CINEMA

‘Um broto legal’, de Luiz Alberto Pereira sobre Celly Campello, estreou nos cinemas

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Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 17/06/2022 às 13:01

Alterado em 17/06/2022 às 13:01

Atores Marianna Alexandre e Murilo Armacollo em 'Um broto legal' Foto:Divulgação/Pandora Filmes

O filme narra sua trajetória rumo ao sucesso, transformando-a na década de 1950, ao lado do irmão Tony Campello, em um ícone cultural brasileiro.

Celly ficou famosa com músicas como “Banho de lua”, “Estúpido cupido”, “Túnel do amor”, entre outras. Marianna Alexandre tem um brilhante desempenho interpretando a jovem cantora do interior de São Paulo que, com sua bela voz, conquistou o país.

O diretor conta que foram realizados testes com várias candidatas ao papel, mas no momento em que Marianna tocou ao piano e cantou “Estúpido cupido”, ele a escolheu de imediato.

Celly foi pioneira no nascimento de um estilo de música jovem que predominou na época, com a ajuda inclusive da chegada do rock’n’roll ao Brasil.

O cantor Tony Campello é interpretado por Murilo Armacollo, definido pelo diretor como “outro achado maravilhoso”. O elenco inclui ainda Paulo Goulart Filho, Danillo Franccesco, Martha Meola, Petrônio Gontijo, Felipe Folgosi, Claudio Fontana, Carlos Meceni.

O filme tem depoimentos da própria Celly, que estão depositados no Museu da Imagem e do Som (SP).

O roteiro, um ponto alto de “Um broto legal”, é assinado por Pereira e Dimas de Oliveira Jr., que chegou a conhecer Celly e a assistir aos seus shows, o que, segundo o diretor, ajudou a vencer um grande desafio para fazer o filme: criar o clima da época, tanto no comportamento como nos traços culturais e locações.

A trama de “Um broto legal” é ambientada no final dos anos 1950, quando Célia Campello (1942-2003) é uma jovem de 16 anos em Taubaté, interior de São Paulo. Ela canta na rádio da cidade e tem um público cativo. Seu irmão, aspirante a cantor, acaba se mudando para São Paulo, onde é descoberto por um caça-talentos. Logo depois, é a vez de Celly Campello (nome artístico que adotou) e seu começo de carreira como precursora do rock no Brasil e cantora de músicas que tiveram estrondoso sucesso.

Pereira, formado em cinema pela Escola de Comunicações e Artes da USP, é ator, roteirista, produtor e diretor de, entre outros, “Hans Staden” (2000), “Tapete vermelho” (2005) e “As doze estrelas” (2011). Seus filmes já foram exibidos em diversos festivais como Gramado, Recife, Riverside, Miami (EUA), Biarritz (França), Porto (Portugal) e Festival do Filme Latino (Londres).

Na entrevista ao Jornal do Brasil, o cineasta revelou a principal motivação para ter feito “Um broto legal”; deu detalhes sobre o cuidadoso trabalho de pesquisa, e falou sobre o desafio de reconstituir o clima e comportamentos do final dos anos 1950 e início de 1960.

 

JORNAL DO BRASIL - Qual a principal motivação para ter realizado “Um Broto legal”?

LUIZ ALBERTO PEREIRA - A motivação principal foi poder se aprofundar no comportamento de uma juventude que não mais queria ter os pais como exemplos, mas queria seguir seu próprio caminho, coisa que a música jovem cantada por Celly Campello, sempre com seu irmão Tony, fez explodir com o advento no país do rock’n’roll.
Outra motivação é emotiva e afetiva, ligada à minha memória dos tempos em que eu, muito pequenininho, via o frisson provocado pelas músicas da Celly junto ao pessoal mais velho daquela época, todo mundo dançando e rebolando ao som das musicas dela. Uma loucura!

 


O trabalho de pesquisa é muito bom e espelha perfeitamente o filme. Você teve dificuldades para conseguir realizá-lo?

A pesquisa foi muito cuidadosa e feita durante todo o percurso da preparação do Filme. O Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS) forneceu grandes informações através de seu arquivo musical com entrevistas fantásticas com varios artistas.
Mas as maiores informações vieram do próprio Tony Campello, ainda vivo, e com uma memória fabulosa. Me contou muitas histórias ótimas, me passou as gírias do momento, os climas entre os músicos e gravadoras, me apresentou e me emprestou fotos e objetos de sua coleção. Tony foi mais que fundamental para a pesquisa.
Outras fontes foram jornais e revistas de época principalmente a “Revista do Rádio” que, com a chegada da TV, depois se transformou em Revista do Rádio e TV.
Tive dificuldade na busca de imagens em movimento da Celly. Como não havia o videotape, nada existe, por exemplo, do programa “Crush in hi-fi”, que tivemos que reconstruir a partir de exíguas fotos que conseguimos. Eu pelo menos não consegui achar imagens em movimento dela daquele momento. O Tony parece que teria achado alguém que a filmou com uma câmera 8mm, mas não conseguiu o material. Eis aí um bom caminho de pesquisa a ser feito.

 


O filme é ambientado no final dos anos 1950 e início de 1960. Um ponto alto é que vocês captaram não só a reconstituição, mas também o clima da época e com relação a vários aspectos, não somente à música. Houve também essa intenção?

Não poderia ser de outra forma. O filme teria que ter esta caracteristica marcante de evocar uma época não só nos detalhes, mas nas emoções, climas e comportamentos da galera daquele momento, podendo-se com isso estabelecer certa comparação com os perfis das épocas, inclusive com as gírias, já que Celly foi a coqueluche daquele tempo.