CINEMA

Retrato do etarismo no Brasil com toques de realismo mágico arrebata a competição pelo Urso de Ouro em Berlim

Por RODRIGO FONSECA, Enviado Especial

Publicado em 18/02/2025 às 10:58

Denise Weinberg, de 'O último azul' Foto: divulgação

Lá se vão cerca de 24 anos desde que Denise Weinberg levou aos palcos “As Lágrimas Amargas de Petra von Kant”, pérola dramatúrgica do alemão Rainer Werner Fassbinder (1945-1982) que a Berlinale descobriu em forma de filme, em 1972. A conexão da atriz brasileira com um dos pilares culturais da Alemanha moderna não precisou ser evocada para que ela ganhasse toda a simpatia do Festival de Berlim, cujas telas se inflamaram no domingo com o desempenho dela em “O Último Azul”. A distopia dirigida pelo pernambucano Gabriel Mascaro se passa em águas amazônicas, por onde um debate sobre etarismo é arrastado pelas correntezas de um mundo no qual abatedouros processam carne de jacaré. A produção concorre ao Urso de Ouro e tem favoritismo indisfarçável em muitas frentes pela originalidade de seu roteiro, com destaque extra para a interpretação de Denise.

“Quando as pessoas mantêm o desejo de fazer coisas, elas retardam o envelhecimento. E outra: etarismo não precisa ser paralisia”, disse Denise ao JB, na Berlinale.

Sua personagem, Tereza, tem 77 anos, a idade em que nosso povo é obrigado a se isolar em abrigos na fantasia criada por Mascaro, em forma de river movie, numa aventura fluvial. O desejo de sua personagem pela liberdade a leva a fugir das “carrocinhas” que caçam idosos, chamadas de “cata-velho”, e se embrenhar por afluentes de um rio atrás de um pouso seguro das investidas da Lei. Cruza com um barqueiro de coração partido (papel de Rodrigo Santoro) e com uma imigrante hispânica que vende uma versão digital da Bíblia (papel da cubana Miriam Socarrás).

“Vivi um mundo paralelo na Amazônia”, disse Miriam. Mascaro passa pelo crivo do júri de Berlim (presidido pelo cineasta americano Todd Haynes) tendo um currículo de prestígio a precede-lo. Papou o Prêmio do Júri dos Horizontes de Veneza, há dez anos, com “Boi Neon”, que também levou o troféu de melhor filme no Festival do Rio de 2015. Ele esteve na Berlinale antes, em 2019, com “Divino Amor”, que passou ainda nas telas de Sundance. ”Um corpo é um museu de vivências”, disse Mascaro ao Jornal do Brasil.

A Berlinale termina no dia 23.

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