CINEMA

Sundance 2022 começa nessa quinta em formato on-line

Brasil concorre na mostra Cinema Mundial com 'Marte Um'

Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
[email protected]

Publicado em 17/01/2022 às 13:43

Alterado em 19/01/2022 às 18:33

RJ Cyler, Sebastian Chacon e Donald Elise Watkins em 'Emergency' – competição Americana de Dramas, principal mostra do Sundance Foto: Quantrell Colbert / Sundance Institute / divulgação

O Festival de Sundance, maior evento do cinema independente mundial, começa na próxima quinta feira (20), no formato on-line. Previsto inicialmente para acontecer de forma híbrida, os organizadores cancelaram a programação presencial faltando apenas 15 dias para o início, em face da rápida propagação da variante ômicron do coronavírus nos EUA.

É claro que para mudar tão rapidamente um evento com o porte e dimensão do Sundance, a adoção de drásticas providências foi inevitável. Mas sua realização, a abrangência da programação e o período previamente agendado, de 20 a 30 de janeiro, foram mantidos.

A Competição Americana de Dramas - principal mostra do Sundance – abrirá com “Emergência”, de Carey Williams, selecionado com o status de “day one”, ou seja, o primeiro título da mostra a ser exibido, medida que o Sundance adota para todas as outras e que já representa um destaque. “Emergência” segue um grupo de estudantes universitários negros e latinos pesando os prós e os contras de ligar para a polícia quando se deparam com um fato emergencial incomum.

Na Competição Americana de Documentários, o “day one” é “Fire Of Love”, de Sara Dosa, trazendo a história dos cientistas Katia e Maurice Krafft que morreram em uma explosão vulcânica fazendo exatamente o que os uniu: desvendando os mistérios dos vulcões e capturando as mais explosivas imagens já registradas.

Na competitiva Cinema Mundial, mostra destinada a filmes ficcionais estrangeiros, o “day one” é o brasileiro “Marte Um”, de Gabriel Martins, história de uma família negra tentando não desistir dos seus sonhos após eleição de um presidente de direita. E na mostra Documentário Mundial, o destaque é “Tantura”, de Alon Schwarz, ambientado na guerra de 1948, quando centenas de aldeias palestinas foram despovoadas.

Vale registrar que nessa mostra, também está sendo muito aguardado “Nothing Compares”, de Kathryn Ferguson, um olhar contemporâneo da ascensão da cantora Sinéad O’Connor e sua iconoclasta personalidade. A expectativa em torno do filme não se deve apenas à sua qualidade. O’Connor está de luto pela morte precoce de seu filho caçula, Shane, que tinha apenas 17 anos, tragédia que é mais um momento complicado na tumultuada vida e carreira da artista irlandesa de 55 anos. E para piorar, no último dia 9 ela precisou ser internada e, como publicou nas redes sociais, por não conseguir superar a perda.

 

Brasil

Além de competir com “Marte Um”, mais dois títulos ligados ao Brasil integram esta edição: “The Territory” (Brasil / Dinamarca / EUA), do americano Alex Pritz, selecionado para a Documentário Mundial, e que tem por tema uma rede de agricultores brasileiros que se apodera de uma área protegida da floresta amazônica; e “Flat Earth VR”, de Lucas Rizzotto, sobre realidade virtual, que foi selecionado para a mostra New Frontier.

 

Outros Destaques

Mas não é apenas nas competitivas que o Sundance 2022 está apresentando uma programação de peso, o que também acontece com títulos fora de concurso.

Na mostra Première – uma vitrine com estreias mundiais de filmes mais esperados do ano, alguns títulos já se destacam:

“When You Finish Saving the World”, do cultuado ator Jesse Eisenberg, que está estreando na direção de longas. Inspirado em um áudio-livro lançado por Eisenberg, o filme é uma comédia dramática protagonizada por Julianne Moore e Finn Wolfhard, vivendo mãe e filho.

“Call Jane”, da roteirista e diretora anglo-americana Phyllis Nagy, segue o drama de uma mulher com uma gravidez indesejada que se une a um grupo para encontrar ajuda.

“La Guerra Civil” (Reino Unido). O filme de Eva Longoria Bastón aborda a rivalidade entre os boxeadores Oscar de La Hoya e Julio César Chávez na década de 1990, que desencadeou uma divisão cultural entre cidadãos mexicanos e mexicanos-americanos.

“Lucy and Desi” (EUA). Dirigido por Amy Poehler, o filme explora a ascensão da comediante Lucille Ball, seu relacionamento com Desi Arnaz, e como sua comédia inovadora “I Love Lucy” deixou um legado, mesmo anos depois de sua morte em 1989.

“Jeen-Yuhs: a Kanye Trilogy”. Dirigido por Coodie e Chike Ozah, o documentário traz um retrato íntimo do cantor Kanye West, no período em que ele constrói seu caminho de artista e empresário e se torna uma marca global.

Na mostra Spolight, que tem por slogan “O cinema que amamos”, os destaques são:

“Neptune Frost” – codirigido pelo poeta, músico e ator Saul Williams e pela dramaturga Anisia Uzeyman, é um musical afrofuturista ambientado no Borundi, país independente da África oriental. O filme teve uma bem-sucedida estreia na Quinzena de Realizadores, em Cannes, a distribuidora Kino Lorber já adquiriu os direitos mundiais e planeja lançá-lo nos cinemas dos EUA ainda este ano.

E “Happening”, segundo longa-metragem da diretora francesa Audrey Diwan, ambientado na França dos anos 1960, sobre uma estudante universitária que enfrenta as barreiras sociais e legais para fazer um aborto. Ganhou o Leão de Ouro e o Prêmio da Crítica Internacional (Fipresci) em Veneza 2021.

Outras mostras também trarão muitas atrações, entre elas a Midnight, na qual um dos mais esperados é “Speak no Evil”, um thriller de terror psicológico do diretor dinamarquês Christian Tafdrup. A história gira em torno de duas famílias que se conhecem durante as férias na Toscana. Quando a família holandesa convida a dinamarquesa para um fim de semana em sua casa de campo, a trama toma um rumo altamente sinistro.

Fazendo jus ao nome, a arrepiante Midnight costuma fazer retrospectivas de cultuados diretores com o perfil da mostra, tendo realizado uma das mais celebradas em 2001, com o brasileiro José Mojica Marins, quando foram exibidos alguns dos seus principais filmes, além de um caloroso debate em torno de “À Meia-noite Levarei sua Alma” , e uma sessão com o documentário “Maldito”, de André Barcinski.

Impossível não lembrar que, durante a exibição, um inusitado acontecimento entrou para a história das sessões do diretor: as janelas do cavernoso Egyptian, o mais antigo e emblemático cinema da cidade, balançavam como nunca, o que levou alguns assustados espectadores a comentarem que o fenômeno poderia ter algo de sobrenatural devido aos aterrorizantes filmes de Marins. Pura e precipitada interpretação: aterrorizante na verdade era uma terrível ventania que nessa noite assolava a gelada Park City com 10 graus abaixo de zero, e quase derrubava as janelas.

Tags: