CINEMA

Crítica - ‘O Último Duelo’: honra e traição medieval com comentário atual

Cotação: quatro estrelas

Por TOM LEÃO
nacovadoleao.blogspot.com.br

Publicado em 15/10/2021 às 12:13

Alterado em 15/10/2021 às 12:13

Jodie Comer faz a dama que diz ter sido estuprada, e provoca o duelo pela honra do nome de sua família, em 'O Último Duelo', de Ridley Scott Foto: divulgação

Um dos filmes mais aclamados de Akira Kurosawa, ‘Rashomon’ (1950), conta uma mesma história (a morte de um samurai e o estupro de sua mulher) sob pontos de vista diferentes: do morto, da mulher e do assassino. Foi a primeira vez que se fez isso no cinema. O novo filme de Ridley Scott, ‘O Último Duelo’ (‘The Last Duel’), utiliza o mesmo recurso (que ficou conhecido como ‘efeito rashomon’) para narrar uma trama que envolve estupro, honra e traição do ponto de vista da vítima, do marido desta e do estuprador.

Só que o que o japonês levava hora e meia para contar, o inglês leva cerca de duas horas meia. Mas Scott sabe construir a trama com calma, detalhes e se valendo dos talentos de Matt Damon (o marido), Adam Driver (o suposto estuprador) e Jodie Comer (a esposa violada). E, também, de um roteiro muito bem escrito. No fundo é uma trama de amizade traída, desejos reprimidos e, sobretudo, honra masculina.

O livro no qual o filme se baseou para seu roteiro se chama ‘The Last Duel: a True Story of Crime, Scandal and Trial by Combat in Medieval France’, de Eric Jager, que ganhou tratamento da dupla Matt Damon e Ben Affleck, que não trabalhavam juntos desde o seu primeiro sucesso, que lhes deu Oscar, ‘Gênio Indomável’ (1997). A dupla chamou Nicole Holofcener, para dar a perspectiva feminina ao roteiro. Assim, todos os lados da questão estão bem balanceados.

A história se passa na França Medieval, mas toca em temas até hoje pertinentes. Marguerite de Carrouges (Comer) é a jovem esposa de Jean de Carrouges (Damon), bravo cavaleiro da corte do conde Pierre d´Alençon (Affleck, louro). O fiel escudeiro deste, Jacques LeGris (o onipresente Adam Driver), é muito caro a Jean, que lhe salvou a vida em batalha. Contudo, LeGris se encanta por Marguerite, moça culta (sabia ler, o que era raro na época para mulheres) e ‘parece’ ser correspondido. Tendo essa interpretação, LeGris investe na casa dos de Carrouges, quando Jean sai para mais uma batalha. Contudo, apesar de atraída pelo charme de Jacques, Marguerite resiste a sua investida. Então, cria-se uma situação de estupro.

A partir daí se desenrola o fio principal da trama, que levará para um duelo pela honra de Marguerite e do nome da família de Carrouges. Caso Jean vença o duelo, a moça será inocentada. Mas ninguém quer saber se ela foi realmente violada ou se consentiu. A palavra do nobre escudeiro vale mais do que a da mulher. E para o marido, quem vai decidir é a ‘justiça divina’, não a palavra dela. O clímax do filme, com o aguardado duelo (último, porque estava em desuso na época), vale o ingresso. Scott já mostrou, em ‘Cruzada’ (Kingdom of Heaven, 2006), que sabe filmar cenas de batalhas. Elas são poucas, mas muito boas.

‘O Último duelo’, é um dos dois filmes de Ridley Scott (que, aos 83 anos, continua ativo como nunca) que veremos no cinema este ano. O outro será ‘House of Gucci’ (também com Driver), em dezembro.

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COTAÇÕES: ***** excelente / **** muito bom / *** bom / ** regular / * ruim / bola preta: péssimo.

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