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Orquestra Ouro Preto estreia 'Feliz Ano Velho, a Ópera' em Copacabana
Por CADERNO B
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Publicado em 27/06/2025 às 08:30
Alterado em 27/06/2025 às 12:09

Por Cristina Índio do Brasil - A história contada no livro Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva, poderá ser acompanhada em formato de ópera, com a apresentação da Orquestra de Ouro Preto (OOP), neste sábado (28), no Posto 2 da Praia de Copacabana, às 19h. A montagem tem música e libreto de Tim Rescala, concepção e direção musical do maestro Rodrigo Toffolo e direção cênica de Julliano Mendes. A orla carioca receberá a primeira apresentação de Feliz Ano Velho, a Ópera e a entrada é gratuita.
A adaptação dá sequência ao esforço da Orquestra de Ouro Preto de unir música de concerto e literatura, como fez, após o término da pandemia de covid-19, com as óperas Auto da Compadecida e Hilda Furacão. Na visão do maestro Rodrigo Toffolo, será uma apresentação emocionante, que vai transmitir uma mensagem de superação e desenvolvimento pessoal, além de homenagear a obra de Marcelo Rubens Paiva, "Feliz Ano Velho é uma história linda e com um protagonista de Ópera vivo, o que é muito raro. Acho que o Marcelo é o único protagonista de ópera vivo", disse em entrevista à Agência Brasil.
O regente, que é da família fundadora da OOP, contou que a preparação do espetáculo levou mais de dois anos, desde que pensou em fazer a ópera baseada no livro de Marcelo Rubens Paiva, com quem passou a trocar ideias sobre como seria a montagem.
"Foi um trabalho a três partes, porque tem também o Tim Rescala, que é o compositor da ópera. Nós montamos juntos uma sequência que a gente tiraria do livro. O Tim fez o libreto [texto da ópera] e, a partir daí, eu enviava para o Marcelo o material, e ele aprovava. Algumas dúvidas, cheguei a tirar com ele, sobre a mãe e sobre o pai e a história dele. Eu ia mandando, ele ia respondendo. Às vezes, ele ligava, e a gente foi construindo junto. Foi um trabalho bem bacana", relatou.
"A gente nem sabia, eu, pelo menos, nem sabia do filme, do lançamento, e muito menos o que ia acontecer com Ainda estou aqui, então, foi uma coincidência boa, que acabou sendo um marco bem legal esta ópera chegar neste momento", completou.
A apresentação na Praia de Copacabana, com entrada gratuita, segundo o maestro, tem relação com outra característica da OOP, que é construir projetos para incentivar a formação de plateia. "É muito importante e um marco estrear em Copacabana. O Auto [da Compadecida] foi feito em Copacabana. Acho que é extrapolar alguns limites e mostrar realmente a possibilidade da música e da ópera, da orquestra levar para estes patamares. Acho que é isso que a Orquestra de Ouro Preto tem feito", pontuou.
"Quando a gente fez o Auto da Compadecida na Praia, mais de 10 mil pessoas assistiram a uma ópera. São praticamente nove Theatro Municipal do Rio de Janeiro juntos. É um número expressivo. Imagina o público de nove teatros assistindo a uma ópera em Copacabana", comemorou, comentando o envolvimento dos presentes. "[Eles] Entenderam. Teve legenda, para saberem o que os cantores estavam cantando, mesmo em português. [Eles] Entendem a história. É muito legal quando você ensina [a acompanhar] uma ópera, com uma história que você conhece e na língua que você fala. É uma identificação quase que imediata", destacou.
Tim Rescala
O trabalho com a Orquestra Ouro Preto já é conhecido de Tim Rescala. Essa é a terceira ópera em que o compositor, regente, pianista e ator compôs as músicas e assinou o libreto, com os versos da obra. Antes, o autor de óperas, musicais e música para TV também trabalhou em Auto da Compadecida e Hilda Furacão. Além disso, fez trabalhos que uniam música de concerto e literatura em O Pequeno Príncipe, Fernão Capelo Gaivota e Amiga Música ? ópera que ainda não estreou e foi escrita por Rodrigo Toffolo, com ilustração de Ziraldo.
"Acho que tem uma riqueza enorme que ainda não foi suficientemente trabalhada com a música. A música ainda não se deu conta de que pode e deve dialogar mais com a literatura brasileira. Foi isso que a gente fez, e com enorme sucesso até o momento", disse Tim Rescala à reportagem.
Se comparada às óperas anteriores em que trabalhou com a OPP, o compositor revelou que Feliz Ano Velho foi uma tarefa bem mais difícil. "É uma introspecção. São impressões dele, em uma situação, em um desafio enorme. No livro, o tempo todo, ele vai e volta nos fatos. Começa com o acidente [sofrido por Marcelo Rubens Paiva], e ele vai narrando o que vai acontecendo e volta várias vezes à infância, relembra o que aconteceu com o pai, a juventude. Isso, em termos de narrativa de ópera, seria complicado, então, optei por uma outra coisa. Começo fazendo um flashback no momento em que ele lança o livro. Começa assim a narrativa, com um flashback dele contando desde a infância até o acidente, que termina o primeiro ato. O segundo ato é o processo dele de como lidar com isso, de superação, que eu acho ser uma coisa importante de ser mostrada", revelou Tim Rescala.
De acordo com o compositor, o diferencial desta ópera para as outras é que a introdução levou a alguns instrumentos diversos, como guitarra e bateria, por causa do universo musical do escritor.
"Aquilo que ele ouvia em termos de rock, eu absorvi para esta ópera também. E outra coisa é a participação do [compositor e pianista] Arrigo [Barnabé], que é personagem do livro", disse, acrescentando que esta foi uma oportunidade de trazer o estilo e gênero do Arrigo para homenageá-lo. "É isso que vai acontecer".
Intérpretes
A direção cênica de Julliano Mendes reforçou a parte dramática e a leveza presentes na narrativa de Feliz Ano Velho, e a montagem dialoga com diferentes gerações. No elenco estão Johny França (Marcelo Rubens Paiva), Jabez Lima (Rubens Paiva), Marília Vargas (Eunice Paiva), além de um grande corpo artístico.
Para o solista barítono Johnny França, que já está na terceira ópera com a OOP, foi importante poder trocar informações com o autor do livro, a quem vai representar.
"A maioria das pessoas que interpreto já faleceram, são pessoas que são de livros ou faleceram, e o Marcelo é o primeiro vivo. Já representei Euclides da Cunha, personagens de livros de Mário de Andrade. Ele me disse uma coisa muito pertinente: ‘Johnny, eu já vi vários Marcelos, não se preocupe, faz o seu Marcelo’. Achei super interessante e me deixou mais livre, inclusive. Eu, que tenho pai, que não conheci, interpretando Marcelo nessa ópera, mexeu muito comigo", disse.