais 18% em 2021. Esta informação nos traz um alerta, as compras estão migrando para o e-commerce, as lojas de rua e até mesmo os shoppings sofreram e ainda sofrerão este impacto. Mais uma motivação para os donos de prédios se unirem às associações comerciais e buscarem interagir com poder público para que a ressignificação de seus prédios possa ser potencializada, com soluções energéticas inteligentes e com a automação se integrando aos centros de operações municipais e estaduais. Ainda somando a esta ação, através destas entidades é possível identificar fundos interessados em investir em retrofit e geração de energia.

Rickard Schafer, um sueco, nascido em uma pequena cidade a 400 km de Estocolmo, que escolheu o Rio de Janeiro como sua cidade do coração, é um engenheiro e empresário focado em soluções sustentáveis e de bioenergia. Rickard, que já foi líder na GE e outras multinacionais no Brasil e Europa, hoje é o diretor responsável técnico por uma das mais conceituadas empresas desenvolvedoras de sistemas de bioenergia na América Latina, a ASM Renova. Rickard afirma que “o potencial de geração de bioenergia no Brasil é incomparável, tanto no RSU (resíduos sólidos urbanos) quanto na agricultura, e que o biogás pode e deve ser considerado em um District Energy, como na Europa. Afirma ainda que “arquitetos e urbanistas deveriam ter mais acesso a informações de como projetar edificações e condomínios realmente inteligentes na gestão energética”. A diminuição da pegada de carbono passa por consumo racional de energia e uso de energias renováveis. Os arquitetos têm grande responsabilidade na previsão do espaço físico para tal, por isso são parceiros fundamentais.

Gostou desse assunto? Tem algum projeto que auxilie na melhoria de sua cidade? Mande um e-mail e vamos conversar.