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Conheça Onildo Almeida, o homem que levou a Feira de Caruaru ao mundo
Por CADERNO B
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Publicado em 30/06/2025 às 15:55
Alterado em 30/06/2025 às 15:55

Por Cibelle Tenório - Todos os domingos, Onildo Almeida tem um compromisso inadiável. Trajado elegantemente com camisa de alfaiataria e calça impecável, ele deixa sua casa antes das 7h da manhã acompanhado da esposa, Lenita, para ir à Feira de Caruaru.
É comum que seu momento de compras seja interrompido por um pedido de foto, um abraço ou um convite para um papo. Algum desavisado que passa por ali pode não saber, mas Onildo, aos 96 anos, é o maior vendedor da Feira de Caruaru.
Embora nunca tenha tido comércio no local, foi ele quem compôs os versos que exaltam a diversidade de produtos da feira em que "de tudo que há no mundo" tem para vender. Sua canção Feira de Caruaru ficou imortalizada na voz de Luiz Gonzaga e se tornou a primeira de muitas obras de Onildo a serem gravadas pelo Rei do Baião.
Na década de 1950, Onildo Almeida era um jovem apresentador de programas de auditório na Rádio Difusora de Caruaru, mas também se aventurava na música. Lançou seu primeiro disco, um álbum que continha uma única canção, uma homenagem à Feira de Caruaru, à cidade e à cultura nordestina. A música fez sucesso na região, mas não ultrapassou as barreiras estaduais.
Filho de um comerciante bem-sucedido na cidade, ele e seus seis irmãos cresceram em uma família musical. As irmãs se dedicavam ao piano e os homens, ao violão, ao violino e ao bandolim. Aos 13 anos, Onildo já compunha suas primeiras canções e adolescente já se apresentava com o quarteto vocal Vocalistas Tropicais.
Em uma de suas idas à Caruaru em meados de 1950, Luiz Gonzaga, que já era um ídolo na época, se apresentou na Difusora, a rádio onde Onildo trabalhava, e ouviu Feira de Caruaru pela primeira vez.
"Ele pegou o disco e perguntou quem era o cantor. Meu irmão, que trabalhava na rádio como operador, me apresentou", relembra o compositor. "Ele me disse: 'Como é que você tem um negócio desse que não me mostra?' Eu respondi: 'Tá na sua mão!'".
Nascia assim a parceria.
Em 21 de março de 1957, Gonzagão gravou pela primeira vez a canção que se tornou um grande sucesso. O LP de 78 rotações teve 100 mil cópias vendidas em dois meses. A marca fez com que o Rei do Baião conquistasse o primeiro disco de ouro da carreira.
"Pelo simples fato de Gonzaga gravar, já era uma um acontecimento, né? Um acontecimento raro. Ele pegar e gravar uma música do jeito que eu fiz e não alterou nada", recordou Onildo sobre a sensação de ouvir sua canção cantada na voz de Seu Luiz.
Parcerias
Feira de Caruaru foi regravada por outros artistas e em diversos idiomas, inclusive em outros países. O encontro do compositor carurarense com o filho de Exu, no Sertão de Pernambuco, rendeu uma amizade e uma parceria frutífera. Gonzaga gravaria ainda Aproveita Gente, Onde o Nordeste Garoa, Zé Dantas, Só Xote, Sanfoneiro Zé Tatu e muitas outras canções de Onildo. Outros gigantes da música nordestina como Marinês, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino e Jorge de Altinho também recorreram ao "poeta do agreste" para compor seu repertório.
Onildo também fez a cabeça dos tropicalistas. Em You Don't Know Me, canção de Transa, álbum emblemático de Caetano Veloso de 1972, gravado quando o artista estava exilado em Londres, Caetano faz uma colagem de citações, entre elas um trecho de A Hora do Adeus, parceria de Onildo Almeida e Luiz Queiroga, gravada por Luiz Gonzaga no álbum Olha Eu Aqui de Novo de 1967: "Eu agradeço ao povo brasileiro / Norte, Centro, Sul inteiro / Onde reinou o baião".
No mesmo ano, Gilberto Gil gravou o arrasta-pé Sai do Sereno, composição de Onildo, no álbum Expresso 2222 - o primeiro que o músico baiano lançou após o retorno ao Brasil com o fim de seu exílio em Londres.