CADERNOB

Jornalismo perde Deborah Dumar, ex-editora do Caderno B do JORNAL DO BRASIL, aos 68 anos

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Por GILBERTO MENEZES CÔRTES
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Publicado em 02/07/2025 às 16:44

Alterado em 02/07/2025 às 18:31

Deborah escrevia com emoção Foto: reprodução do Instagram

O jornalismo perdeu uma das maiores referências da cultura brasileira com a partida precoce de Deborah Dumar, aos 68 anos (faria 69 em 9 de outubro, mesmo dia do nascimento do ídolo John Lennon), vítima de uma infecção pulmonar grave.

Deborah exerceu com grande competência e criatividade, a meu convite, o cargo de editora do Caderno B, na volta do JB às bancas entre 2018 e 2019. O novo JB coroou a brilhante carreira iniciada no velho JORNAL DO BRASIL, nos anos 70, com passagens nas editorias de Cultura da “Tribuna da Imprensa” e de “O Globo”.

Filha da produtora de teatro e shows Norma Dumar, Deborah tinha intimidade com os camarins e a vida de artistas e celebridades. Quando se formou em jornalismo e foi trabalhar no JORNAL DO BRASIL, na Avenida Brasil, 500, em 1974, o Caderno B foi o caminho natural. Entusiasta do Carnaval, sua intimidade com as coxias do teatro e os artistas, e a “energia incrível” para encarar desafios, como recorda Beatriz Bonfim, chamaram a atenção de colegas mais veteranas do B, então comandado por Humberto Vasconcelos, como Norma Couri (a quem chamava de “mãe”) e Joëlle Roucheau, que recorda com saudade inúmeros carnavais que cobriram juntas.

No velho JB, os companheiros relembram como Deborah batalhava para cumprir as pautas de entrevistas que levavam artistas e intelectuais a dar prioridade ao JB. Um dos atrativos do caderno eram as matérias de Deborah. Na explicação do jornalista Lutero Soares, o “segredo” estava em Deborah, dona de “um dos melhores textos do jornalismo, porque escrevia com emoção”.

Joëlle Roucheau se lembra, com emoção, da parceria com Deborah na cobertura do histórico show de Frank Sinatra, que levou 175 mil pessoas ao Maracanã em 26 de janeiro de 1980. O entusiasmo das duas levou o JB a “parar as máquinas” para a dupla escrever a matéria "na oficina” e dar a capa do B já na manhã do dia 27, devidamente assinada e com crítica de João Máximo. O máximo mesmo.

Solteira e sem filhos, Deborah teve vários namorados importantes, como Lutero e Zózimo Barroso do Amaral, o que cita Joaquim Ferreira dos Santos na biografia do colunista, “Enquanto houver champanhe, há esperança”.

Foi com emoção que Deborah republicou recentemente no “Facebook” um print da página com sua matéria de 1987, já em “O Globo”, sobre o primeiro show de Cazuza no Teatro Ipanema, cuja iluminação, por insistência de Deborah, foi confiada ao cantor e iluminador Ney Matogrosso. A parceria se estendeu a um novo espetáculo, agora dirigido por Ney, nascendo ali uma grande amizade.

A credibilidade de Deborah Dumar junto aos artistas e homens de letras era tanta que coube a ela, em inesquecível entrevista com Chico Buarque, vencer a resistência dos artistas e intelectuais de esquerda às Organizações Globo. Como editora de Cultura da “Tribuna da Imprensa”, Deborah mostrou toda sua garra para produzir matérias importantes fora da chamada "grande imprensa".

Nos últimos anos, ela atuou como “free-lancer”, fazendo assessoria de imprensa para o Sebrae. O que gostava mesmo era da assessoria em eventos culturais, e Deborah tinha especial carinho pelo projeto “Mimo”, originalmente “Mostra Internacional de Música em Olinda” (PE), depois realizado em várias cidades históricas do país. Suspenso por sete anos, voltou em 2023 a Olinda, onde Deborah Dumar tirou essa foto abaixo, que usava também em seu perfil no Instagram.

O velório será nesta quinta (3), no Memorial do Carmo, no Caju, e terá início às 10h30, com a cremação marcada para as 13h30.


Deborah Dumar tinha trânsito livre entre a classe artística Foto: reprodução do Instagram

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