CINEMA

Além de Fernanda Torres, brasileiro também sonha com Oscar

Andrea Gavazzi é diretor de obra indicada a melhor curta-metragem

Por CADERNO B
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Publicado em 02/03/2025 às 15:49

Alterado em 02/03/2025 às 15:52

Fernanda Torres ganhou o Globo de Ouro, além de outros prêmos Foto: ReutersRS/Mario Anzuoni

Enquanto os brasileiros vivem a expectativa pelo Oscar devido às indicações de "Ainda Estou Aqui" e Fernanda Torres, um italiano nascido no Brasil também sonha em conquistar a estatueta mais cobiçada do cinema mundial, porém na categoria de melhor curta-metragem.

Andrea Gavazzi é diretor de fotografia de "A Lien", dos irmãos Sam e David Cutler-Kreutz e que, segundo ele, tem "uma boa chance de ganhar" o prêmio neste domingo (2).

A obra conta a história de um casal que enfrenta problemas com a agência de imigração dos Estados Unidos quando o homem, de origem latina e casado com uma americana, solicita o "Green Card".

"A temática do filme é muito atual e tem um impacto emocional forte", disse o ítalo-brasileiro em entrevista à Ansa, acrescentando que a produção "carrega um significado poderoso, explorando a burocracia e a desumanização do processo de imigração".


Andrea Gavazzi mostrou confiança sobre disputa do Oscar Foto: divulgação

Com 14 minutos, "A Lien" aborda um assunto em alta nos Estados Unidos após o retorno do republicano Donald Trump à Casa Branca e suas promessas de deportação em massa. "Esse é um tema muito pessoal para mim. Fui imigrante a vida inteira em vários países e conheço bem a sensação de não saber aonde se pertence", explicou. Com sua fotografia, Gavazzi foi fundamental para comunicar ao espectador, sem explicitar com diálogos, a situação de risco em que se encontram a esposa, o marido e a filha de cinco anos do casal protagonista da obra.

Segundo o ítalo-brasileiro, o filme "fala sobre a estrutura emaranhada e o labirinto sem fim de papelada, regras e burocracia que definem a experiência de imigração", além de ser "um apelo à ação para uma reforma abrangente, urgentemente necessária nos Estados Unidos".

"A imigração continua sendo uma questão extremamente relevante e atual, especialmente considerando as políticas rigorosas e o impacto que elas têm nas pessoas", reforçou.

No seu cerne, "A Lien" é uma história sobre americanos e seu desejo por família, unidade e identidade, mas também sobre o desejo de simplesmente se sentir em casa.

Com o sonho de trabalhar no cinema, Gavazzi começou sua carreira estudando economia na Itália, mas logo percebeu que precisava seguir sua paixão. Nascido em São Paulo, ele atuou em sets no Brasil e depois se mudou para Nova York, onde precisou fazer um pouco de tudo - de eletricista a assistente de produção.

A parceria com Sam Cutler-Kreutz, um dos dois diretores, começou quando ele participou de algumas gravações de videoclipes e evoluiu até chegar a "A Lien" e à indicação ao Oscar. De acordo com Gavazzi, o filme foi feito de forma totalmente independente, com um orçamento muito baixo e equipamentos emprestados.

"Receber a indicação ao Oscar é surreal e emocionante, especialmente sabendo que poucos brasileiros tiveram essa oportunidade. Ainda não acredito e vivo todos os dias como uma criança na manhã de Natal", ressaltou o diretor de fotografia, destacando que disputar o prêmio "é quase um milagre". 

Cerimônia em Los Angeles, nos EUA, começará a partir das 21h

Em meio ao Carnaval e com clima de Copa do Mundo, "Ainda Estou Aqui", longa-metragem de Walter Salles sobre a advogada e ativista Eunice Paiva, vai concorrer neste domingo (2) no Teatro Dolby, em Los Angeles, a três estatuetas no Oscar, principal premiação do cinema mundial.

Na cerimônia, que está marcada para começar a partir das 21h (de Brasília), o longa brasileiro disputará as categorias de melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz, com Fernanda Torres representando a produção.

Para conquistar a estatueta de melhor filme internacional, "Ainda Estou Aqui" precisará desbancar o francês "Emilia Pérez", marcado pelas polêmicas envolvendo a protagonista Karla Sofía Gascón, bem como o dinamarquês "A Garota da Agulha", o alemão "A Semente do Fruto Sagrado" e o letão "Flow".

Já na disputa da categoria de melhor atriz, Torres poderá conquistar a estatueta 26 anos depois da indicação de sua mãe, Fernanda Montenegro ("Central do Brasil"), que foi superada por Gwyneth Paltrow ("Shakespeare Apaixonado"). A artista enfrentará Demi Moore ("A Substância"), Gascón ("Emilia Perez"), Cinthia Erivo ("Weekend") e Mickey Madison ("Anora").

Por fim, a produção terá pela frente nove adversários para ficar com a estatueta mais cobiçada do cinema mundial, que é a de melhor filme: "Anora", de Sean Baker; "O Brutalista", de Brady Corbet; "Um Completo Desconhecido", de James Mangold; "Conclave", de Edward Berger; "Duna: Parte 2", de Denis Villeneuve; "Emilia Pérez", de Jacques Audiard; "Nickel Boys", de RaMell Ross; "A Substância", de Coralie Fargeat; e "Wicked", de Jon M. Chu.

"Ainda Estou Aqui" estreou no Festival de Veneza de 2024, onde ganhou o prêmio de melhor roteiro, e conta a história de Eunice Paiva (Torres), mãe de cinco filhos cuja vida foi virada do avesso após o sequestro, prisão e desaparecimento de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), pelo regime militar.

A obra é inspirada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e Rubens, e já levou mais de 5 milhões de espectadores aos cinemas no Brasil. (com Ansa)

 

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