CINEMA

Emoção dá o tom da cerimônia de premiação do Festival de Gramado

"Carro Rei" é o melhor filme e leva 4 Kikitos; Glória Pires leva o prêmio de melhor atriz

Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 22/08/2021 às 09:25

Alterado em 22/08/2021 às 09:25

[Academia Brasileira de Cultura] Glória Pires assumirá a cadeira que tem como patrono seu saudoso pai, o ator e humorista Antonio Carlos Pires Foto: Desirée do Valle/divulgação

O Festival de Gramado anunciou os vencedores de sua 49ª edição na noite desse sábado (21). A premiação foi transmitida diretamente da cidade gaúcha e teve apresentação das jornalistas e apresentadoras oficiais do evento, Marla Martins e Renata Boldrini. A banda local Jazz Cinnamon embalou a trilha musical com temas de filmes nacionais.

Foi grande a emoção no momento “in memorian”, com o texto na voz de Lázaro Ramos, lembrando os nomes de Tarcísio Meira, Paulo José, Paulo Gustavo, Nicete Bruno, Eduardo Galvão e Artur Xexéo. Ao final, uma homenagem a todos os realizadores do audiovisual brasileiro foi em forma de clipe com imagens de bastidores e grandes cenas do cinema. “É preciso seguir em frente, esse tempo de trevas vai passar”, disse a voz do ator.

Macaque in the trees
Jules Elting em 'Carro Rei' (Foto: Foto: Edison Vara Pressphoto)

“Carro Rei” (PE), de Renata Pinheiro, foi o grande vencedor, conquistando melhor filme, melhor trilha musical, melhor direção de arte e melhor desenho de som. Um merecido Kikito para um filme inovador, imprevisível e inusitado que, além desses, tem um ponto alto na extraordinária interpretação de Matheus Nachtergaele. Navegando por vários gêneros (ficção científica, horror, fábula com viés político-ecológico), “Carro Rei” segue Zé Macaco (Nachtergaele), um mecânico que fica cúmplice de Uno (Luciano Pedro Jr.), seu sobrinho, que costuma conversar com o carro onde nasceu.

Após agradecer a todos que trabalharam no filme, a diretora agradeceu “por ter essa voz agora. Estamos passando por um momento difícil de destruição total do nosso setor que emprega tanta gente, que dá chance para tantos talentos brasileiros entenderem o que é comunicar, o que é criar uma expressão artística e o que é ser brasileiro”. No debate durante a semana, ela já havia dito que o filme é “sobre o quanto estamos nos transformando nesse ser humano tecnológico e quando podemos nos desumanizar neste processo”.

“Jesus Kid”, adaptação do livro de Lourenço Mutarelli, deu a Aly Muritiba o prêmio de melhor direção e melhor roteiro. O filme deu ainda a Leandro Daniel Colombo o Kikito de melhor ator coadjuvante. A melhor atriz coadjuvante foi Bianca Byington por “Homem Onça”.

Macaque in the trees
Martín Slipak em La teoría de los vidrios rotos (Foto: Foto: Edison Vara Pressphoto)

O prêmio de melhor ator foi para Nando Cunha, vivendo Mauro em “O Novelo”, de Claudia Pinheiro. “Foi como foi ter recebido um Oscar brasileiro, principalmente tendo como concorrentes Paulo Miklos e Matheus Nachtergaele”, disse o ator bastante comovido.

O Júri contemplou Nachtergaele com um Prêmio Especial por sua atuação em “Carro Rei”, “pela construção e domínio do personagem e pela brilhante capacidade de se reinventar”.

Glória Pires conquistou merecidamente o prêmio de melhor atriz em “A Suspeita” (RJ), de Pedro Peregrino, vivendo Lucia, uma comissária exemplar da Polícia Civil do Rio de Janeiro, que tem sua vida transformada quando sofre uma investigação e, ao mesmo tempo, descobre que está com Alzheimer.

Em entrevista exclusiva ao JORNAL DO BRASIL, Glória havia explicado a motivação para atuar e também produzir o filme: “Fiquei interessada por ser um estilo de filme pouco feito no Brasil (drama psicológico), a questão feminina (uma profissional num ambiente predominantemente masculino, e sua toxidade), e pela possibilidade de produzir, o que eu já buscava há muito tempo”.

Glória, que não pôde participar da cerimônia virtual por estar no casamento da filha Cléo, enviou um depoimento que foi lido pela produtora Daniela Busoli. Após agradecer aos realizadores do filme, a atriz diz em seu texto: “A vida é feita de encontros e fazer cinema é reproduzir a vida contando histórias que nos fazem questionar e buscar saídas mesmo quando não parece haver uma”.

O melhor longa-metragem estrangeiro foi o uruguaio “La Teoría de Los Vidrios Rotos”, que segue o protagonista Claudio Tapia (Martín Slipak), perito de uma seguradora. Ele é enviado até uma cidade do interior uruguaio para desvendar uma misteriosa série de incêndios de carros. Além do Kikito de melhor filme, ganhou também o voto do júri popular.

“Planta Permanente”, de Ezequiel Radusky, recebeu os outros dois Kikitos da mostra: prêmio da crítica e prêmio especial do júri oficial.

O troféu de melhor filme entre os longas gaúchos foi o documentário “Cavalo de Santo”, de Mirian Fichtner e Carlos Caramez, que traz um retrato do universo religioso afro-brasileiro do Rio Grande do Sul. Na categoria, o prêmio de melhor diretor foi para Gilson Vargas, por “A Colmeia”.

“A Fome de Lázaro”, produção paraibana de Diego Benevides, foi o melhor curta-metragem brasileiro. O filme é sobre a oferenda de banquetes a cães, em promessa a São Lázaro, em uma pequena comunidade do interior da Paraíba.


RUMO A 2022

A emoção fez parte e Gramado disse a que veio. Colocou no ar uma abrangente programação de ótimos filmes, (tanto longas quanto curtas-metragens) com foco em temas sociais, políticos, na situação da área cultural, na necessidade de resistir e seguir em frente e na questão da diversidade, abordada em seus diversos pilares: racial, de gênero, etária, LGBTQIA+, social, religiosa, refugiados, imigrantes etc., de forma explícita ou velada, mas sem deixar margem a dúvidas.

Contornando as adversas circunstâncias conhecidas, foi um grande festival, e Gramado ruma confiante para sua comemorativa 50ª edição em 2022.

PRINCIPAIS PRÊMIOS DO 49º FESTIVAL DE GRAMADO


LONGAS-METRAGENS BRASILEIROS

Melhor Filme – “Carro Rei”, de Renata Pinheiro
Melhor Direção – Aly Muritiba, por Jesus Kid
Melhor Ator – Nando Cunha, em “O Novelo”
Melhor Atriz – Glória Pires, em “A Suspeita”
Melhor Roteiro – Aly Muritiba, por “Jesus Kid”
Melhor Fotografia – Bruno Polidoro, por “A Primeira Morte de Joana”
Melhor Montagem – Tula Anagnostopoulos, por “A Primeira Morte de Joana”
Melhor Trilha Musical – DJ Dolores, por “Carro Rei”
Melhor Direção de Arte – Karen Araújo, por “Carro Rei”
Melhor Atriz Coadjuvante – Bianca Byington, por “Homem Onça”
Melhor Ator Coadjuvante – Leandro Daniel Colombo, por “Jesus Kid”
Melhor Desenho de Som – Guile Martins, por “Carro Rei”
Melhor Filme pelo Júri Popular – “O Novelo”, de Claudia Pinheiro
Melhor Filme pelo Júri da Crítica – “A Primeira Morte de Joana”, de Cristiane Oliveira
Prêmio Especial do Júri para Matheus Nachtergaele, em “Carro Rei”

LONGAS-METRAGENS ESTRANGEIROS

Melhor filme “La Teoría De Los Vidrios Rotos”, de Diego Fernández Pujol
Melhor Filme Júri Popular – “La Teoría De Los Vidrios Rotos”
Melhor Filme pelo Júri da Crítica – “Planta Permanente”, de Ezequiel Radusky
Prêmio Especial do Júri – “Planta Permanente”, de Ezequiel Radusky

LONGAS-METRAGEM GAÚCHO
Melhor Filme – “Cavalo de Santo”, de Carlos Eduardo Caramez e Mirian Fichtner
Melhor Diretor – Gilson Vargas por “A Colméia”

CURTAS-METRAGENS
Melhor filme – “A Fome de Lázaro”, de Diego Benevides

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