CINEMA

‘Titane’ leva a Palma de Ouro em Cannes

‘Murina’, coproduzido pela RT Features, conquistou a Câmera d’Or, e o curta-metragem ‘Céu de Agosto’, de Jasmin Tenucci, ganhou Menção Honrosa do júri.

Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 17/07/2021 às 19:31

Alterado em 17/07/2021 às 19:31

Atriz Agathe Rousselle em Titane, vencedor da Palma de Ouro Foto: Carole Bethuel

O Festival de Cannes anunciou os vencedores de sua 74ª edição neste sábado (17) em uma cerimônia solene de premiação. Após Spike Lee, presidente do júri da mostra oficial, furar a largada e revelar o vencedor da Palma de Ouro no início da noite, a ordem dos anúncios seguiu o programado.

“Titane”, da francesa Julia Ducournau, ganhou a Palma de Ouro, principal prêmio do festival. O filme, protagonizado por Vincent Lindon, conta o retorno de um menino desaparecido há 10 anos e o reencontro com seu pai. Esta é apenas a segunda vez que uma mulher vence a premiação. “Estou muito feliz e com muito orgulho de mim mesma”, declarou a diretora, bastante emocionada.

Macaque in the trees
Julia Ducournau, diretora de "Titane", vencedor da Palma de Ouro (Foto: Philippe Quaisse)

O melhor diretor foi Leos Carax, por “Annette”. O filme, que abriu o festival, é um musical estrelado por Adam Driver e Marion Cotillard, e traz a história de um casal de celebridades cujas carreiras entram em conflito com o relacionamento entre eles.

O Grand Prix, segundo prêmio mais importante de Cannes, foi dividido entre “Compartment No. 6”, do finlandês Juho Kuosmanen, e “A Hero”, do iraniano Asghar Farhadi. “Apresentar meu filme aqui e descobri-lo junto com o público de Cannes foi incrível”, declarou Farhadi.

O Prêmio do Júri foi dividido entre “Ahed’s Knee”, do israelista Nadav Lapid, e “Memoria”, do tailandês Apichatpong Weerasethakul. “Emoções e pensamentos podem ser expressos de milhares de formas, mas é a câmera e seus movimentos que torna isso possível”, destacou Lapid.

Weerasethakul, por sua vez, disse que o reconhecimento para ele é um presente. “Eu acredito que ajuda a mostrar o filme para mais pessoas, e fico muito feliz com isso”, complementou o cineasta.

O prêmio de melhor roteiro foi para Ryûsuke Hamaguchi, por “Drive my Car”. A melhor atriz, a norueguesa Renate Reinsve, por sua excelente interpretação em “The Worst Person in the World”, de Joachim Trier (Noruega), e o melhor ator, o norte-americano Caleb Landry Jones, por “Nitran”, de Justin Kurzel (Austrália).

“Murina”, da croata Antoneta Alamat Kusijanovic, coproduzido pela RT Features, do brasileiro Rodrigo Teixeira, ganhou a Câmera d’Or, de melhor primeiro filme.

“Céu de Agosto”, de Jasmin Tenucci, ex-aluna da UPS, concorrente a melhor curta-metragem, ganhou uma menção honrosa do júri. “É uma explosão de alegria e surpresa. Estou muito grata por estar aqui”, disse a diretora.

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Leon Lucev e Gracia Filipovic – em "Murina", co-produzido pela RT Features (Foto: La Quinzaine des Réalisateurs)

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Jasmin Tenucci, diretora de "Céu de Agosto", menção honrosa na mostra de Curtas-Metragens (Foto: divulgação)

Lista dos premiados

Palma de Ouro: “Titane”, de Julia Ducournaul
Grand Prix: dividido entre “A Hero” e “Compartment No. 6”
Melhor diretor: Leos Carax, “Anette”
Melhor ator: Caleb Landry Jones, “Nitran”
Melhor atriz: Renate Reinsve, “The Worst Person in the World”
Prêmio do Júri: “Ahed’s Knee”, de Nadav Lapid e “Memoria”, de Apichatpong Weerasethakul
Melhor roteiro: Ryûsuke Hamaguchi, por “Drive my Car”
Queer Palm: “The Divide”, de Catherine Corsini
Camera d’Or (melhor Primeiro filme): “Murina”, de Antoneta Alamat Kusijanovi´c
Menção Especial em melhor curta-metragem – “Céu de Agosto”, de Jasmin Tenucci

E Cannes / 2021 foi ao ar presencialmente
Depois do cancelamento em 2020 devido à pandemia, e dois meses após sua data habitual, o Festival de Cannes aconteceu numa edição presencial que certamente entrará para a história do evento. A retomada da presença física de grandes figuras do cinema internacional foi promessa do diretor geral do festival, Thierry Frémaux: “é o reencontro do cinema mundial e é emocionante. Apesar de a pandemia não estar vencida, a organização e a essência desta edição serão as mesmas de uma edição normal”, discursou na abertura do festival.

Claro que houve sempre uma preocupação no ar. Mas para garantir uma quase normalidade, foram dispensadas as sessões virtuais como estavam fazendo outras mostras pelo mundo. E o tapete vermelho, sempre lotadíssimo, alegre e vibrante, recebeu o glamour de sua habitual legião de estrelas.

Brasileiros
Embora não tenha estado na mostra dos títulos concorrentes à Palma de Ouro, o Brasil teve uma significativa presença nesta edição, a começar pela participação do pernambucano Kleber Mendonça Filho no júri da mostra oficial, a mais importante do festival, e da memorável sessão de “O Marinheiro das Montanhas”, do cearense Karim Aïnouz, que foi ovacionado em sua première mundial.

“Medusa”, de Anita Rocha da Silveira, integrou a Quinzena dos Realizadores, tradicional paralela de Cannes. A RT Features, do brasileiro Rodrigo Teixeira, é uma das produtoras de “Bergman Island”, dirigido pela francesa Mia Hansen-Love, e também de “Murina, da croata Antoneta Alamat Kusijanovic, que ganhou a Câmera D’Or de Melhor Primeiro filme.

“Cantareira”, do estudante paulista Rodrigo Ribeyro, foi o terceiro colocado na mostra competitiva Cinéfoundation, selecionado em um universo de 1853 inscritos. O filme foi realizado no curso da Academia Internacional de Cinema (AIC).

As cores brasileiras marcaram presença ainda em dois concorrentes à Palma, na mostra de curtas-metragens: “Sideral”, de Carlos Segundo, filmado em Natal, com incentivos nacionais por meio da Lei Aldir Blanc; e “Céu de Agosto”, de Jasmin Tenucci, realizado com recursos americanos, que ganhou Menção Honrosa do Júri.