CINEMA

'Na animação, você pode botar o mundo em perigo sem problemas'

Por RODRIGO FONSECA, Enviado Especial
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Publicado em 16/02/2025 às 17:35

Michel Gondry Foto: Berlinale/divulgação

Pilar do videoclipe nos anos 1990, reinventado como cineasta autoral ganhador de Oscar após o sucesso de “Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças” (2004), o francês Michel Gondry tomou a 75ª Berlinale de assalto com um lúdico experimento animado: “Maya, Donne-moi Un Titre”. É uma carta de amor à sua filha, Maya, feita com colagens e stop-motion, num flerte radical com a invenção. Há dois anos, ele arriscou uma ficção que o levou ao Festival de Cannes, a comédia doida “Le Livre Des Solutions”, com Pierre Niney (o astro do sucesso “O Conde de Monte-Cristo”), que volta a trabalhar com ele em seu mergulho no desenho.

Na capital alemã, Gondry conversou com o JORNAL DO BRASIL sobre o empenho de dialogar com plateias infantis.

Qual é a conexão mais imediata de “Maya, Donne-moi Un Titre” com a tradição de quadrinhos, livros infantojuvenis e séries animadas que te formaram na infância?

MICHEL GONDRY: Eu não curtia super-heróis, mas era ligado nas HQs belgas e em narrativas do Leste da Europa, com algum carinho por certas produções da Disney. “A Viagem de Balão”, dirigido por Albert Lamorisse, foi o primeiro filme que me chamou a atenção, quando menino.

 

Como foi a criação da música e do som de “Maya, Donne-moi Un Titre”?

Fiz esse filme para me comunicar com a minha filha. Eu fui buscar a sonoridade num banco de músicas mesmo e encarei de experiência de associar uma melodia aquilo que parecia não condizer com ela.

 

Depois da experiência em “Le Livre Des Solutions” foi fácil convencer Pierre Niney, hoje o astro mais popular da França, a ceder a voz para a narração de “Maya, Donne-moi Un Titre”?

Mole. Eu contei o que era e ele falou: "Bora filmar". Era um trabalho simples. Foi um projeto simples.

 

Você fala em simplicidade, mas “Maya, Donne-moi Un Titre” parece sofisticado formalmente?

Numa história animada, você pode botar o mundo em perigo que está tudo bem. Não se trata de um filme de Bergman, que aliás, eu adoro.

 

A Berlinale segue até o dia 23, e os resultados da disputa oficial saem na véspera. Neste domingo, foi projetado “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, que assegurou uma ovação para o Brasil, sobretudo por uma luminosa atuação de Denise Weinberg. Ela vive Tereza, funcionário de um centro de abate e de processamento de jacarés na Amazônia que, aos 77 anos, está destinada a ser confinada num abrigo para idosos. Inconformada com o destino, ela vai buscar uma saída pelos rios e tem a ajuda de um barqueiro vivido por Rodrigo Santoro.

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